BREVE CONSIDERAÇÃO SOBRE BOLSONARO E A DESREALIZAÇÃO DO PRINCÍPIO DE REALIDADE

PRODUÇÃO AFINSOPHIA.ORG
A mentira é um recurso usado por um sujeito-sujeitado para dissipar o real que lhe incomoda O real que o mentiroso não sabe como lidar. Porém, existem dois tipos de mentiras, como dissipação da realidade: uma mentira que pode ser analisada pelos métodos considerados psicossocial como normal, embora a mentira nunca seja para o real recurso normal, visto que ela também atenta contra o princípio de realidade, e uma mentira que já se retirou do princípio de realidade como normalidade por trata-se de delírio. Caso para a psiquiatria.
Nos dois casos a mentira surge como fuga do real. Real insustentável. Nada de amor fati, como diz o filósofo Nietzsche. Mesmo a dita simples mentira. No primeiro caso, a mentira é produção livre do mentiroso. Sai de sua consciência que analisou o real como insustentável. No segundo caso, a negação do real é um efeito das pulsões inconscientes daquele que se mostra distante do real pois sucumbiu diante das forças opressoras do sistema. Principalmente o sistema capitalista que é o grande propulsor de todas as formas de mentiras produzidas por sua axiologia. Daí, ser um caso de psiquiatria. A mentira produzida livremente é, além de sua realidade cognitiva do real, é um ato notadamente moral, e que pode ser examinado pela moral-social.
Como no mundo-humano tudo é política, a política, em seu sentido filosófico-dialético, surge para o mentiroso como um forte obstáculo para ele se tonar um ente-humanizado. O que lhe desperta uma compulsiva inveja. O sentimento-triste de ser preterido do mundo-humano-político. O que faz com que sua mentira não se reduza apenas ao seu egoísmo-solipsista. Por tal, uma mentira concretizada no mais recôndito território não escapa de ser tida como um atentado-político. Desta forma, o mentiroso, é um impotente-político. Não importando sua classe, sua condição econômica, intelectual e moral.
Sem poder se tornar humanamente-político, o mentiroso é inimigo da democracia, visto que é a mentira quem sustenta a tirania. A história mostra que todas as tiranias se mantiveram apoiadas pela mentira. Não haveria o nazifascismo sem a mentira. Goebblels e Streicher foram os grandes apologistas das mentiras nazifascistas que atingiu todo o mundo como forma de negação do real democrático. Nessa perspectiva, foram grandes delirantes. Porém, o delírio nazifascista não deve ser confundido com o delírio-clínico. Aquele em que o paciente é diagnosticado, participa de uma psicoterapia para ser reconduzido ao princípio de realidade com mais mecanismos de defesa para não sucumbir novamente. Já o delírio nazifascista permeia a vida das pessoas sem ser visto como psicopatologia. Este o maior perigo como mentira. Ainda mais quando a mentira serve para eleger candidatos alcunhados de políticos.
Embora se comente mais esses dois tipos de mentiras, entretanto, existe outro. Trata-se da mentira oscilante. Existencialmente, esse mentiroso é traspassado por um eu que continuamente se desloca como mentira e como não-mentira. Ele mente, sustenta a mentira por alguns momentos, quando o mundo, para ele, surge como insustentável, para logo em seguida, quando sente a distensão do mundo através de sua imaginação-dissipadora, e acredita que o mundo se adequou à si, ele, volta a negar sua mentira. Em sua contínua oscilação de vontade, ele não consegue experimentar o real como indicador da existência-política-humana. Alguém poderia aventar que trata-se, como diz Freud, de exacerbação do ego-narcisista, mas não é, posto que ele, em sua contínua-oscilação de vontade, não consegue investir sua libido narcisa no mundo real.
Com a propagação da pandemia do coronavírus, Bolsonaro tem se enredado com o princípio de realidade-mundial-médico-científico. Com sua verve, negadora da política, ele tem feito declarações que estão sendo grandemente condenadas tanto pelas pessoas lúcidas e até pela menos lúcidas.
“O que está errado é a histeria, como se fosse o fim do mundo.
A economia estava indo bem, fizemos algumas reformas, os números bem demonstravam: a taxa de juros lá embaixo, a questão do Risco Brasil também, então estava indo bem. Esse vírus trouxe uma certa histeria e alguns governadores, no meu entender, eu posse até estar errado, estão tomando medidas que vão prejudicar e muito a economia”, completou.
Para quem sabe o que é desrealização do princípio de realidade, reconhece nas afirmações de Bolsonaro que trata-se de desfile de mentiras. A economia, depois do golpe nunca esteve bem. Com seu evento piorou. E o coronavírus não é histeria, nem no sentido freudiano e nem no sentido bolsonariano, que não sabe sequer o que é a histeria como neurose classificada por Freud.
Coronavírus existe. É real e não há como negá-lo recorrendo ao imaginário-dissipador como forma de defesa de ego. Milhares já foram infectados e algumas pessoas já faleceram por sua atuação. São Paulo já apresentou casos de falecimentos.