!!!!! O MUNDO É GAY !!!!!
A FORÇA DO ENUNCIADO VERSUS A POTÊNCIA GAY
Muito interessante e revelador o fato de que somente a TV Cultura tenha incluído como pauta para um programa de análise jornalística a 1ª Confê Nacional LGBT, bem como as políticas públicas para a categoria. Primeiro, demonstra claramente a (des)importância para o movimento pseudos engajamentos televisivos, estilo “beijo gay em novela”, que colocam o homoerótico na condição de sujeito-sujeitado consumidor.
No entanto, o formato do programa onde foi discutida a questão não provilegia um aprofundamento, não permite mais que um comentário, um “palpite” sobre o assunto. Não é uma característica apenas do programa. No Brasil, a televisão tem uma temporalidade de exibição toda cronometrada e distribuída em função não do uso do espectro eletromagnético de som e imagem em assuntos necessários à construção de comunidades, mas ao adestramento e capturação do Desejo pela indústria do consumo.
Ainda assim, o professor, antropólogo e um dos mais antigos militantes da causa LGBT, Luiz Mott, esteve no programa Opinião Nacional, apresentado pelo mediador Alexandre Machado, nesta quinta-feira última. Junto com ele, estiveram José Guerra, representante da SEHD e um dos coordenadores da 1ª Confê LGBT, Cláudio Picazio, psicólogo, e Anna Mautner, psicanalista.
Entre uma e outra incoerência (como a falsa ironia do apresentador-mediador em afirmar que o governo não tem maioria para aprovar a PLC 122/06, mas tem para aprovar a CSS – limitação epistemológica de quem acredita poder se opor sem criar), o programa acertou em uma questão: manteve a discussão no plano do Estado laico, mesmo com a intromissão de Paulos de Tarso do Brasil inteiro.
No entanto, um aspecto chamou a atenção, além da já comentada superficialidade da discussão.
Vários leitores perguntaram sobre o comportamento “espalhafatoso” dos gays nas Gays Prides, e se isso não seria um contra-senso num movimento que procura a “inclusão social”. A psicanalista, que não entendeu a potência enfraquecedora do enunciado da moral de classe, que a psicanálise freudiana (não dos discípulos), concordou com a pergunta. Quando chegou a vez de Mott, esperava-se (ingenuidade desta colunéeeeeesima?) que ele deitasse e rolasse, que falasse da palavra tolerância, de seu aspecto microfascista, de uma sociedade não de excluídos, mas de incluídos enquanto sujeitos-sujeitados de consumo, da limitação da expressividade do corpo pelo enunciado teo-científico da sociedade burguesa, da laminação da potência de agir pela moralidade e ordem do “bom” e do “belo” pregado pela sociedade de consumo, dos signos-clichês que emergem e capturam no buraco negro da imobilidade as tentativas coletivas de produção subjetiva. Mas Mott, não se sabe se por desconhecimento de outras perspectivas de compreensão do movimento, ou se diminuído na sua potência de agir pelos maus encontros do programa, preferiu apenas apontar a moralidade como uma “opinião comum” que seria incomodada pelo exibir (nem sempre) livre do corpo nas paradas gays do Brasil.
Pouco, para alguém da importância de Mott no cenário LGBT. O movimento carece de quadros (como se diz na linguagem dos partidos políticos) que trabalhem outros conceitos, que criem outras perspectivas, que desestabilizem a produção e disseminação de signos e elementos corporais/incorporais da moral de classe, predominante no CMI (capitalismo mundial integrado). Neste, não apenas os aspectos materiais (os corpos na sua realidade política, as instituições, as leis, as regras instituídas), mas a imaterialidade, a virtualidade (as idéias, os sentimentos, os modos de ser, de perceber e de compreender) também é capturada pelo Significante Despótico que reduz os signos ao significante vazio de significado.
Quando esta colunéeeesima afirma ativamente que o mundo é gay, o faz não apenas do aspecto erótico-sexual que a palavra gay carrega, mas também pela sua potência desestabilizante das certezas do mundo, as mesmas que acreditam haver uma sexualidade padronizante que institui categorias, comportamentos e saberes “verdadeiros” sobre os corpos, esvaziando a potência coletiva produtora de outros modos de existir, menos nocivos e violentadores das pessoas no mundo.
Portanto, gente, não é uma crítica ao companheiro Mott enquanto unidade, mas um convite a quem se sente “incluído” na luta das chamadas minorias, independente do aspecto que as singulariza. A luta não deve acontecer somente no aspecto considerado externo, nas ruas, na política, na legislação, nas práticas sociais, mas na produção subjetiva de afetos e percepções, nos modos de existir, conceber, compreender e expressar, que também transbordam no social. E com muito mais potência. É mais significativo mudar culturalmente do que pela força da lei.
Ui! E agora vamos ver outros sopros gayzísticos (ou não) que passaram no nosso Mundico!
Φ CASAMENTO GAY ONDE NENHUM HOMEM JAMAIS ESTEVEEEEEE!!! Quando a nave Enterprise singrava os zil oceanos do espaço sideral carregando a sanha imperialista do tio Sam universo afora, o capitão Kirk (William Shatner), uma espécie de Bush do século XXX, levava o american way of conquest a cada planeta visitado. Tudo dentro do planejado, e de acordo com estratégias aprendidas em séculos, e experimentadas no Vietnam, Afeganistão, países africanos, Iraque, Palestina, América Latina, e por aí foi. O que não contavam a dupla Kirk e Spock (este o Dick Cheney do futuro) era que, dentro do corpo Enterprise, viesse junto, sem que eles percebessem, a potência gay! Sim, o ator George Takei, que interpretava o personagem Capitão Hikaru Sulu, carregava a bandeira do arco-íris escondidinha lá no seu armário interestelar, e quem sabe, quando as câmeras não estavam apontando para ele, procurava sinais de que não só o mundo, mas o universo é gay (e é!). George, amigos de todos, menos do ressentido Shatner, vai se casar, agora que o casamento gay é permitido na Califórnia, onde vive. O felizardo é seu companheiro há 21 anos, Brad Altman. Os convites já estão sendo imprimidos, e se o seu não chegar, não se preocupe. É que levam alguns anos-luz para o sedex chegar em algumas galáxias. Sentiu a brisa, Neném?
Φ ENQUANTO ISSO, NA CASERNA… O Exército Brasileiro deu mais uma prova (e precisava?) de que a prisão do sargento Laci teve como motivação a homofobia: desta vez prendeu o companheiro de Laci, o também sargento Fernando Alcântara. A alegação seria a de que Fernando não compareceu ao trabalho, mas na realidade, a questão é mais ampla do que isso: diz respeito às práticas das forças armadas, que em quase nada se modificaram da ditadura até hoje. Internamente, a ditadura parece não ter acabado. Como afirma o jornalista Mino Carta, ainda tem muito militar de pijamas por aí chamando a ditadura de revolução. O caso de Laci e Fernando, como já comentado aqui neste bloguinho, tem mais luzes de midiotização do que de discussão pra valer, no entanto, isto não dá ao exército o direito de restringir liberdades, quaisquer que sejam, em nome de suas normas internas. É necessário colocar o assunto em pauta nas casas legislativas e no executivo, sem Gimenizmo, e com lucidez. Com armas que os verde-olivas não têm, é possível vencer a batalha. Sentiu a brisa, Neném?
Φ AIDS TRATADA COMO PROBLEMA MORAL. Na última terça-feira, a OMS, através de Kevin de Cock, do departamento de HIV/AIDS, declarou que o mundo, à exceção da África subsaariana, está livre de uma epidemia do vírus em heterossexuais. Segundo ele, que é epidemiologista, a epidemia viral deve se concentrar nos chamados grupos de risco: prostitutas e seus clientes, homoeróticos e usuários de drogas injetáveis. A declaração não foi bem recebida no órgãos de combate à doença. Para a psicóloga Maria Cristina Abatte, da secretaria de saúde da cidade de São Paulo, a OMS reduziu a contaminação a “um vetor moral e religioso”, na corrente contrária às estratégias de trabalho destes grupos, principalmente no Brasil, que é referência mundial em tratar a AIDS como caso de controle público de epidemias. No Brasil, os números de contaminados vem caindo, mas desmentem a conclusão da OMS. Aqui, a maior parte dos contaminados é de heteroeróticos, com vida familiar estável. Para estes, é mais difícil controlar dois fatores de risco: o não-uso da camisinha e o comportamento promíscuo. O número de mulheres casadas contaminadas aumentou, graças aos maridos, que se contaminam e levam o vírus para casa. Aí sim, deve-se tratar um problema moral (a chamada traição, corolário da subjetividade Hominista) como um caso de saúde pública: daí a perspectiva de informar aos casais a necessidade de uso do preservativo mesmo nas relações estáveis, já que modificar o entendimento de alguns homens e mulheres é mais difícil. De qualquer forma, faltou ao Sr. De Cock a compreensão que os modos de transmissão do vírus estão mais ligados a aspectos comportamentais independentes de orientação sexual, mas profundamente ligados à falocracia, sintoma de uma cultura doente construída do ponto de vista exclusivista do homem. Ainda assim, menin@s, atenção redobrada! Vamos continuar mostrando que não existe grupo de risco, mas sociedade que impõe às pessoas comportamentos de risco. Sentiu a brisa, Neném?
Beijucas, até a próxima, e lembrem-se, menin@s:
FAÇA O MUNDO GAY!