O JOVEM E O PARLAMENTO
Conta uma lenda antiga que, estando uma cidade sob o domínio da estagnação política- social, seus dirigentes, preocupados com o que de mais grave poderia acontecer, consultaram os mais velhos e receberam a resposta de que não havia nada de novo sob a luz do sol. Angustiados e impotentes se curvaram sob a força do imponderável. Quando tudo parecia perdido, eis que se apresenta um sábio, vindo de terras distantes, e diz haver algo de novo sob a luz do sol: A juventude. Pois bem, o sábio tinha a compreensão das mutações ontológicas que acontecem quando gerações antecedentes, comprometidas historicamente com a existência coletiva, criam eticamente uma morada aos homens para que eles vivam como responsáveis pelo mundo e deixem para as gerações posteriores a livre responsabilidade de criar sempre o novo, onde a polis se movimenta continuamente. Mas quando gerações perdem esse compromisso, deixam como legado aos jovens a descrença pela vida. E só somente a crença em sua própria potência como criadora do novo, pode a juventude, livre de um passado negador, produzir o novo sob a luz do sol.
Deputados do Amazonas aprovaram um projeto designado como Parlamento Jovem. Permite estudantes participarem das sessões para compreenderem os meandros legislativos: os caminhos de funcionalidade da casa. Pequeno Expediente, Ordem do dia, apresentação e votação de Projeto de Lei, etc. O óbvio. O desnecessário, principalmente quando alguns possuem TV a cabo e podem muito bem aprender todos estes códigos sem ter que ir ao ambiente. Entretanto, para os que não possuem, uma simples visita dos estudantes resolve. O certo é que os deputados autores do projeto afirmam categoricamente tratar-se de algo imprescindível aos jovens para sua formação democrática. Talvez até, teoricamente, auxiliasse se a postura dos deputados fosse realmente democrática. Se primassem pela autonomia do Poder Legislativo e não se tornasse um simples serviçal do Executivo. Se os projetos saíssem de uma reflexão impulsionada pela potência democrática e não dos interesses particulares e da ficção megalomaníaca, como o projeto da ponte metropolitana, Manaus-Iranduba. Se práxis internas do legislativo não se apresentasse como deboche. Como comumente sai do deputado Berlarmino Lins, autor do projeto, que na presença dos estudantes e diretores de escolas – que o elogiaram – acreditando possuir verve humorística, apresentou performance de piadista inútil, pior que Jô Soares, com a conivência do deputado Sinésio, também mote da graça desgraçada. Todavia, este quadro não serve a percepção e cognição dos jovens. Os jovens carregam suas próprias potências e não precisam de mestres que, nem no passado ou presente, tiveram compromissos ontológicos fundamentado na potência/virtús da democracia. Se nossos jovens acreditarem no realismo raso destes antigos, cairão na impotência de que não há nada de novo sob a luz do sol, e serão responsáveis pelas mazelas e frustrações dos velhos. Velhos cronológicos e epígonos: os jovens que já nasceram de cabelos brancos. Os que acreditaram nas certezas dos antigos reacionários. Mas os jovens sabem que parlar, parlamento, é produção de entrelaçamentos de potências individuais resultantes na potência comunalidade democrática. O resto é ficção eleitoral.