OUTDOOR FORA DE PERSPECTIVA
O filósofo francês Baudrillard, em sua obra “À Sombra das Maiorias Silenciosas”, na que trata da refração de um enunciado constituído como volta do mesmo, afirma que as massas, hoje, já não refratam o que pretendem as sondagens, as pesquisas. Elas se ocultam em suas próprias vozes. Não refletem o que sempre esperaram delas: a confirmação de permanecerem esvaziadas de seus quereres. Existir apenas como respostas ao que interessa os que lhes sondam. O filósofo Nietzsche dizia que as massas são as individuações do eterno retorno como criação distributiva. Nada de imobilidade reativa que nega a vida. O que o psiquiatra W. Reich não entendeu com sua teria da “Psicologia de Massa do Fascismo”. Assim, nos dois filósofos, se entende que as massas não são uma unidade molar cuja expressão não é nada mais do que a ressonância dos interesses dos que imaginam tê-la sob controle como objeto de sondagem
DA ILUSÃO DA PERSPECTIVA
O filósofo Platão, apesar de seus delírios, dizia que uma imagem é a intercessão da luz do objeto e a luz do olho. A filosofia das Ciências Neuro-Ccognitivas diz ser a condição bio-química-energética do sujeito do conhecimento em relação com a matéria com suas vibrações, ondulações, evanescências que permitem a representação de uma imagem-idéia. Ou seja, a perspectiva depende tanto da matéria fora do sujeito quanto de sua constituição bio-neuro-mental. Nenhuma perspectiva depende apenas da vontade do sujeito. Foi entendendo esse signo fenomenológico que os renascentistas elevaram a perspectiva como vetor fundamental para criação de outra realidade. Principalmente os pintores. Tridimensionalidade. E a Psicologia da Gestalt, com sua teoria, figura e fundo. Campo fenomenal. O que significa: nenhuma perspectiva é elaboração fantasiosa.
A PERSPECTIVA DE DURANGO EM KID
A justiça eleitoral convidou a empresa Perspectiva suprimir das perspectivas dos caminhantes urbanos seu outdoor-pesquisa-Amazonino da via pública. Ela entendeu, como anunciou este bloguinho, que se tratava mais de insinuação do que pesquisa. Durango, o proprietário do outdoor – nome de personagem de revista em quadrinho, que não pretende livrar seus personagens do quadro -, se sentiu incompreendido, protestou, mas prevaleceu a determinação judicial. Ele não se deu por vencido. Entende-se: é tempo de eleição. Tempo de colheita. Tempo de faturamento. Apresentou outro(?) outdoor para confirmar o anterior. Ainda persuasão eleitoral. Adesivou o que acredita ser seus feitos de sondagens. Mostrou datas. Assemelhando-o com o anterior, cometeu equívocos e erros. No do “Quem você vota para prefeito”, com Amazonino com 49% e o amigo do comunista Eron com 17%, fazia propaganda de seu candidato. Clara, ingênua tentativa de persuasão a eleitores. Ingênua, pois o mundo é outro. Mas ele não sente. No de agora mostra megalomania: “A marca da credibilidade, e 2008 não será diferente”. Na “credibilidade” ele marca: nenhuma credibilidade existe se não for pela experiência direta de cada pessoa que passa a crer em si própria, não no julgamento de outro. Ou seja: viver é crer. Pesquisa não diz a existência de ninguém. A não ser na imobilidade numérica dos estatísticos, com sua subserviência ao mercado da teoria da publicidade para agradar o cliente. No caso da Perspectiva, a perspectiva de um candidato.
ONDE DURANGO ELIMINA A PERSPECTIVA
Para assegurar seu mercado de sondagem marqueteira, Durango em Kid mostra seus acertos. Sendo verdade, erros para a democracia. Mostra vitórias de seus clientes da direita. Todavia (fora de sua via), em seu “2008 não será diferente”, ele, para desespero de seu cliente, se auto-rarefaz: mergulha na superstição. Torna-se profeta. Prevê o futuro. Mata Deus. O futuro não mas pertence a Deus. Ele vê o nada futuro. Trama lingüística. Pegou legal: ou uma ou outra. Amazonino perdeu as duas últimas. “Durango Kid quase me pegou, eu dormi de touca” (Cesar Sampaio). Se acertou em 2004, Serafim está eleito. O gajo só tem que correr para o abraço.
Fim da perspectiva. Perceber é produto da co-relação sujeito-objeto. Entender é produto da práxis do pensamento. Singularidade do ser racional. Como no futuro não há objeto nem sujeito, Durango “dormiu de touca, morreu de medo, marcou bobeira”, ficou no “é isso e aquilo” sem o “não é nada disso”, muito menos o “eu quero todo mundo neste carnaval”. Por tal, não põe o “bloco na rua”. Assim, não dá outra: fica sem perspectiva. Então, 2008 será diferente de seu 2008.