O nome de Freud é quase tão conhecido como a farinha. Tão famoso quanto outros homens famosos: Jesus Cristo, Marx, Nietzsche, Che Guevara, Maradona. Serve para variadas alusões: “Freud, explica! Freud explica, mas não resolve! É uma questão freudiana! É Freud, rapaziada! Este jogo tá Freud!”. E assim o psicanalista vai conferindo seu nome em muito territórios e estados de coisas, até na psicótica mídia-seqüelada. Escrever ou falar Freud ainda dá glamour, alguns acreditam. Até mesmo aberrando a pronúncia alemã: “O psicanalista Freudi…”. Mas o que vale é a intenção de freudianizar a ocasião. Para difundir mais ainda o nome do descendente do império Austro-Húngaro, a convite do diretor de cinema John Huston, o filósofo Sartre escreveu um roteiro sobre o edipiano-psicanalista, com o nome “Freud, Além da Alma”, que para o bem da filosofia, o diretor quis romantizá-lo, mas o filósofo da liberdade-Para-Si não aceitou. Agora tem estudante de psicologia e incautos afins acreditando que assistem o original. Mas parte da propagação do nome.

Muito sabem que Freud, mesmo patriarcalizado e emburguesado, revolucionou o pensamento. Criou a terceira ferida narcísica (a primeira foi Galileu, mostrando que a terra não era o centro do universo; e a segunda Darwin, mostrando que o homem é descendente do bom primata): o homem no subterrâneo de sua mente é um horror. Implosão da moral judaica-cristã-burguesa. Apesar de seus pseudos seguidores, e sua triangulação edipiana-familial, mostrou que o inconsciente é um oficina produtiva. Uma potência transformadora, muito diferente do que pretendem os sacerdotes da psicanálise, que o querem arcaicamente perdido em um passado destruidor do presente: a dívida do neurótico.

Todavia, o mestre vacilou quanto à terapia dos revolucionários loucos: era impossível sua cura, pois os mesmos não fazem transferência sobre o analista como fazem os neuróticos. Aí surgiram os anti-psiquiatras e trouxeram os fraturadores da mente e passaram pela fissura da censuradora normalidade. Nesta festa, estão os psiquiatras David Cooper, Ronald Laing, Berlinguer, Basaglia, Guattari, entre poucos.

Eis que hoje, pela manhã, no estado da Bahia, no município de Lauro de Freitas, foi lançado o PAC Plano de Aceleração do Crescimento. Como já habitual, onde Lula se encontra o povo está presente, expressando, compondo encontros que aumentam sua potência de agir. Passado a cerimônia introdutória, a prefeita Moema Gramacho, com uma verve e graça pouco encontrada na maioria dos prefeitos, mandou elogios reconhecedores aos presentes. Não teve preocupação, como acontece com outros administradores, em agradecer à presença dos estudantes que não tiveram aula para ir ao encontro do Sapo Barbudo. Listou as obras e trabalhos executados durante sua gestão com apoio do Governo Federal. Graciosa, comandou a festa. Foi então que colocou Freud e Lula. Falou da política de saúde mental que estavam realizando no município. E, agora sim, Freud treme, ofereceu a Lula um boneco idealizado e criado pelos revolucionários fragmentadores do desejo-burguês e do inconsciente-passivo, com o nome de “Lulinha Amigo”. Foi a cura da psicanálise: os loucos de Freud se libertaram fazendo transferência a Lula.

Sem querermos ameaçar o emprego de ninguém, mas sugerimos que, após o fim do mandato, Lula passe a atuar na política da saúde mental. Transferência ele consegue. Te cuida, Freud! Entretanto, em BG, em efeito sonoro, o povo em coro cantava: “Um, dois, três, Lula outra vez!”.

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