PARA CRIMINALISTA, JOSÉ CARLOS PORTELLA, “NÚCLEO DE DESINFORMAÇÃO TINHA PAPEL CENTRAL NA TENTATIVA DE GOLPE”
Para José Carlos Portella Jr., julgamento dos réus da propaganda golpista deve refletir gravidade do ataque à democracia
Julgamento analisa papel de militares e civis na propagação de mentiras sobre as urnas eletrônicas – Gustavo Moreno/STF
Segundo Portella, a tarefa dos acusados era “gerar essa desinformação acerca da questão do processo eleitoral no Brasil, das urnas eletrônicas, para criar um cenário de caos social incutindo essa mensagem de que o processo eleitoral brasileiro era um processo viciado”. Ele lembra que o discurso de fraude nas urnas foi antecipado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) ainda antes das eleições de 2022, “como uma forma de justificar a sua derrota nas urnas e criar uma sensação perante os seus apoiadores de uma derrota injusta”.
O advogado destaca que o núcleo, formado por seis militares e um civil ligado ao Instituto Voto Legal, teve papel “de extrema relevância” na mobilização da base bolsonarista. “Como teríamos essa massa tão mobilizada e radicalizada se não fosse por uma propaganda diuturna sobre uma derrota que teria sido injusta para o bolsonarismo?”, questionou. O procurador-geral da República (PGR), Paulo Gonet, pediu nesta terça-feira (14) a condenação dos sete réus.
Portella ainda aponta que o julgamento do núcleo 1, que condenou à prisão Bolsonaro e generais como o ex-ministro Braga Netto, deve influenciar o atual processo. “Os dois núcleos estão amalgamados, existe um vínculo muito grande entre esses dois núcleos”, disse. Para ele, a desinformação foi um traço estruturante do governo Bolsonaro, manifestando-se também “na política sanitária da Covid, na questão ambiental, na cultura e na educação”.
Ao comentar a discussão sobre a dosimetria das penas no Congresso, Portella criticou tentativas de reduzir punições aos golpistas sob o argumento de pacificação. “Essa pacificação significa, na verdade, garantir a impunidade desses que realizaram esses processos de golpe”, disse.
Por fim, o advogado defendeu que a sucessão do ministro Luís Roberto Barroso no Supremo Tribunal Federal (STF) deve priorizar nomes comprometidos com os direitos trabalhistas e a democracia. “É preciso que tenhamos um ministro ou uma ministra alinhado com a defesa dos interesses da classe trabalhadora, e não com os interesses da grande burguesia, que pelo lucro vale qualquer coisa, inclusive encampar até um projeto de golpe”, pontuou.