UM ENUNCIADO DE DISCRIMINAÇÃO…

Eu enuncio, tu enuncias… quem enuncia? Enunciar algo não se reduz à fala. Não se reduz, ainda mais, a um emissor e um receptor da forma como a Comunicação Social entende. Ele se compõe de vozes, dizeres, saberes, percepções, compreensões, afecções, que capturam o corpo-sujeito e o transformam em eco redundante desta enunciação.

O enunciado da discriminação homoerótica tem zil pontos de intersecção, conjunções, nós e pontos. Nele, só é possível constituir uma linha intensiva ao sacrifício do próprio enunciado. Por ele, passam saberes científicos (durante décadas o tal homossexualismo foi considerado doença, a sodomia, tara sexual, e masturbação, causa de morte súbita), igrejais (as mil e uma ameaças contidas na bíblia e no corão, apesar dos homoafetos de Davi, Jesus e das últimas conclusões sobre o homoerotismo da teologia islâmica), do chamado senso comum, da ordem da ignorância sobre o corpo, a maioria deles, idéias criadas a partir de uma perceção que não passou pelo exame da razão. O que o filósofo luso-holandês Spinoza chama de idéia inadequada. Pode-se afirmar que toda discriminação ao homoerotismo é fruto da superstição.

Daí não se estranhar que a rispidez, a violentação, a brutalidade, sejam os vetores mais comuns de transmissão da discriminação (existem, na verdade, outros?). Sendo uma idéia inadequada, o enunciado da discriminação está por aí desde muito tempo. Só não é mais velho que o mundo, que é gay. E captura, tornando vetores redundantes da fala sem voz, da palavra sem tônus, do significante vazio e despótico, alguns incautos, que sequer, tadinhos, têm condição epistemológica de sair do lugar-comum.

Daí não estranhem vocês que uma modelo, que não fez sequer a leitura do usos do próprio corpo como mercadoria no reino do efêmero da moda carregar, a despeito de trabalhar com homoeróticos, o enunciado da discriminação. Isabeli Fontana afirmou em programa televisivo anódino que não deseja ter um filho gay. Colocada diante do teor homofóbico da fala, a modelo tentou se esquivar, colocando no sofrimento a responsabilidade sobre o seu receio de ter um filho homoerótico. Mas o sofrimento é produto do mesmo preconceito que ela ecoou. Deixou evidente, na sua fala, duas características: primeiro, a passividade diante da existência, aceitando o mundo do jeitinho que disseram a ela que ele tem de ser. Isabeli não carrega nem um pentelhésimo de suspeição de que as coisas não são do jeito que ela pensa que aprendeu (será que ela sabe que as cores da bandeira gay não existem?). Outra: a paralisia no que diz respeito à produção de outros enunciados, que não estejam presos aos signos-clichês. Da disposição que tem no mundo, atualmente, Isabeli não se faz necessária ao mundo. A não ser como conservação do já instituído. Por isso, pra ela, ter um filho gay é um problema. Um falso problema. Para o filho, independente da orientação erótica, ter uma mãe assim é um problema. Felizmente, superável.

Ui! E agora vamos ver outros sopros gayzísticos (ou não) que passaram no nosso Mundico!

Φ ESPANHA É O PAÍS DO CASAMENTO GAY! Desde julho de 2005, o casamento entre homoeróticos é reconhecido pelo Estado espanhol. De lá pra cá, já foram contabilizados mais de 5.200 casamentos. E este número só corresponde aos cartórios que têm registro eletrônico. Estima-se que esta cifra seja apenas 1/3 do número real de fofuchos e fofuchetes que juntaram as cuequinhas e calcinhas. Madrid, Catalunha, Andaluzia e Valência foram as cidades com maior número de bolos de noiv@s com dois bonequinhos ou duas bonequinhas no topo. Mas calminha aí, minha gente linda. De nada adianta comemorar ou casar, se for pra repetir os mesmos clichês moralizantes e imobilizadores dos casais heteros. É pra colocar na existência o multicolorido da bandeira LGBT. Aproveitem que Santo Antonio, o santo gay-casamenteiro ta fazendo hora extra nas terras dos campeões europeus! Sentiu a brisa, Neném?

Φ PARADAS GAYS PELO MUNDO AFORA. Pra quem pode, meu bem, vai carnalmente falando. Mas quem não pode ir carnalmente, ao menos como intensidade está presente. Falamos das paradas gays que agitaram a Europa nesta semana. Madrid, Budapeste e Londres foram palco das manifestações que agitaram a moçada do (não tão) velho continente. Em Londres, ontem, um diferencial: teve desfile militar, de todas as forças armadas da rainha. De quebra, o ministro da defesa fez um discurso onde se desculpou pelos anos de discriminação contra os homoeróticos, encerrado em 2000. Hoje em dia, os homoeróticos são comuns nas FA inglesas. Gordon Brown se reuniu com um dos mais ativos atuantes do movimento gay britânico, o ator deslumbrante Sir Ian McKeller (que atuou na película Deuses e Monstros). LIN-DO! Já em Madrid, mais de um milhão de pessoas levaram adiante o mote: “pela visibilidade lésbica”, com muita festa e alegria. E pra mostrar que ainda persiste a discriminação, na parada de Budapeste, a extrema-direita resolveu atacar, e nem a polícia conseguiu segurar. Calculou-se que 20 manifestantes da parada foram feridos por pedras e cocktails Molotov disparados pelos ressentidos homofóbicos. Ainda há muito por se fazer, então mãos e cérebros à obra, menin@s! Sentiu a brisa, Neném?

Φ E ESSAS LOUCAS AFINADAS ANIVERSARIANDAS… Esta colunéeeeeeesima aproveita a passagem do 04 de julho para festejar os oito anos cronológicos e zil intempestivos dessa doida da AFIN, Associação Filosofia Itinerante. Com este Bloguinho e outros projetos, incluindo as apresentações do vetor teatral “À Procura de Um Candidato”, transando o barato da política que não se reduz à política eleitoral, mas passa por ela, já há mais de 10 anos (alguns membros com mais de 30 anos nas quebradas), essas loucas afinadas continuam perturbando a chamada ordem estabelecida por aí. E só não assumem porque assumir uma identidade significa capitular os interesses aos moralistas conservadores. A AFIN saca que o mundo é gay, para além do erótico. Ai, mas como diria o afinadinho Aruca, “se jooooooooguem logo, Locas!”. Clique na aba “Sobre a AFIN” no cabeçalho deste Bloguinho pra saber mais. Sentiu a brisa, Neném?

Beijucas, até a próxima, e lembrem-se, menin@s:

FAÇA O MUNDO GAY!

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