FILÓSOFO VICTOR LEANDRO*: AS TAREFAS REVOLUCIONÁRIAS DO ESCRITOR

Schopenhauer disse uma vez que há dois tipos de escritor: os que escrevem por escrever e os que escrevem porque têm ideias. Numa tradução leninista, poderíamos afirmar que há também os escritores que escrevem para serem notados e os que escrevem porque assim fazem a revolução. Como todo aforismo, este não explica muita coisa, pois diz pouco a respeito do que cabe ao autor revolucionário. Afinal, o que o distingue enquanto tribuno do povo? Este é o ponto a ser respondido.
Primeiramente, é preciso lembrar que a visão do escritor como operário intelectual é bem antiga. Marx está aí como prova. Também já em O que fazer?, Lenin propunha com acuidade a divisão do trabalho de divulgação das ideias socialistas entre o teórico, o propagandista e o agitador. Ao primeiro, caberia o ofício de desenvolver as posições centrais do marxismo, sempre em face dos processos reais; ao segundo seria dado o trabalho de persuasão, com textos de caráter mais acessível às grandes massas; já o terceiro assumiria a incumbência de ir às ruas e falar diretamente ao povo, mobilizando para as ações de caráter efetivamente transformativo do mundo social constituído.
Obviamente, essas separações não são estanques. Porém servem muito bem para situar o que diz respeito a cada um no trabalho da promoção de nossas vias de pensamento e praxis. Ao indivíduo das letras, o que lhe compete é sobretudo escrever, não da maneira romântica e inspirada, ou descompromissada e intermitente, mas de uma forma contínua, atuante, operária, sempre a procurar os meios de tornar mais claros e aprofundados os objetivos que regem o pensar do comum, os quais, com generosidade e espírito colaborativo, mas sem perder o rigor crítico, devem ser oferecidos aos demais elos da cadeia progressista, no que modestamente ele consuma sua contribuição na dura e a cada dia mais insidiosa batalha das ideias.
Ao longo do período de quarentena, o Segunda Via perseguiu esse propósito, procurando diariamente contribuir para pensar o tempo presente. Agora, quando precipitadamente se aproxima o cenário pós-pandêmico, o fluxo das ações cotidianas tornará esse trabalho menos assíduo. Entretanto, seguiremos atuantes em nossa tarefa, buscando oferecer sempre algum contributo intelectual que se insira na dinâmica sistêmica de desarticulação do mundo burguês. É assim que iremos em frente. É assim que não desistiremos até encontrar a esfera própria de nosso desígnio.
*Victor Leandro é filósofo, escritor, analista-político, novelista, doutor e professor da Universidade do Estado do Amazonas (UEA).