MAIS UM SECRETÁRIO DE BRAGA SAI TOSTADO?
Diz o ditado que o povo aumenta, mas não inventa. Há meses que entre os professores da rede estadual de educação do Amazonas sabem da fritura do secretário de educação, Gedeão Timóteo Amorim. Acontece que, desde segunda-feira recente (já são quatro dias), professores e alunos do Jorge Teixeira à Redenção, de uma ponta a outra de Manaus comentam que o supracitado secretário de educação foi exonerado pelo governador do Amazonas, Eduardo Braga, na tarde da segunda passada.
Este bloguinho pesquisou, pesquisou, e não conseguiu confirmar o boato. Entretanto, acredita que não seria necessário. Primeiro porque, crente na inteligência coletiva, percebe que o povo sente a fritura do secretário como uma inadiável exoneração; segundo porque sabe que enquanto continuar o mesmo modelo de gestão — não só educacional — poucas mudanças no que diz respeito à totalidade dos serviços públicos no Amazonas será possível como pontencialidade de realização.
AS NOVAS PERCEPÇÕES DE LULA E DILMA
Todas estas visitas de Lula e Dilma ao estado do Amazonas, tanto à capital, Manaus, quanto aos interiores, não são palanque eleitoral como quer a retrógrada e desesperada direita ante á popularidade do “sapo barbudo”. É uma forma do presidente e a ministra fazerem avaliações in loco de como as verbas públicas estão sendo empregadas para o bem estar social imediato e duradouro para a população. Por isso os índios de São Gabriel tiveram uma conversa informal a sós com Lula; por isso Dilma citou aquele exemplo de uma cidade (Manaus) com o maior rio do mundo, mas sofrendo com falta d’água e com inexistência de saneamento básico. Verbas estão indo em abundância para os estados, mas ao que tudo indica não estão sendo empregadas em muitos estados de forma inteligente ou não estão sendo empregadas de forma nenhuma. Lula e Dilma devem estar caindo “de pau”, como se diz no jargão popular, nos prefeitos e governadores para a utilização das verbas públicas em benefício da sociedade como um todo. Caso isso não aconteça, aí entra em ação o Ministério Público Federal, a Polícia Federal, os tribunais de contas, etc.
UM INSUPORTÁVEL SEGUNDO NA REALIDADE OBJETIVA
O leitor intempestivo poderá conferir neste bloguinho como estão os serviços públicos estaduais na tag Governo do Estado. (O leitor amazonense sabe na prática, até porque as violentações aos cidadãos que aqui constam nos foram passadas por pessoas que vivenciaram e vivenciam cotidianamente tais situações quando têm necessidade de utilizar serviços públicos básicos, indispensáveis e inalienáveis. No caso das escolas, há muitos anos — Braga só fez dar continuidade, mas esse estado de coisas já se apresentava mesmo antes dele nascer — que a falta de condições físicas e de concepções educacionais que possibilitem o conhecimento como prática de novas constituições comunitárias e de mudanças existenciais, sociais e políticas massacra quem convive na práxis do dia-a-dia escolar. O ENEM – Exame Nacional do Ensino Médio, além de auxiliar alunos que cursaram ensino médio em escolas públicas a entrarem na universidade via Pro-Uni, serviu para observar a situação do ensino público em estados como o Amazonas, que não por acaso ficou em último lugar.
UM EXEMPLO AUTOFÁGICO
Comenta-se também entre os professores que já saiu o resultado do IDEB – Índice de Desenvolvimento da Educação Básica, e que novamente, o que não é nenhuma novidade, o Amazonas fica nas últimas colocações. Por estes motivos, só por estes, pois se sabe que pelas concepções neoliberais de educação (nada de educare = “movimentar”) o que interessa é a impressão de uma imagem do pensamento do Estado forjada em marketing e gráficos abstratos, sem substância. Como os gráficos educacionais — o ENEM e o IDEB —, do modo como foram colocados a funcionar pelo governo LULA, estão traindo suas causas, desesperam-se e começam por cortar suas próprias cabeças. Um exemplo autofágico pode ser citado no diretor da Escola Estaual Cleomenes do Carmo Chaves, que foi exonerado porque foi flagrado por um canal de televisão jogando xadrez em seu leptop durante uma reunião de diretores de escola. Mas os professores e os alunos antigos da escola sabem que nos últimos quatro anos passaram pela escola cinco diretores diferentes e nada conseguiram fazer. Tentando segurar-se com seus cargos de confiança, alguns deles até tentaram fazer um trabalho, mas diante das insuficiências materiais, de professores, auxiliares, etc, nada conseguiram realizar que impulsionasse a escola a uma atuação de importância política-social. Enquanto isso, ao término do primeiro semestre do ano letivo corrente, há classes de alunos que, de cinco, acabam tendo dois tempos de aula por inexistência de professores para ocupar as vagas.
DA INTELIGÊNCIA DO POVO
Tal qual ocorreu com José Dantas Cyrino Jr, quando secretário de educação municipal de Manaus, que professores, alunos e comunitários já sabiam de antemão que sairia, parece que o destino de Gedeão Timóteo Amorim é mais certo do que o destino do Édipo Rei. É o golpe final na dupla de secretários de educação formados em filosofia. É por isso que se diz que um diploma de filosofia não faz um filósofo, ao contrário, quando ele se torna mero agente reprodutor do Estado, não serve e o distancia do filosofar. No caso de Gedeão, não serviu nem para forjar argumentos (ainda que falsos) quando, no programa Fala Governador, era admoestado “ao vivo” (onde a vida?) por Eduardo Braga, o qual tem fama de tratar seus subalternos como lambaios. Com sua saída, na prática, nada vai mudar, mesmo que Braga coloque como secretário de educação um técnico de marketing. O povo não aumenta nem inventa, apenas sabe a partir de uma inteligência de outra ordem, atuando por fascinação, como diria Baudrillard. O caso não é exonerar o secretário; é que ele nem sequer existe, assim como estes governos. Só o vazio. Mas como diria Tom Zé, “porque a cobra já começou a comer a si mesma pela cauda”. Bom sinal!