FIM DO ESSENCIALISMO BINÁRIO DA OEA NÃO DEIXA CUBA LIVRE

A suspensão ontem (03) da resolução que expulsou Cuba da Organização dos Estados Americanos (OEA) parece encerrar no Ocidente um capítulo do maniqueísmo da soberania moderna (Toni Negri e Michael Hardt) que vinha desde, e mesmo antes, o período colonial separando, binariamente, colonizador-colonizado, branco-negro, capitalista-comunista. Mas, ao contrário, pode ser apenas mais uma armadilha para a revolucionária ilha.

Comandada pelos Estados Unidos, a principal acusação da OEA para excluir Cuba, em 1962, durante a Guerra Fria, a de receber ajuda, inclusive militar, da ex-União Soviética, era na verdade uma forma de minar a perseverança da pequena ilha desde quando Fidel, Che, Raúl, entre tantos, derrubaram o ditador Batista, que transformara a ilha numa colônia de férias americana , em tentar permanecer fora da relação dominador-dominado, que permitia ao então 1º mundo explorar o 3º mundo latinoamericano, principalmente através de implantação de ditaduras.

Outra acusação, de que Cuba era, e é, uma ditadura de partido único, cai por terra quando se sabe que a diferença entre um partido e vários muitas vezes não é uma diferença real. Em um único partido pode haver debates, enquanto que muitas vezes, como pode ser percebido antes e depois ditaduras na América do Sul, a corrupção pode estar generalizada. O que se sabe é que, se as eleições em Cuba não são as mais democráticas do mundo, é uma das onde se diz ter as menores possibilidades de fraudes.

Muito depois que a Guerra Fria esfriou de vez, Cuba, com todo o peso do embargo econômico, ficou conhecida por ter a melhor medicina do mundo, por ter erradicado o analfabetismo e ter um dos melhores sistemas de ensino do mundo. Mas, com a acusação de extermínio por Fidel Castro aos inimigos do regime, o embargo dos norte-americanos e seus aliados continuava, com os Estados Unidos gastando somente em propaganda contra o governo cubano mais do que o PIB de Cuba. E, mesmo depois de Raúl Castro assumir a presidência e iniciar um processo de “democratização” mais ao gosto Ocidental globalizado, absurdamente, os Estados Unidos continuaram contra a suspensão da resolução, até que foi completamente vencido pelos outros 33 países que compõem a OEA.

Celso Amorim diz que “a visão dos EUA sobre a América Latina mudou” e o chanceler argentino elogiou seu “renovado espírito de multilateralismo”. Mas ambos estão apenas utilizando estratégia de discurso-práxis democrática, pois sabem que por traz dessa aceitação das diferenças está a sanha capitalista em, finalmente atingindo o sonhado totalitarismo, misturar todas elas em seu proveito.

Por isso Lula é bem lúcio quando diz que foi “uma vitória da América Latina”, mas deixa bem claro sua desconfiança: “Não sei nem se Cuba quer voltar para a OEA. Eles podem não querer”.

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