PREVISÕES DE MÃE SARA PARA O ANO DE 2018
Como ocorre todo fim de ano, a Associação Filosofia Itinerante (AFIN), dado seu engajamento com a cultura afrosófica, procura realizar um diálogo com algum representante das religiões afro para ouvir algumas de suas previsões para o ano que se mostra no umbral do tempo pulsado como corpo cronológico. Este ano a AFIN realizou seu compromisso de enunciação da inteligência coletiva dialogando com a insigne, talentosa, engajada, e militante Mãe Sara.
Mãe Sara, além de comprometida com sua enunciação religiosa, é juíza com formação singular. Não é apenas provida da cultura jurídica, mas profunda conhecedora dos corpos que compõem o discurso jurídico, seu objetivo e sua forma de amestrar seus mestres propagadores deste discurso. Seus estudos lhe possibilitaram conhecer os textos sagrados da canônica medieval que imbricado com o Direito Romano criaram a ilusão da Lei como corpo Teológico-Jurídico responsável pela censura que procura se mostrar e se fazer amada por todos como Verdade da Lei. E que para isso recorreu à criação dos textos, as glosas dos textos, e os comentários dos textos pelos mestres propagadores da ordem dogmática. O Poder que domestica, imprime a norma e se quer obedecido e amado.
Como ilustre conhecedora da psicanalise lacaniana, entendeu que muitos dos agentes do Poder Judiciário não são nada mais do que enunciadores-sujeitados a ilusão da ordem dogmática do Poder mistificado pela força da escolástica jurídica, força de sedução, ordenação, imposição e cumprimento da ordem como corpo fálico-narcisista. Em outras palavras: o juiz não se encontra em seu lugar, mas no lugar do Outro, a Lei, que se formou nele pela força da sedução do Nome-do-Pai.
Desta forma, a instituição jurídica surge para o juiz como mecanismo de defesa de sua consciência negada pelo desejo do Outro como lei censuradora. Sendo assim, o juiz não tem desejo e, consequentemente, lugar próprio, posto que se encontra aprisionado no desejo e no lugar do Outro como lei.
Esse estudo feito pela Mãe Sara lhe trouxe muitos inimigos invejosos, já que ela colocou a Lei em sua ferida: servir para alguns agentes do judiciário usá-la como defesa para seus elementos psicóticos, porque o julgamento realizado por um juiz-capturado pela ordem dogmática, não reflete o corpo do Direito, mas a transferência projetiva de sua submissão e alienação institucional. E pior, para os prisioneiros do desejo do pontífice-jurídico, o amor do sensor, Mãe Sara tem uma tese inquietante e deformadora chamada o Decreto de Graciano, a mais lúcida personagem que analisou os juízos teológicos-jurídicos medievais.
Apoiada nesses saberes, Mãe Sara criou o projeto psíquico-jurídico universitário, A Lei e Seu Amor de Punição com o objetivo de que todos os alunos do Curso de Direito sejam obrigados a participar para que conheçam os elementos psíquicos que constituem seus egos e que os impulsionaram a procurar o Curso de Direito. Assim, ao tomarem ciência de que a busca do curso é sintoma das censuras sofridas quando crianças, que lhes deixaram presos no desejo de seus pais confundido como Lei Civil, venham a mudar da decisão profissional antes de se tornarem corpus estranhos à Justiça, como se observa claramente no Brasil.
Mãe Sara, como sempre alegre, atenciosa e colaborativa, recebeu os membros da AFIN, em sua Casa expressando sua franca singularidade. Apesar de um pouco cansada, havia chegado da Itália depois de participar de um Congresso de Psiquiatria sobre a Política da Psiquiatria de Franco Basaglia na Luta Antimanicomial, foi toda dedicação, carinho e inteligência. Vamos à entrevista.
AFIN – Mãe Sara, vamos começar perguntando sobre um comportamento que vem de forma violenta, tomando conta do Brasil. Nas suas previsões, o nazifascismo ainda vai continuar em ação.
Mãe Sara (Sorrindo) – Em ação, não!
AFIN (Contente) – Bela previsão!
MS – Ele não vai continuar em ação, porque ele não é ação, é reação. Daí seu corpo reaça. Esse tipo, que o filósofo Nietzsche chamava de degenerado ou atrasado, sempre existiu. O que ocorre é que com a sociedade virtual, a internet, parece que ele está dominando, mas não está. Ele não tem vida para existir em uma democracia que é a sociedade da vida produzida pelos homens e mulheres livres, como diz o filósofo Spinoza. Como que ele pode viver se viver é revelar o ontológico do Ser-Mudivivente. O nazifascista se situa sob a ordem da zona escura. Não tem luz. Por isso ele se afasta de tudo que tem luz. A democracia é regime da luz dos sentidos, da cognição da ética. Nada que serve ao nazifascista.
AFIN – Quer dizer que nenhum candidato desse tipo tem chance nas eleições de 2018?
MS – Nenhum. A maioria do povo brasileiro é psiquicamente saudável. É detentor de suas faculdades psíquicas, sensoriais, intelectuais e éticas. Não quer o mal para o Brasil.
AFIN – E o golpe vai continuar?
MS – Não!
AFIN (Eufórica) – Forte previsão!
MS – Ele não vai continuar, porque o que continua é o que tem movimento. O golpe não tem movimento é pura paralisação. Todos os seus personagens são tipos imóveis. Aí o ódio contra a democracia. Vejam as destruições que ele está realizando. Direitos trabalhistas, Previdência Social, educação, saúde, todos os corpos imprescindíveis às políticas públicas que vinha sendo praticada pelos governos Lula e Dilma.
AFIN (Preocupada) – Então vamos ter que suportar o ilegítimo mais uns meses?
MS – Não!
AFIN – Não? Então, ele vai cair?
MS – Não.
AFIN (Surpresa) – Não vai cair?
MS – Não, porque vocês sabem que pela Lei de Newton, só cai o que tem peso para realizar a gravidade. Que é movimento. Ele não tem peso e nem movimento. O que vai acontecer é que o povo brasileiro composto por todas suas vozes, seguimentos comunitários, vai testemunhar seu trabalho de produção da democracia levando o golpe ao desmanche total. Por exemplo, o que vocês da AFIN vêm realizando são produções de partículas políticas que estão sendo compostas por outras partículas políticas que constituirão o corpo democrático em todo o Brasil.
AFIN – Mãe Sara, esse ano é ano de Copa do Mundo e o torcedor brasileiro encontra-se interessado em saber do resultado da disputa. Então, lhe perguntamos: A Seleção Brasileira vai se sagrar campeã? Hexa?
MS (Gargalhando) – Não! Sem chance!
AFIN – Não!? Mas dizem que ela é uma boa equipe com um técnico talentoso? Por exemplo, tem o Neymar que dizem ser um craque.
MS – Neymar não é craque nem aqui nem em Cremildolândia. Neymar é um loroteiro de pelada. Um produto de marketing. Qualquer perna de pau sabe disso. Além do mais, o técnico não é talentoso. Só conseguiu ser campeão pelo Coringão e classificar a seleção em primeiro lugar, porque todos os adversários estavam passando por períodos conturbados. E mais, é reacionário e alienado. Falou contra a corrupção e logo em seguida aceitou o convite para ser técnico da seleção enquanto os personagens da CBF estavam sendo presos por corrupção.
AFIN – Uma pergunta provocativa. Neymar ou Cristiano Ronaldo?
MS – Messi.
AFIN – Falando sobre corrupção no futebol, a Globo vai dançar no Fifagate?
MS – A Globo não dança.
AFIN (Confusa) – Não dança!?
MS – Não dança, porque só dança quem é livre, como diz Nietzsche. A Globo é escrava do capital norte-americano. Onde há a força do capital norte-americano, lá ela se encontra. Olha o caso do golpe. O poder da Globo é uma ilusão alimentada por alguns incautos e alguns globotários. A Globo se encontra em estado de estase: com diminuição de sangue. A internet foi seu coquetel Molotov. 2018 será mais uma prova de sua amenização. Se a Globo tivesse poder o Lula nunca teria sido eleito.
AFIN – E essa parte do judiciário vai continuar desfilando glamour na mídia alucinante?
MS – Não. Como a Globo é mãe fálica-narcisista da comunicação, e é onde essa gente se debruça em busca de exaltação e proteção, e estando a Globo em estado de estase, a essa parte do judiciário vai desaparecer e em seu lugar não vai ficar nenhum traço mnemônico. Nada de memória. Não podia ser de outro jeito. O que não é história “desmancha no ar”, como diz o jovem e o velho Marx.
AFIN – Falando em Marx, vamos deslocar uns rolês pelo Amazonas. Ano que tem eleições e o atual governador, que no passado se autoproclamava comunista, como forma de glamour, vem marketizando sua gestão com tom de candidatura. Em propaganda diz que 2017 foi um ano ruim para o Amazonas, mas em 2018 o ‘amor’ vai vencer. Qual a sua previsão para essas eleições aqui.
MS – Como vocês sabem profecia significar perceber o futuro, mas em sua forma boa. No entanto, o que eu vejo não é nada bom em termos de governança. Eu vejo que os candidatos ao governo serão, em sua maioria, os mesmos que sempre formaram o grupo do atraso do Amazonas. O grupo que jamais foi contemporâneo do desenvolvimento e humanização da sociedade amazonense. São sempre os mesmos. Simulam antagonismos, mas são gastronômicos parceiros antidemocráticos. Exemplo, o governo que a propaganda se refere como governo ruim faz parte do mesmo grupo que atrasa o Amazonas há mais de três décadas. O governo atual, que promete o bom para 2018, passou 12 anos no poder e não produziu qualquer projeto de economia, agricultura, pecuária, saúde, educação, entretenimento, que pudesse ser celebrado como necessariamente humano ao povo amazonense. Portanto, se houver um candidato verdadeiramente democrático, o atual governo não se reelege.
AFIN – E os deputados da bancada do Amazonas que votaram a favor do golpe, serão eleitos?
MS (Sorrindo) – A maioria vai para o balatal. Não tem talvez. Os que serão reeleitos serão reeleitos em função de alguns vícios que essas eleições ainda possibilitam como chantagem, ameaça, compra de votos, etc. Mas o povo em sua maioria encontra-se atento.
AFIN – E em relação aos deputados estaduais?
MS – Vai ser similar. Muitos não serão reeleitos. Mesmo com apoio de igrejas que servem de chantagem mística ao eleitor medroso, às lideranças comunitárias lambais, e até alguns pais e mães de santos apaniguados desses governantes. O povo amazonense sabe quem são os deputados capachos dos governadores. Os que legislam em benefício de seus grupos contra os direitos da sociedade.
AFIN – E Manaus vai continuar nessa mesma condição de abandono?
MS – Vai. Na verdade, Manaus tem em sua história péssimas administrações. A maioria dos prefeitos de Manaus sempre apresentou uma consciência colonizada, reacionária e provinciana. Essa gente sempre administrou para seus pares.
AFIN – O que significa que os buracos vão continuar do mesmo jeito?
MS – Não!
AFIN – Não!?
MS – Não! Vai piorar! Parece que os prefeitos acreditam que Manaus sem buracos não é cidade.
AFIN – E o transporte coletivo?
MS – Continuará abandonado e a população usuária sofrendo.
AFIN – E a senhora não vislumbra nenhuma situação boa para Manaus.
MS – Vislumbro.
AFIN – Ainda bem, porque a nossa angústia urbana estava aumentando.
MS – Eu vislumbro que o povo vai ficar cada vez mais consciente de seus direitos e se afastar do analfabetismo político. O povo manauara de 2018 não será o reflexo da indiferença. Essa mudança já se viu na eleição para governador tampão que ocorreu em agosto desse ano. Houve uma grande abstenção como reflexo pedagógico do eleitor que não queria nenhum dos candidatos reacionários. E em Manaus, a prova da mudança de consciência se deu com a votação do deputado Zé Ricardo do PT que bateu velhas caricaturas alienadas das direitas. Na verdade, em virtude da quantidade de eleitores que não votaram, era para ter outra eleição. Ou melhor, o Amazonas ficar até o ano que adentra sem governador, pois seria melhor para o povo. O povo mesmo saberia muito bem como administrar o estado.
AFIN – Saltando para o Sudeste. Dilma vai ser eleita senadora por Minas Gerais?
MS – Sem sombras de dúvidas. O eleitor mineiro não vai querer ser enganado novamente por Aécio ou outros semelhantes.
AFIN – E Lula?
MS – Isso não é pergunta que a AFIN faça. Claro que não tem para ninguém. É Lula e estamos conversados. Se o povo quer não tem outro querer. Lula é a superioridade sensível, intelectível e ética da democracia brasileira. Nenhum burguês se aproxima dele, porque o povo não permite. Nem Moro, nem, Globo, nem a força opressora do Estado norte-americano pode paralisar e oprimir o desejo do povo que quer existir em seu lugar e não no desejo de outro que lhe aliena.
AFIN – E se condenarem Lula?
MS – Ninguém tem poder democrático, inteligência e ética para condená-lo. Ainda mais quando o povo brasileiro sabe que ele não cometeu nenhum crime. Por essa realidade, “eleição sem Lula é fraude”. Ou observando as enunciações psicanalistas: eleição sem Lula é Freud. É sintoma de exacerbação megalomaníaca narcisista que não tem nada a ver com democracia.
AFIN – Quer dizer então, vamos à vitória!
MS – Não! Vamos à vitória não. Já somos a vitória.
Depois da entrevista Mãe Sara serviu aos afinados umas doses da famosa aguardente de São Benedito regada com tira gosto de cajá. Loucura. A parada só parou quando o galo cantou. É mole?
Para todos: Saravá meu Pai Xangô! Meu Orixá!