!!!!! O MUNDO É GAY !!!!!
O DIREITO AO PRAZER E À DEMOCRACIA DO CORPO
“Os estereótipos de gênero seguem vigentes em nossa sociedade, são os papéis impostos que limitam a capacidade de decisão das pessoas. Evidentemente, isso recai com maior dureza nas mulheres e em sua vida sexual; são consideradas máquinas reprodutoras sem opção de prazer, o que implica a real união íntima, por decisão pessoal, com todos os elementos de ternura que uma relação desse tipo envolve”.
A frase acima foi dita por María Soledad Vela, membro da Assembléia Constituinte do Equador, e do movimento social Acuerdo País, do qual também fazem parte muitos movimentos feministas e o próprio presidente, o gatéeeerrimo Rafael Correa. Esses movimentos articulam para incluir na Carta Magna do Equador, como direito fundamental e garantia constitucional o direito ao desfrute e a uma vida sexual autônoma e livre para todas as pessoas.
Por uma sociedade do afeto, Soledad Vela é apenas uma voz que carrega um enunciado. Mas não um enunciado comum. Vela não é caixa de ressonância que apenas reverbera os signos-clichês da semiótica capitalística. Faz parte de um processual de singularização. Produção de enunciados. Não re-produção. Por Vela passam linhas intensivas, afecções, encontros, alegrias, lágrimas, experiências que são comuns a pessoas do mundo inteiro e em diversas épocas. São dizeres que afrontam o Enunciado de controle do corpo como ente produtor subjetivo de afetos, dizeres e saberes que proporcionam o enfraquecimento da ditadura do corpo-produto e permitem sonhar com novos modos de ser, menos nocivos.
A sociedade machista (preferimos o termo “hominista”, que diz respeito ao homem como produção cultural ocidental, e não ao macho, gênero naturado) ultrapassa as relações interpessoais. Ela é intra e infrapessoal. Trata-se não apenas da produção de modos de agir e compreender o mundo por uma vertente dura e imóvel, mas da produção do próprio sujeito cultural hominista. Seja ele macho ou fêmea.
Quantas mulheres amam e desejam conforme dita o Homem (com Agá maiúsculo)? A própria psicanálise, nas suas vertentes mais ortodoxas (aí entrando Melanie Klein e a famosa Helene Deutsch com sua teoria do masoquismo da mulher normal) carrega o elemento cultural do Homem como referência. Portanto, a luta se dá no nível da apropriação do corpo por um enunciado. Nada a ver com o sexo, como creram muitos jornalistas, incluindo o Terra Magazine, que publicou em português a notícia.
Não se trata do sexo, mas de sexualidade. O uso do corpo no plano das relações concretas e coletivas. Nenhum dispositivo jurídico poderá dar a quem quer que seja a garantia de um orgasmo, e nem o orgasmo está no plano das relações jurídicas. Mas María Soledad Vela deixa claro que se trata de abrir um caminho, uma via, um diálogo sobre o “direito a tomar decisões livres, informadas e responsáveis, sem coerção, violência ou discriminação de nenhum tipo, sobre sua vida sexual, incluindo a identidade de gênero, o desfrute e a opção sexual. Toda pessoa poderá decidir com quem, quando e quantos filhos ter, de acordo com suas condições emotivas, psicológicas, econômicas e culturais”.
Nesse sentido, os movimentos feministas estão ajudando a fazer o mundo cada vez mais gay! Ui!
E agora vamos ver outros sopros gayzísticos (ou não) que passaram no nosso Mundico!
Φ DIA MUNDIAL DE COMBATE À HOMOFOBIA. Meus amores, é muito mais eficiente lutar contra uma discriminação no campo da inteligência do que da lei. Por isso colocar o homoerotismo e a homofobia como elementos de discussão é necessário, e se precisa deixar de lado os estereótipos na hora de conversar. A data, 17 de Maio, aliás foi escolhida por ter sido o dia em que a OMS deixou de considerar doença o homoerotismo (embora, como vimos na edição passada desta colunéeeesima, a ciência médica ainda a considera como tal, em alguns casos). Portanto, só com a inteligência, o humor e a ternura é possível combater pra valer homofobias e outras ameaças. No entanto, a lei é necessária na mesma medida em que existe a Maria da Penha: dar guarida a uma categoria social que está à margem do Estado no plano da cobertura dos direitos civis básicos. Principalmente a segurança. Mas sobre o sabadão anti-homofóbicos, capitais brasileiras e cidades do interior mandaram ver nas discussões e manifestações. Em Recife, foram lembrados os assassinados e violentados em Pernambuco com 80 cruzes vermelhas na praia de Boa Viagem. Em outras cidades, manifestações em torno do PL 122/06, que institui a homofobia como crime. Mais uma vez, a gayzarada manoniquim marcou touca, e não se visibilitou socialmente. Será que não tem gay por aqui não??? Cruuuuuuuuuuuzzes! Sentiu a brisa, Neném?
Φ JUÍZA LANÇA MANUAL DOS DIREITOS DOS HOMOERÓTICOS. Ahhhhh! Gamou, gamaste, G-Amei! A juíza Cláudia Thomé Toni lançou no último dia 15 o “Manual dos Direitos dos Homossexuais: legislação e jurisprudência”. A obra é uma compilação de resoluções recentes de tribunais sobre casos que enolveram direitos homossexuais. Pra quem não sabe, a obra é importantíssima aos processos que virão, pois reforça o que o direito chama de jurisprudência (quando a decisão de um processo segue a tendência de casos anteriores). Certamente vai ser muito citado em peças processuais envolvendo homofobia e outros processos. Boa referência também para o estudo da condição jurídica do homoerotismo no Brasil: como o Estado (que nada mais é do que o corpo das leis e seus transbordamentos no Real) enxerga a questão da homofobia e dos direitos do homoerótico. Junto com o “Manual Prático dos Direitos de Homossexuais e Transexuais”, de Sylvia Mendonça do Amaral, são duas obras IM-PER-DÍ-VEIS pra ler com @ gatinh@ numa rede, depois de um rendez-vous! Sentiu a brisa, Neném?
Φ COMBATER HOMOFOBIA COM HOMOHUMOR. A Associação Britânica Gay de Futebol (GFSN) reagiu com humor à declaração do dirigente italiano Luciano Moggi de que os gays não podem ser futebolistas. Um porta-voz da associação enviou um convite formal ao dirigente, para que possa ver com os próprios olhos aquilo que ele nega com todas as suas forças que exista: um campeonato mundial gay de futebol. Nas palavras usadas pela GFSN, diante das “divertidas declarações”, o dirigente poderá “reconhecer a existência cada vez mais crescente de homossexuais neste esporte”. Moggi, como bom varão da moralidade à italiana, deve ter se revirado todo! O que ele não entendeu foi a lógica futebolística: o mundo é uma bola, a bola corre na grama, a grama alimenta a vaca, que antes da tecnologia invadir os gramados, dava o couro para que se fizesse a bola e o leite para alimentar os futebolistas. Tudo num encontro de produções. No caso dele, Moggi, fica só a degenerescência de quem segue o preceito moral do humorístico Cristo: “amarás ao próximo como a ti mesmo”. Segura, Papai!!! Sentiu a brisa, Neném?
Φ BANDEIRA TRINTONA!!!!!. A Bandeira GLBT, com suas seis cores (com variações), completa este ano seus trintinha, com carinha de zil anos de alegria e de movimento! A bandeira foi usada pela primeira vez em algum lugar do mundo, mas apareceu ligada à uma causa gay quando o estadunidense John Stout processou os locatários de seu apartamento por terem-no proibido de usá-la na sacada. De lá pra cá, muitas paradas gays nas paradas, a bandeira carrega a alegria do mundo gay por onde tremula. Não perca tempo, Mona! Pendure sua bandeira GLBT no mastro que você ama! Sentiu a brisa, Neném?
Φ MINISTÉRIO DA CULTURA LANÇA EDITAIS PARA PROJETOS NA ÁREA GLBT.O Ministério da Cultura, em comemoração ao Dia Internacional de Combate à Homofobia está lançando dois editais para concursos públicos voltados para a cidadania GLBTT. O primeiro terá como objetivo apoiar Paradas Gays pelo Brasil afora, fomentando o evento nas cidades onde ele ainda não acontece. O outro é o prêmio GLBT Cultural 2008, que deve financiar, com verba de até 9 mil tocos, 104 iniciativas de valorização da cultura gay. Ui! Podem se inscrever entidades sem fins lucrativos que atuem no cenário GLBT há pelo menos seis meses. Porreta! É nessa que a gente vai, agora genteeee, muita calma. Temos que aproveitar o fomento governamental para produzir não apenas reproduções do já-posto, mas criar, mostrar que os movimentos sociais GLBT são intensivos, e não apenas extensivos. Um bom governo não é o que toma conta do povo, mas o que fomenta a sua autonomia. Então, cérebros à obra e façam bonitos, bebês!
Beijucas, até a próxima, e lembrem-se, menin@s:
FAÇA O MUNDO GAY!