ISRAEL SE RECUSA A LIBERTAR AS PRINCIPAIS LIDERANÇAS PALESTINAS DURANTE O ACORDO DE TROCA DE PRISIONEIROS
Segundo o acordo de cessar-fogo firmado entre o regime de “israel” e o Hamas nessa semana, os israelenses apreendidos pela resistência serão libertados em troca de 2.000 palestinos trancafiados nas prisões israelenses — 1.700 dos quais são homens, mulheres e crianças sequestrados de Gaza e mantidos sem acusação.
Apenas 60 detentos do Hamas serão libertados, segundo a imprensa israelense. A lista de 195 militantes do Hamas foi finalizada, mas apenas 60 serão libertados, diz a Walla, citada pelo Jerusalem Post.
A lista final de prisioneiros palestinos sequestrados para dentro das masmorras sionistas a serem libertados inclui apenas aqueles que cumprem penas de prisão perpétua. Os nomes ainda não foram revelados.
O regime sionista tem manobrado para impedir a soltura das principais lideranças da resistência palestina, sabotando os acordos a fim de prejudicar as possibilidades de reorganização política do povo palestino. Entre as lideranças que “israel” busca manter presas estão Marwan Barghouti (Fatah), Ahmad Saadat (FPLP), Abdullah Barghouti (Hamas), Hassan Salameh (Hamas), Ibrahim Hamed (Hamas) e Abbas al-Sayed (Hamas).
O gabinete do primeiro-ministro israelense removeu unilateralmente o nome de Marwan Barghouti da lista de trocas de prisioneiros no último minuto, pondo em risco a implementação do acordo de cessar-fogo em Gaza, disse à Middle East Eye uma fonte próxima ao proeminente prisioneiro palestino.
Barghouti, que é a figura política palestina mais popular segundo pesquisas, era um dos nomes mais valiosos que poderiam ser trocados pelos 48 israelenses apreendidos em Gaza.
Uma fonte próxima a Barghouti e à sua família disse ao MEE que os mediadores — incluindo o enviado dos EUA Steve Witkoff — aprovaram uma lista de prisioneiros que incluía Barghouti. No entanto, na quinta-feira, um porta-voz israelense disse a repórteres que “neste momento ele não fará parte desta libertação”.
Ahmed Saadat, líder da Frente Popular para a Libertação da Palestina, Hassan Salama, um alto funcionário do Hamas, e Abdullah Barghouti, um líder do Hamas sem relação com Marwan, também tiveram seus nomes retirados da lista.
A retirada deles causa problemas potenciais para o acordo de cessar-fogo, enquanto os negociadores pressionam para que seus nomes sejam restaurados. Diz-se que a libertação de Barghouti é uma linha vermelha para o ministro da Segurança Nacional de “israel”, Itamar Ben Gvir, que poderia pôr em perigo o governo de Benjamin Netanyahu se retirasse seus parlamentares da coalizão no poder.
No entanto, a esposa de Barghouti permanece no Cairo conversando junto aos negociadores para garantir que seu marido seja incluído na troca de prisioneiros.
Um funcionário do Hamas disse à Al Jazeera que os mediadores estão trabalhando para alcançar um acordo sobre os prisioneiros a serem libertados. “Realizaremos um diálogo nacional com as organizações palestinas para alinhar nossa posição quanto à resposta de ‘israel’ aos nomes dos prisioneiros”, disse o funcionário.
Egito e Qatar pediram sua libertação
Em janeiro, Egito e Qatar, juntamente com o Hamas, estavam usando “todos os meios disponíveis” para assegurar a libertação de Barghouti como parte de um acordo de cessar-fogo em Gaza.
Uma fonte próxima às negociações disse ao MEE que seu nome estava entre as principais figuras que seriam trocadas pelos israelenses apreendidos em 7 de outubro de 2023.
Fontes disseram que o emir do Qatar, Sheikh Tamim bin Hamad Al Thani, e o major-general Hassan Mahmoud Rashad, diretor dos Serviços Gerais de Inteligência do Egito, intervieram pessoalmente para pressionar pela sua libertação.
No entanto, uma fonte disse anteriormente ao MEE que altos funcionários da AP queriam que ele fosse excluído de qualquer troca, temendo que isso pudesse ameaçar a liderança do presidente palestino Mahmoud Abbas devido à sua popularidade e por ser uma figura unificadora da resistência.
“israel” não quer liberar os corpos dos irmãos Sinwar
Além dos prisioneiros vivos, “israel” se recusa a devolver os corpos de dois expoentes da resistência.
A Rádio do Exército sionista, citando uma fonte de segurança, informou que o regime não entregará os corpos de Yahya Sinwar, chefe do Birô Político do Hamas e mentor da operação de retaliação de 7 de outubro, nem de seu irmão Mohammed Sinwar, um alto dirigente do Hamas, como parte do atual acordo.
Em relação à troca de prisioneiros, o porta-voz do Hamas, Hazem Qassem, disse à Al Jazeera na quinta-feira que “israel” está tentando “manipular as datas, as listas e algumas das etapas acordadas”.
“A ocupação deve cumprir o que foi acordado, e pedimos aos mediadores que exerçam pressão sobre ela”, acrescentou Qassem.
Outro dirigente do Hamas, Mahmoud Mardawi, afirmou que Netanyahu “está tentando explodir o acordo de cessar-fogo” ao “recuar nas listas de prisioneiros numa tentativa de sabotar os entendimentos”.
Isso indica que Netanyahu também está tentando sabotar outros aspectos do cessar-fogo, incluindo questões relacionadas à retirada, à reconstrução e à reabertura das passagens fronteiriças, acrescentou Mardawi.
Conheça o perfil dos líderes da resistência que continuam presos nas masmorras sionistas e que “israel” não quer liberar:
Marwan Barghouti
Barghouti é o nome de maior destaque sendo negociado no acordo de troca de prisioneiros.
Atualmente, ele é a figura política palestina mais popular, de acordo com diversas pesquisas.
Nascido na cidade de Kobar, na Cisjordânia, em 1962, tornou-se organizador estudantil na Universidade de Birzeit no início da década de 1980, ingressando no Fatah.
Em 1987, foi deportado por “israel” para a Jordânia, de onde passou a integrar a liderança do Fatah no exterior. Somente após os Acordos de Oslo, assinados em 1993, Barghouti retornou à Palestina.
No ano seguinte, tornou-se secretário-geral do Fatah e, em 1996, foi eleito para o Conselho Nacional Palestino.
Quando a Brigada dos Mártires de Al-Aqsa, braço armado do Fatah, realizou diversas operações de autodefesa durante a Segunda Intifada, em março de 2002, “israel” prendeu Barghouti e o acusou de organizá-las.
Atualmente, ele cumpre cinco penas de prisão perpétua, após ser condenado pela ocupação em 2004 por várias acusações de assassinato — acusações que ele sempre negou. Encontra-se em confinamento solitário desde que o Holocausto Palestino em Gaza começou em outubro de 2023.
Ele não apresentou defesa em seu julgamento, recusando-se a reconhecer a jurisdição israelense sobre os palestinos na Cisjordânia.
Após o anúncio de sua condenação, Barghouti declarou, em hebraico: “Este é um tribunal de ocupação que eu não reconheço … Virá o dia em que vocês se envergonharão dessas acusações … Não tenho mais ligação com essas acusações do que vocês, os juízes.”
Barghouti escreveu um livro enquanto estava preso, no qual descreve ter sido torturado por seus guardas israelenses, incluindo ter sido forçado a sentar-se numa cadeira com pregos a perfurar suas costas por horas a fio.
Pesquisas de opinião sugerem que Barghouti, de 66 anos, seria praticamente um candidato certo à presidência palestina se as eleições fossem realizadas e ele pudesse concorrer.
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Marwan Barghouti retornando para a prisão após comparecer perante um tribunal de Tel Aviv, em setembro de 2003 (Tal Cohen/AFP)
Ahmad Saadat
Saadat é secretário-geral da Frente Popular para a Libertação da Palestina (FPLP) há mais de 24 anos.
Nascido em 1953 em al-Bireh, perto de Ramallah, na Cisjordânia, ingressou na FPLP poucos anos após a fundação do partido, no final da década de 1960.
Ascendeu nas fileiras do partido, sendo repetidamente preso pelas autoridades israelenses.
Em agosto de 2001, tornou-se líder da FPLP depois que “israel” assassinou seu antecessor, Abu Ali Mustafa, usando foguetes disparados de dois helicópteros Apache.
A milícia armada da FPLP respondeu ao assassinato matando Rehavam Zeevi, então ministro israelense do Turismo, de extrema-direita. “israel” acusou Saadat de ser o mentor da retaliação contra Zeevi.
As forças da AP começaram a prender membros da FPLP após o ataque e detiveram Saadat.
Da prisão da AP, Saadat concorreu às eleições palestinas de 2006 e foi eleito membro do Conselho Nacional Palestino.
Em março daquele ano, as forças da ocupação invadiram a prisão de Jericó, onde ele estava detido, e sequestraram Saadat após um confronto que durou horas.
Dois anos depois, ele foi condenado a 30 anos de prisão, acusado de terrorismo e de responsabilidade por operações realizadas por membros da FPLP, incluindo o assassinato de Zeevi.
Ele tem sido frequentemente mantido em confinamento solitário e lançou diversas greves de fome enquanto esteve sob custódia.
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Ahmed Saadat, líder da FPLP, é levado pela polícia de fronteira israelense ao tribunal militar de Ofer, na Cisjordânia ocupada, em 27 de março de 2006 (AFP/Menahem Kahana)
Abdullah Barghout
Abdullah Barghouti cumpre a mais longa pena de prisão entre todos os detentos atualmente sob custódia israelense.
Embora sua família seja originária da vila de Beit Rima, perto de Ramallah, Barghouti nasceu no Kuwait em 1972 e não tem relação com Marwan.
Mudou-se para a Cisjordânia no final da década de 1990 e logo se envolveu com a organização militar do Hamas, as Brigadas al-Qassam.
Era amplamente conhecido como um dos principais fabricantes de explosivos do Hamas e foi acusado de envolvimento em uma série de operações no início dos anos 2000 que vitimaram dezenas de apoiadores da ocupação criminosa.
Foi preso pelo Shin Bet em março de 2003. Posteriormente, Barghouti foi condenado a 67 penas de prisão perpétua, além de 5.200 anos adicionais.
No início deste ano, o MEE informou que ele havia sofrido graves abusos físicos na prisão por parte de guardas israelenses na prisão de Gilboa.
Sua filha afirmou que ele foi torturado por horas com barras de ferro e cintos, o que deixou marcas físicas em seu corpo e causou múltiplas fraturas.
Passou a maior parte dos 23 anos de prisão em confinamento solitário.
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Abdullah Barghouti é escoltado pela polícia israelense até o Tribunal de Magistrados para uma audiência em Jerusalém em 2012 (AFP/Menahem Kahana)
Hassan Salameh
Assim como Abdullah Barghouti, outro prisioneiro cumprindo uma pena extremamente longa é Hassan Salameh.
Nascido no campo de refugiados de Khan Younis, no sul de Gaza, em 1971, envolveu-se nos movimentos de resistência palestinos após o início da Primeira Intifada, em 1987.
Tornou-se uma figura de destaque nas Brigadas al-Qassam e, em 1996, foi condenado pela ocupação por orquestrar uma série de operações de retaliação que resultaram em mortes de cúmplices da ditadura.
Salameh afirmou que os ataques foram uma resposta ao assassinato, por “israel”, do militante do Hamas Yahya Ayyash, ocorrido no início daquele ano.
Foi condenado a 48 penas de prisão perpétua, e seu nome tem sido frequentemente mencionado em discussões desde o acordo de troca de prisioneiros de Gilad Shalit, em 2011.
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Hassan Salameh comparece ao tribunal militar israelense antes de seu veredicto em Beit El, na Cisjordânia ocupada, em 7 de julho de 1997 (Menahem Kahana/AFP)
Ibrahim Hamed
Ibrahim Hamed cumpre atualmente 54 penas de prisão perpétua em uma masmorra israelense.
Nascido em 1965 em Silwad, perto de Ramallah, formou-se na Universidade de Birzeit e posteriormente se tornou ativo nas Brigadas al-Qassam.
Após “israel” matar os irmãos e comandantes do Hamas Imad e Adel Awadallah em 1998, Hamed tornou-se chefe do braço armado do partido na Cisjordânia.
O regime israelenses o consideram responsável por uma série de operações de autodefesa durante a Segunda Intifada, no início dos anos 2000, que resultaram em mortes.
Ele esteve na lista dos mais procurados pela ditadura sionista por oito anos, até ser preso em 2006.
Em 2012, foi condenado a 54 penas de prisão perpétua.
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Ibrahim Hamed chega ao banco dos réus no tribunal militar de Ofer, perto da cidade de Ramallah, na Cisjordânia, em 1º de julho de 2012 (AFP/Ahmad Gharabli)
Abbas al-Sayed
Abbas al-Sayed está preso em campos de concentração israelenses há mais de 23 anos.
Nascido em Tulkarm, na Cisjordânia, em 1966, também se tornou uma figura proeminente na organização armada do Hamas na década de 1990.
Foi preso em maio de 2002 e posteriormente condenado por um tribunal israelense a 35 penas de prisão perpétua e mais 100 anos adicionais por organizar operações de autodefesa.
Durante seu tempo na prisão, liderou greves de fome e foi visto como um dos principais organizadores entre os prisioneiros palestinos.
Desde outubro de 2023, encontra-se em confinamento solitário, e grupos de prisioneiros palestinos afirmam que ele tem sido submetido a espancamentos e negligência médica.
* Fepal, com Middle East Eye, The Cradle e Middle East Monitor.