PATRÍCIA FAERMANN: BOLSONARO NÃO IMPEDIRÁ LEVANTE DE BOLSONARISTAS EM DERROTA NAS ELEIÇÕES

Se o TSE não aceitar propostas das Forças Armadas, não garantirá eleições, indicou Flávio Bolsonaro em tom de ameaças
Flávio Bolsonaro, o filho mais velho do presidente e o coordenador da campanha de reeleição de Jair Bolsonaro, disse que não poderá impedir uma revolta de bolsonaristas caso o mandatário não vença as eleições 2022.
A fala foi dada em entrevista ao Estadão, divulgada nesta quinta (30). Segundo Flávio, o levante que ocorreu no Capitólio, nos Estados Unidos, com a derrota de Donald Trump, não foi culpa do ex-presidente do país.
EUA: pessoas se indignaram com eleições
“Como a gente tem controle sobre isso? No meu ponto de vista, o Trump não tinha ingerência, não mandou ninguém para lá [invadir o Capitólio]. As pessoas acompanharam os problemas no sistema eleitoral americano, se indignaram e fizeram o que fizeram.”
O coordenador de campanha do presidente tampouco respondeu se Bolsonaro aceitará a derrota. “O presidente vai aceitar o resultado da eleição?”, perguntou o repórter Felipe Frazão.
“O presidente pede uma eleição segura e transparente, era o que o TSE deveria fazer por obrigação. Por que não atende às sugestões feitas pelo Exército se eles apontaram que existem vulnerabilidades e deram soluções? A bola está com o TSE”, respondeu Flávio.
‘Via comandante do Exército‘
Ainda, segundo o senador e filho do presidente, se o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) não atender aos pedidos das Forças Armadas, “talvez via comandante do Exército, via ministro da Defesa” responderá que “não pode garantir que as eleições vão ser seguras”.
Sem dar mais detalhes sobre como seria esse posicionamento das Forças Armadas, a resposta foi feita em tom de ameaça.
O GGN está produzindo um documentário sobre como o avanço da ultradireita mundial ameaça as eleições do Brasil em 2022, com Jair Bolsonaro incitando discursos de ódio e contra o sistema das urnas.
A referência do senador são as sugestões enviadas pelos militares ao TSE, algumas delas já acatadas, outras impossíveis de serem aplicadas ainda neste pleito e outras negadas, não por “resistência”, conforme caracterizado por Flávio, mas por falta de embasamento e inviabilidade.
O discurso de Jair Bolsonaro, contudo, vai além das sugestões dadas pelos militares. O mandatário quer que as eleições sejam em papel, o que já comprovadamente é suscetível de fraudes, e não pelas urnas eletrônicas.
Criar instabilidade
O filho 01 de Bolsonaro admitiu que a defesa do presidente e dos militares para mudar o sistema eleitoral incitam instabilidade junto à população.
“Essa resistência do TSE em fazer o processo mais seguro e transparente obviamente vai trazer uma instabilidade. E a gente não tem controle sobre isso. Uma parte considerável da opinião pública não acredita no sistema de urnas eletrônicas”, continuou.
Não foi culpa de Trump
Ainda em comparação aos EUA, quando apoiadores de Trump invadiram o Capitólio, em janeiro do ano passado, durante a contagem de votos do Colégio Eleitoral que deu vitória a Joe Biden, deixando 5 mortos e centenas de feridos, defendeu Trump e voltou ao tom de ameaça:
“Não teve [no episódio do Capitólio] um comando do presidente [Donald Trump] e isso jamais vai acontecer por parte do presidente Bolsonaro. Ele se desgasta. Por isso, desde agora, ele insiste para que as eleições ocorram sem o manto da desconfiança.”
Quem dar golpe na democracia?
“Se for com o sistema que está aí, e o presidente tiver resultado negativo, ele reconhece a eleição?”, voltou a questionar o repórter do Estadão.
E novamente fugindo da resposta, Flávio disse: “Alguns avanços o TSE já fez, que, se forem implementados, dificultam a possibilidade de fraude. Se tem mais coisas que podem ser feitas para diminuir, por que não fazer? Quem quer dar golpe na democracia, Bolsonaro ou quem está resistindo a atender a sugestões técnicas?”.