UM OUTRO MUNDO GAY É POSSÍVEL

Um arraso a participação de grupos de todo o Brasil e do exterior no Fórum Social Mundial. Identidade, Matizes, Liga Brasileira de Lésbicas, Arco-Íris, Contranaturas e tantos outros que fizeram do protagonismo LGBT no Fórum uma explosão em cores e idéias.

Daquilo que esta colunéeeesima acompanhou – foi muita coisa ao mesmo tempo, maninha! – ficaram alguns questionamentos, em nossa opinião, importantes para se debater em nível nacional. Um deles é a questão da fragmentação do movimento. O outro, um certo “isolamento”. Nenhum dos dois pode ser recusado de cara: igualmente, são situações com as quais os movimentos devem aprender a lidar.

A fragmentação do movimento diz respeito, grosso modo, à divisão LGBT. Lésbicas, gays, bissexuais, transsexuais e travestis têm sim, demandas diferentes, embora a agenda se encontre em algo essencial: o reconhecimento na prática dos direitos civis. Enquanto os travestis encampam a luta pelo reconhecimento da sua transgenitalidade, no campo da saúde e dos direitos civis, os gays, tem como demanda a igualdade de direitos como o casamento e a adoção. Ambos corretíssimos em suas solicitações.

Quanto ao “isolamento”, trata-se de uma acusação a que se fazem ao movimento LGBT em geral: o não-envolvimento com outras questões, supostamente fora do sem âmbito de atuação, como se o movimento LGBT fosse isolado do contexto social em que vive.

Acreditamos que as discussões ocorridas no FSM tocaram bem o assunto. No entanto, um aprofundamento é necessário. De forma pedagógica, é preciso ampliar sim o plano de atuação.

A “setorização” do movimento é de certa forma benéfica, na medida em que abrange temáticas mais amplas. É preciso, no entanto, manter o foco. A luta dos travestis para incluir nas políticas públicas da saúde a cirurgia de redesignação sexual é importantíssima, e deve constar da pauta de todos os outros movimentos LGBT, como aliás, já o é. Da mesma maneira, a visibilidade lésbica, já que elas sofrem um preconceito diferente, talvez mais intenso, por parte da subjetividade falocrática-homofóbica. Acreditamos, portanto, que os rumos poderiam apontar menos para uma “identitatização” dos grupos, e mais para um enfraquecimento das identidades sexuais padronizadas e universais. Em bom português vulgar, que cada caso seja um caso, e que cada um possa fazer so seu corpo uma potência estética do ser, um modo de existir mais saudável para si. Assim, o setorismo de movimentos, que prevêem a lógica do “meu pirão primeiro” seria enfraquecida. É bom lembrar que essa lógica da exclusão é a mesma que seleciona, rotula e hierarquiza as relações, criando espaço para a discriminação. Mas não acreditamos que este seja um problema do movimento em geral, embora existam grupos que ainda não tenham conseguido se libertar desse buraco negro.

Quanto ao isolacionismo, é de certa maneira uma falsa questão. O que percebemos nos encontros em que participamos foi uma preocupação em geral para que os movimentos LGBT não se desprendam da agenda geral de todos os movimentos sociais. A demanda dos sem-teto, dos sem-terra, é tão importante e urgente quanto a dos “sem-casamento”, por exemplo. É preciso, neste sentido, convocar o filosofante Spinoza e sua filosofia democrática: quanto maior for a potência e o grau de perfeição dos habitantes de uma cidade, tanto maior o será a potência democrática desta cidade. Ainda, e do mesmo lado, envolver-se como voz ativa em outras questões é incluir-se pela única via válida: a do engajamento existencial. Ou vocês preferem ser reconhecid@s apenas como consumidor@s, bonecas?

Ou, em bom português engajado, como afirmou uma belíssima companheira da Liga Brasileira de Lésbicas: “aqui nós também somos a sociedade. Nós não queremos privilégios, queremos apenas os nossos direitos. E quando uma minoria é beneficiada, toda a sociedade se beneficia”.

A brisa no FSM Amazônia 2009 virou furacão, menina! Ui!

Ui! E agora vamos ver outros sopros gays (ou não) que passaram no nosso Mundico!

Φ GOIÁS E PARÁ AVANÇAM NOS DIREITOS LGBT. Goiás terá o primeiro conselho estadual LGBT do país. O conselho terá 12 representantes do governo estadual e mais 12 da sociedade civil, e trarará de temas como: políticas de diversidade de gênero e promoção da igualdade racial, assistência social e trabalho, dentre outros. No mesmo compasso, o Pará – território do FSM – criou a Casa dos Conselhos, que reunirá os mesmos num mesmo fórum permanente de direitos humanos. Nele, funcionará o Conselho Estadual da Diversidade Sexual. Passos importantes, espaços públicos que devem ser ocupados e aproveitados, e uma evidência fortíssima de que algo já mudou na sociedade brasileira, a despeito do preconceito. Uma belíssima emersão de dizeres e de fazeres ocorridos na recorrência histórica. Pobre daquele que acreditou que, enquanto a globolálica não mostrar beijo gay na novela das oito, o mundo gay não se estabelecerá. Enquanto ele sonhava, na cozinha, zil outros trabalham para que os beijos gays sejam possíveis não na telinha laminadora, mas realidade desejante em qualquer lugar da coletividade. Ou como afirma o roqueiro engajado, Neil Young: “The world is turnin’, and I hope It don’t turn away”. Sentiu a brisa, Neném?

Φ CORTE MÁXIMA DA COLÔMBIA RECONHECE DIREITOS A CASAIS GAYS. Nem tudo é reacionarismo na Colômbia de Uribe, o último órfão de Bush. Lá, a Corte Constitucional reconheceu para os casais homos direitos que antes eram restritos aos casais heteros, como pensão para companheiros de militares e servidores públicos, direito à financiamento de moradia em parceria, além de cidadania a companheiros estrangeiros. Em caso de morte ou desaparecimento do parceiro, o outro será o responsável pelos bens do casal. A decisão apenas mantém o que o legislativo colombiano já havia garantido em 2007. Bom saber que cada vez mais, em todos os países, leis tem aparecido para dirimir as enormes injustiças que ocorrem com casais homos. Oras, se o amor é o mesmo – muitas vezes até na lezeira – porque não os direitos? Hunf!! Sentiu a brisa, Neném?

Φ 29 DE JANEIRO: DIA DA VISIBILIDADE TRAVESTI. Foi um sucessaço! Contabilizadas pela ABGLT e pela ANTRA, 39 atividades comemorativas em todo o país. Em Belém, infelizmente não obtivemos contato com a associação local para a cobertura do evento, e em Manaus, o dia foi comemorado com a protocolação do pedido para a inclusão do nome social nas escolas municipais e estaduais, nas respectivas secretarias. Mas que comemorações, uma grande movimentação em torno da visibilidade da população trans. É preciso, como o próprio movimento já percebeu, que esta visibilidade se dê no plano político, e não apenas midiático. Que se possa construir e fortalecer um território de diálogo, de inteligência e solidariedade. E isso, meu bem, os trans têm de sobra. Sentiu a brisa, Neném?

Beijucas, até a próxima, e lembrem-se, menin@s:

FAÇA O MUNDO GAY!

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