Principalmente para a cultura Ocidental, o Natal é uma festa ideal. Ideal como perspectiva/expectativa: Olhar desejo/produtivo fora. Futuração alegria/satisfação comunalidade. Rastros contagiantes democráticos. Ou seja: Quando os homens compõem afetos alegres com corpos matérias e imateriais. Trabalham, têm saúde e amam.  Entretanto, como idealização o Natal, na sociedade capitalística (Guattari: códigos culturais que vão além dos códigos econômicos) é um recurso da força opressiva: determinar nos homens apenas a esperança de um ‘mundo por vir’. Esperar o invisível, o indemonstrável,  postando-se como vítimas ao domínio do capital. Por onde perpassa a dita caridade cristã dos senhores. Truque da imaginação calculista divorciada do real o território atualizante do Natal. Enquanto homens fantasiam a esperança, os senhores vivem na bonança. E quando estes senhores encontram um governante capaz de fortalecer este truque, aí o Natal torna-se natal: círculo do vazio. Aí a materialidade da habitação: local da festa; o trabalho: salário para obter o necessário; a comida e a bebida; ingredientes da comunhão real, é substituída  pela fantasia esperançosa. Sem os objetos da experiência os homens recorrem à imaginação da espera.

Durante oito anos a maior parte do povo brasileiro recorreu à imaginação para atravessar o Natal. Durante oito anos, os objetos necessários a experiência se mostraram uma mera idéia ofuscando tenebrosamente na imaginação. Porque há governantes que vivem de suas representações mentais. Seus atos saem dessas representações para eles tão reais. Para eles, democracia é apenas uma idéia representada como conteúdo da consciência criada por ela mesma. Não um conteúdo produzido na experiência junto com outros homens de onde originam-se o trabalho, a habitação, a comida, a saúde e o amor. Modus de ser por onde se realiza o Natal. Assim, constitui-se os oito anos de Fernando Henrique: tempo da democracia como representação mental. A democracia/idéia do homem real inexistente. Foi desse Topos Uranos ideal que ele imaginou governar o Brasil. O Brasil imaginário. O Brasil onde a experiência direta é impossível e é substituída pela anti-percepção: representações mentais. Anulação do real/social. Denegação política. Por isso ele afirma que Lula não tem formação intelectual. Mas não pode anular Lula. Pois Lula, diferente do sociólogo/imóvel, carrega um intelecto não formado, sempre pronto para engendrar atos políticos impulsionados pela potência de suas experiências junto ao povo brasileiro. Seu intelecto não é um topos onde ele se esconde para evitar o real/social. Seu intelecto movimenta-se na ordem dos entrelaçamentos políticos de seus devires/experiências. Daí porque a maior parte dos brasileiros poder nesta fluência festeira vivenciar o Natal. O Natal com um Cristo da produção tecida na experiência comunalidade com seus amigos. Daí, Lula ter razão (operação racional) em afirmar: “O Fernando Henrique tem mais formação intelectual que eu, mas eu sei administrar o Brasil muito mais que ele”. Por tal, o povo completa: “Eis o Natal!”

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