“CRIANÇAS SÃO INTELIGENTES E CAPAZES QUANTO A GENTE”: AFIRMOU O GRUPO TIQUEQUÊ AO FALAR SOBRE CRIAR ARTE SEM INFANTILIZAR

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Diana Tatit e Wem refletem os desafios de fazer arte para a infância

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Em bate-papo com Thiago França, os integrantes do Tiquequê falaram sobre os principais desafios de produzir músicas para o público infantojuvenil, sem adotar uma estética infantilizada. “Crianças são inteligentes e são tão capazes quanto a gente”, destaca Wem, reforçando que o grupo aposta na sensibilidade e no respeito à escuta das crianças.

Desde o ano 2000, o Tiquequê busca caminhos para escapar do ambiente “adultocêntrico” que domina o universo musical brasileiro. A maioria das produções, apontam os artistas, é voltada ao público adulto. O projeto, que já soma seis discos autorais e mais de vinte singles, inclui regravações de faixas como “Alecrim Dourado” e “Sapo que não lava o pé”, sempre com novas roupagens e arranjos.

Sobrinha de Paulo Tatit, Diana conta que o Palavra Cantada — grupo criado por seu tio em parceria com Sandra Peres na década de 1990 — foi uma das principais inspirações para o Tiquequê. “Antes do Tiquequê, eu e as minhas primas fizemos um show interpretando o Palavra Cantada, que, aliás, é o trabalho precursor dessas composições para crianças”, relembra a cantora.

Apesar da leveza que o público costuma associar às produções infantis, a dupla faz questão de enfatizar que o processo criativo é exigente. “Com muito chantilly, a criança vai embora”, resume o músico, numa metáfora sobre os excessos estéticos que muitas vezes afastam o público infantil. Diana complementa: hoje, o mercado de música para crianças é cheio de “rococó, brilho e purpurina”. “Nossa preocupação é que a gente tem a infância como centro do nosso trabalho, a gente quer se comunicar com as crianças, mas a nossa música é para todas as pessoas, tendo a criança como centro”, ressalta o músico.

Desafio de gente grande

Além da missão de criar músicas que encantem as crianças, a dupla defende o poder da arte como instrumento de conscientização. “Pensar a infância em primeiro plano já é um posicionamento político. É uma categoria social minoritária, com menos acesso a direitos”, reforça Diana.

Mesmo com o reconhecimento nacional, os dois relatam as dificuldades de realizar turnês pelo país. “A gente vem batalhando para levar o Tiquequê para as outras cidades, mas não tem ninguém, não tem nenhum contratante”, lamenta Wem. Apesar do esforço, o grupo segue apostando em produções independentes e turnês autogestionadas. “A gente pensa o espetáculo para todas as idades, para a família inteira”, completa o músico.

Diana, por sua vez, chama atenção para o destino dos poucos recursos voltados à cultura infantil. Segundo ela, parte da verba ainda é direcionada a produções com “bonecos de cabeção”, em detrimento de projetos autorais e artísticos. Essa lógica, explica, “limita apresentações de grupos que independem da figura de personagens populares em animações ou outras mídias”.

“Essa falta de uma cena bem estruturada faz com que você não consiga criar uma cultura dentre as famílias de levarem os seus filhos ao teatro”, analisa Diana.

Mesmo enfrentando a escassez de incentivos e “nenhuma oferta cultural”, como aponta Wem, o Tiquequê segue criando. Entre um desafio e outro, o grupo reafirma o propósito que sustenta sua trajetória: a arte como alimento da infância. E, como lembra Diana, “no universo da poesia, é a poesia que tem que reinar”.

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