ENUNCIAÇÕES MORAIS DOS DETRATORES/APROVEITADORES DA MORTE DE JEFFERSON PÉRES
No cenário da política amazonense e nacional, o repentino falecimento do senador Jefferson Péres nesta manhã, em decorrência de infarto, deixa praticamente vazio o lugar senatorial que ele ocupava como ninguém: de paladino da moral e da seriedade. Por tal, inúmeras vezes ele se posicionou de forma retrógrada e fechada em si mesma, de modo a favorecer mais a direita canhestra do que os processuais democráticos em avanço no governo Lula. A mesma moral intransigente que o fez afirmar que renunciaria caso este fosse reeleito.
Apesar deste bloguinho ter se posicionado na maioria das vezes numa análise de desconstrução das posições intransigentes de Péres — não ele em si, mas o discurso moralista que passava por ele —, jamais descuramos de que ele se diferenciava dos outros senadores amazonenses antigos e recentes por ser uma pessoa íntegra, que acreditava nas suas posições, não sendo, portanto, um homem de conivências. Pelo que consta, jamais se utilizou da política para enriquecimentos ou favorecimentos ilícitos, práticas que combatia na sua austeridade. Ao contrário, suas campanhas eram nacionalmente das menos remuneradas. Mesmo assim deixou passar em branco desconfianças no milionário faturamento de campanha, como as que pairaram sobre a campanha de Marcelo Serafim na última eleição, provavelmente por ser amigo do prefeito Serafim.
OS APROVEITADORES DOS DIVIDENDOS ELEITORAIS
Mas os exploradores de cadáver já se manifestam para se aproveitar de sua imagem e aproximá-las de sua candidatura, principalmente carpideiros prefeituráveis. Com certeza já não faltam a estas horas quem os sensitivos que, mesmo sem saber da morte de Péres, até sentiram um aperto no peito quando ia escovar os dentes ou à mesa para o café da manhã, como se fosse um prenúncio. No mercado fúnebre do interesse eleitoreiro, é até possível que alguém venha a propor o desfile do funeral por toda a cidade de Manaus. Com a dispensa do carro funerário, talvez haja briga pelos dividendos de segurar nas abas do caixão. A única solução talvez seja a divisão delimitada em metros, tantos os interessados e com insuspeita moral para segurar o caixão.
NAS PREVISÕES DE PAI GILMAR
Acredite ou não, creia ou não creia, no dia 31 de dezembro do ano passado, ao pedirmos as previsões de Pai Gilmar para este ano, o respeitado babalorixá previu o falecimento de um político majoritário no cenário amazonense.
“Um político muito influente vai falecer esse ano, eu não sei o nome dele, mas é um político muito influente. Porque tem muitos políticos influentes, o Arthur, o Jefferson Péres, o Amazonino, o Gilberto Mestrinho. Um deles, eu não sei qual é, mas nós vamos ter uma perda muito grande esse ano de 2008, provavelmente na metade do ano, do primeiro pro segundo semestre.”
Sem querer agourar ninguém, apenas no plano político —não como reserva moral —, entre tantos, Jefferson Péres ao menos se diferenciava de muitos por sua posição partir de princípios, ainda que arraigados de moralidade, mas distantes da truanice, da verborragia e da sordidez.
DISCRIÇÃO E ETICIDADE FINAIS
Para este bloguinho, assim como a imagem de Jefferson Péres não deve ser mumificada como um baluarte da moralidade fechada em si mesma, deve ser diferenciada de todos os detratores e aproveitadores. Ele foi alguém que sempre percebeu e encarnou a “grande crise moral”, de tal forma que caiu numa opacidade, não deixando fluir o humor e a inteligência, com os quais ele teria ajudado mais nas construções democráticas do que a seus verdadeiros rivais, como tantas vezes aconteceu. Nos últimos dias, há de se notar que ele não mais vinha aparecendo com tanta freqüência na seqüelada mídia. Será porque suas posições estavam mais racionais, tanto que uma de suas últimas aparições foi a respeito da votação em torno da CPMF, quando ele afirmou, acertadamente e em sintonia com o governo Lula, que provavelmente até ia contra a posição de seus eleitores, mas que votaria pela continuação do imposto? Teria ele percebido melhor a importância de suas opiniões e o lugar onde estava situado, apurado-as melhor democraticamente, o que, midiaticamente, não interessa? Estariam suas opiniões finalmente distanciando-se um pouco da moralidade dura, retrógrada e opaca e aproximando-se mais de uma ética a serviço dos avanços democráticos? Se é nesse rastro que o movimento de sua existência seguia, somente neste rastro ela deve seguir além e aquém da morte…