O NEGRO E O SABER QUE LIBERTA
Quando analisava a condição da classe operária relacionada com as máquinas, o filósofo Marx chamavam atenção para o cuidado que o trabalhador deveria ter com a tecnologia usada como instrumento de transformação de sua força de produção em mercadoria-salário. Justo porque a ciência pertencia ao burguês-patrão. O filósofo Sartre, desdobrando o saque da sutil exploração tecnológica do empresário sobre o trabalhador, mostrado pelo filósofo do Capital, apontou outra sutil exploração perpetrada pelo patrão contra o trabalhador negro. Nisso mostrou que o trabalhador negro era alienado duas vezes: uma, pela tecnologia que pertencia ao patrão; duas, porque era negro e teria de aprender uma tecnologia branca. O que, de certa forma, colocaria-o em posição de produção inferior ao trabalhador branco.
Muito bem, neste 13 de Maio, mês do aniversário de Marx(5), noticia-se que o número de estudantes negros inclusos no ensino público, em cinco anos, é maior que em dez anos. E que, das trezentas mil vagas do ProUni, cem são para os estudantes negros. Evangelho! Boa notícia! Entretanto, é necessário que nós, negros, tenhamos sutileza para analisar até onde essa semiótica entrelaçada nos saberes curriculares, que é produto do mundo do branco, pode contribuir para tecermos nossa liberdade. Até onde, sutilmente, ela afirma e preserva, ocultamente, sua força alienadora. Não devemos esquecer que a técnica branca aprendida/apreendida por nós na revolução industrial operou em nosso corpo a primeira prótese como corpo alienado. Ou seja, o prolongamento da máquina em nosso organismo, alterando de forma cruel suas funções originais. A pedagogia das máquinas era na verdade um cirurgia para transformar nossa força de produção natural em uma força virtual adaptada para operar mais eficazmente como fonte de lucro do patrão. O que para eles era uma humanitária obra cristã. Eis a irônica paródia do cinegrafista Hélio Petri em seu cinema “A Classe Operária Vai ao Paraíso”, onde o personagem principal, um torneiro, ama sua máquina.
Ser incluído no ensino superior é um direito, mas é preciso se obrigar a examinar as armadilhas que estes saberes podem engendrar para impedir que nos libertemos.