VÁRIAS CATEGORIAS SE ENCONTRAM EM MANHÃ DE REIVINDICAÇÕES NA CMM
Ontem se reuniram na Câmara Municipal de Manaus (CMM) para protestar e exigir direitos nada menos do que três categorias diferentes: os taxistas, os kombistas e os estudantes.
PROMESSAS NÃO-CUMPRIDAS AOS TAXISTAS
Os taxistas, que já haviam realizado algumas manifestações pela cidade, vieram reivindicar vários pontos, segundo eles promessas de campanha do prefeito Amazonino cassado. Entre essas reivindicações, está a de que a Prefeitura faça fiscalizações:
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“contra os transportes ilegais e que seja imediata a retirada dos kombeiros e todas as demais cooperativas irregulares”;
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“que delimita a atuação dos alternativos e sua área de atuação”;
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“aos transportes executivos, que atualmente circulam pela cidade e não obedecem e não obedecem aos pontos de parada”;
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“que seja proibida a atuação de moto-taxistas, alternativos e executivos, frente às principais casas de shows e em grandes eventos realizados no Centro de Convenções (Sambódromo).
À tarde, os taxistas ainda fizeram duas manifestações em grandes vias de Manaus, provocando grandes engarrafamentos na cidade.
Segundo os taxistas, a imediata retirada das kombis-lotação da zona Norte, tal qual tinha afirmado o prefeito cassado, não ocorreram e as kombis estavam transitando livremente. Segundo eles, se estas reivindicações não forem sanadas, na próxima segunda-feira estarão fazendo protestos ainda maiores e duradouros.
PROMESSAS NÃO-CUMPRIDAS AOS KOMBISTAS
Os kombistas da Cooptrazon, que já vinham fazendo manifestações desde a quinta-feira passada, quando passaram o dia todo parados em frente à Prefeitura e não conseguiram adentrar, embora tenham tentado até sob a forma de invasão, hoje não compareceram à Câmara mais para acompanhar o posicionamento da casa ante a presença dos taxistas.
Eles afirmam que as kombis-lotação foram cadastradas, constando inclusive na Prefeitura esse cadastramento. Afirmam que não estão extrapolando, e utilizam o discurso de que são pais de família que também precisam fazer sobreviver suas famílias. O que levou estudantes a afirmarem, ao ver uma conversa numa roda, que reunia ao mesmo tempo os taxistas e os kombistas, que ali a questão era entre pais de família, e que fora uma vilania do prefeito cassado ao prometer uma coisa para um e o contrário ao outro.
Os kombistas continuam a alardear que, caso seja cumprido o decreto de extinção do serviço, entrarão no Ministério Público com denúncia ao prefeito Amazonino cassado pelas promessas não cumpridas à categoria e de utilizá-los, inclusive, para transporte de eleitores, o que se apresenta como crime eleitoral.
A DESCONSTRUÇÃO DAS PROMESSAS PELOS ESTUDANTES
Os estudantes não foram cobrar na CMM promessas feitas por Amazonino. Ao contrário, a promessa de regulamentação da Lei da meia-passagem não interessa aos estudantes. O objetivo da ida mais uma vez à CMM é a exigência de que os vereadores assinem o Projeto de Lei proposto pelo vereador José Ricardo que restitui as 120 meias-passagens aos estudantes, para que este projeto entre em tramitação, o que está sendo embargado pelos vereadores, que afirmam que o prefeito se comprometeu em 30 dias resolver a situação. Mas, segundo José Ricardo, “não se pode deixar a Prefeitura de Manaus na ilegalidade, uma vez que um decreto do prefeito não pode revogar artigo da Lei Orgânica do Município (Lomam)”.
Quando chegou a vez dos estudantes ocuparem a tribuna, os vereadores mostraram para que serve a CMM. Paulo, atual presidente da UMES, eleito na semana passada, durante o último congresso da entidade, em seu discurso, passou a enumerar e a cobrar a posição dos vereadores que ainda não haviam assinado para que o Projeto da Meia-Passagem começasse a tramitar na casa. Aí começou o show… Vários vereadores, mostrando-se indigandos quanto à postura do rapaz, passaram a pedir a palavra para admoestá-lo, defendendo, sobretudo, a sua honra e, é claro, o prefeito Amazonino.
Divertidíssimo show proporcionado pelos vereadores
Massami Miki (PSL) disse que “o prefeito Amazonino puxou para si toda a responsabilidade” e que ele “está regulamentando sim a meia-passagem”. Ao que os estudantes na galeria lhe responderam em coro: “Pau-mandado, pau-mandado, pau-mandado…”
Henrique Oliveira (PP), na sua raríssima inteligência, disse que o estudante teria que usar Listerine e Cepacol antes de abrir a boca para falar dele.
Houve quem dissesse, talvez por ter lido aquela obra Freud em 5 minutos pela manhã, que “talvez pela idade do estudante, talvez pela juventude a gente comete algum ato falho.”
Reizo Castelo Branco (PTB) pediu a palavra. O que já deixou os estudantes embasbacados, os estudantes começaram a rir e dizer: “Ele vai falar! Ele vai falar! Ele vai falar!” E foi a segunda vez que Reizo utilizou da palavra na CMM. A primeira foi quando Carijó criticou seu pai, dep. federal Sabino Castelo Branco, por acusar o prefeito Amazonino cassado, presidente de seu partido, PTB, de morosidade em resolver os problemas da cidade. Dessa vez ele até quis ser contundente, dizendo que ninguém poderia vir ali e destratá-lo daquela maneira; enquanto os estudantes gritavam: “Liga pro papai! Liga pro papai! Liga pro papai!”
Mas a melhor de todas foi Marize Mendes, irmã de Amazonino, que lembrou (e quem esquece?) que seu irmão foi governador do Amazonas e prefeito de Manaus diversas vezes e nunca, segunda ela, a cidade ficou na situação em que se encontra. Para ter-se uma idéia do tipo de afetos que Marize estava tendo em relação aos estudantes, taxista e kombistas ali na galeria, basta ver a rostidade constante na imagem abaixo.
Mas a aula estudantil continuou. Yann Evanovick cobrou dos vereadores que estavam na legislatura anterior que reconhecessem o erro de ter votado pela redução da meia-passagem e agora assinassem para a tramitação do atual projeto, e acrescentou para todos os vereadores que enquanto eles ficavam preocupados com picuinhas, os índices educacionais do estado e da cidade de Manaus só iriam baixando. Mas aí já era demais para o entendimento deles.
O ESVAZIAMENTO DA CMM…
Um fato ao qual já no referimos aqui no bloguinho e que sempre é observado nas discussões na CMM, e que ontem houve taxistas, kombistas e estudantes que atentaram para o problema, é a ausência de interlocutores-vereadores, por isso a CMM está esvaziada, já que são muito poucos, na verdade são raros vereadores que acompanham os debates. A maioria, como pode-se perceber na imagem ao lado, ficam lendo jornais ou navegando nas redes insondáveis da internet.
Seria a hora do recreio? Olha só quem estava nessa rodinha enquanto os convidados à Casa do Povo falavam.
Talvez estejam lendo, pesquisando ou discutindo a onda de protestos que se abate sobre a cidade. Talvez seja apenas um subterfúgio para não mostrar que o saco de ouro na verdade está vazio.
…E O SAQUE ESTUDANTIL
Enquanto isso, conversamos com Charlyson, do Grêmio Estudantil da Escola Estadual Ângelo Ramazzotti, que demonstra o entendimento dos estudantes não somente no que diz respeito à meia-passagem, mas com o transporte coletivo como um todo, este que todos os dias violenta toda a população.
“Não é só a questão da meia-passagem. É a questão do transporte coletivo com um todo que está em jogo. Tem que haver uma fiscalização maior dos dados, dos custos das empresas. Porque o serviço é de péssima qualidade. O trabalhador, que precisa ir todo dia para o trabalho tem de andar todo dia como sardinha enlatada. É um péssimo serviço público.
Nós queremos que os vereadores tomem alguma responsabilidade e cobrem dos empresários, que façam uma CPI, se for o caso, chamem especialistas, para saber de fato qual é a situação do transporte coletivo, saber qual é o faturamento, qual é o custo que estes empresários estão tendo. Reduzir por reduzir, conforme as ordens dos empresários é um retrocesso muito grande. Esse é um direito que foi conquistado com muita luta, e que não pode ser retirado simplesmente porque os empresários alegam que estão tendo prejuízos.
Somos contra qualquer restrição que retira direitos dos estudantes. Ela retira mais de 70%. Ela retira, nos finais de semana, o estudante ter acesso à cultura, ao lazer, tudo isso é educação. Na LDB, logo no artigo 1º, diz que a educação são todos os processos de formação do cidadão, que compreende cultura, compreende os movimentos sociais. É necessário um olhar sensível a essa questão. Não discutindo como se fosse um lado contra o outro, mas abrindo a caixa preta do transporte coletivo.
Nós temos exemplos, como Fortaleza, que é uma cidade muito maior, e lá a passagem é R$ 1,60, com meia-passagem ilimitada. Aqui, 120, por enquanto, é um número que consideramos suficiente, mas tem estudantes que têm necessidades especiais e precisam até de mais, que fazem mais cursos, que fazem mais atividades, que utilizam mais meias-passagens porque moram muito longe dos centros culturais, chegando a utilizar até mais de 6 meias-passagens por dia. Mas aqui o problema é a restrição. A meia-passagem é uma política educacional, é um direito conquistado. Retrocesso, não!”