ANA GABRIELA: DENGUE EXPLODE NO BRASIL, COM 217 MIL CASOS E 15 MORTES SÓ EM JANEIRO
Atual número de casos é cinco vezes maior que o índice registrado no mesmo período de 2023. Segundo infectologista, o país perdeu o “timing” para erradicar Aedes
O painel de monitoramento de arboviroses do governo também contabilizou 15 óbitos em decorrência da doença neste ano, mas há outras 149 mortes em investigação. A situação levou o Distrito Federal, além dos estados de Minas Gerais e Acre, a decretarem estado de emergência em saúde pública.
O mosquito Aedes aegypti é transmissor de todas as arboviroses que atualmente circulam no país, como a Dengue, Chikungunya e Zika. Segundo o Ministério da Saúde, a dengue é a arbovirose urbana mais prevalente no Brasil, transmitida pela picada da fêmea do mosquito.
A pasta relaciona o aumento de casos da doença a fatores climáticos, como o calor excessivo e chuvas intensas efeitos do El Niño, além do ressurgimento recente dos sorotipos 3 e 4 do vírus no Brasil. Isso porque o verão contribui para o aumento da população do mosquito, que pode usar como criadouros espaços com água parada, desde caixas d’água até vasos de planta.
“Calor e muita chuva intermitente são a combinação principal para a dengue. Por culpa, de certa maneira, do El Niño. O Aedes aegypti se reproduz mais rápido e vive mais quanto mais elevada é a temperatura. A situação é essa. Ele vive mais e se multiplica mais“, explicou o infectologista Antonio Carlos Bandeira, em entrevista à Agência Brasil.
Ressurgimento do sorotipo 3 da dengue no país
O sorotipo 3 da dengue não circulava de forma epidêmica há mais de 15 anos no Brasil, mas voltou a preocupar, alertou Bandeira, que descobriu a chegada do vírus Zika ao país em 2015.
“O sorotipo 3 realmente preocupa porque é mais um sorotipo para causar a doença. Por outro lado, pode ser que ele não seja dominante na maior parte dos estados do Brasil. O que a gente está vendo hoje é que os sorotipos 1 e 2 estão fazendo uma grande quantidade de notificação no Brasil como um todo“, explicou.
Segundo o especialista, no entanto, “neste momento, independentemente do sorotipo, preocupa a grande quantidade de casos que a gente tem. Porque uma grande quantidade de casos implica uma grande quantidade de complicações e uma grande quantidade de possíveis óbitos“, pontuou.
Bandeira afirmou ainda que Aedes aegypti, que chegou a ser erradicado do território brasileiro por volta de 1950 como resultado de medidas para controle da febre amarela, “veio pra ficar“.
“O Aedes veio para ficar e só faz aumentar. Começou em 1980 no Rio de Janeiro e, hoje, já está presente em praticamente todos os municípios do Brasil. É um mosquito altamente domiciliável. Nessas temperaturas elevadas, não tem como. E a tentativa de trazer aqueles mosquitinhos transgênicos, que realmente poderiam ajudar num determinado momento, hoje em dia, não tem como. Você teria que soltar mosquitos transgênicos aos bilhões no Brasil inteiro. A gente realmente perdeu o timing da coisa porque ficou parado. Ficou-se, todos os anos, esperando que a epidemia fosse embora. Mas o vírus não entende os apelos e os clamores humanos. Ele quer continuar. Veio pra ficar mesmo. A saída nossa agora é a vacina. Não tem outra“, destacou.
Início da vacinação no Brasil
Em dezembro passado, o Ministério da Saúde anunciou a incorporação da vacina da dengue Qdenga ao Sistema Único de Saúde (SUS). Na semana passada, as primeiras doses chegaram ao país.
A previsão é que distribuição da vacina para os 521 municípios brasileiros selecionados pode começar na segunda semana de fevereiro.
A ministra da Saúde, Nísia Trindade, disse nesta terça-feira (30) que as doses ainda não começaram a ser entregues em razão de uma exigência da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a ser cumprida pelo laboratório Takeda, responsável pela produção do imunizante.
Com informações da Agência Brasil