PLANILHA REVELA MOTIVO PARA MANTER MINISTRO ANTICORRUPÇÃO NO TURISMO: LARANJAL FEMININO POFDE TER ABASTECIDO CAIXA DOIS DE BOLSONARO EM 2018


Da Redação Viomundo.
Uma reportagem publicada neste domingo pelo diário conservador paulistano Folha de S. Paulo é relevante por vários motivos.
Alguém vazou para o jornal uma planilha comprometedora para o ministro do Turismo Marcelo Álvaro Antônio, o deputado federal mais votado em Minas Gerais em 2018.
O evangélico migrou do Partido da República para o PSL na onda do bolsonarismo e obteve 230.008 votos, com uma plataforma de defender a família da corrupção.
Ele votou pelo impeachment de Dilma Rousseff em 2016 em nome da esposa Janaína, das filhas Amanda e Ana Clara, da mãe e da família “de cada um dos brasileiros”, pedindo naquela sessão nefasta e histórica que “Deus abençõe o nosso Brasil” — mais tarde, o igualmente corrupto e evangélico Cunha pediria “que Deus tenha misericórdia dessa Nação”.
O vazador do conteúdo da planilha para a Folha de S. Paulo pode ter sido alguém da Polícia Federal ou do Ministério Público.
Vingança?
O ministro foi indiciado na sexta-feira, 4, por falsidade ideológica eleitoral, apropriação indébita de recurso eleitoral e associação criminosa.
Ele teria montado um esquema para preencher a cota de candidatas do PSL em Minas Gerais com laranjas, em benefício próprio e do partido, que presidia no estado.
A planilha, de uma fornecedora de laminados, a Viu Mídia, traz uma anotação de pagamentos que diz “out”, interpretada por investigadores como sendo “por fora”.
A planilha lista a entrega de 2 mil laminados para a campanha presidencial de Jair Bolsonaro, sendo o pagamento de R$ 4.200,00 “por fora” e R$ 1.550,00 com nota fiscal.
A campanha presidencial de Bolsonaro não registrou nenhum gasto com a Viu Mídia na prestação de contas apresentada ao Tribunal Superior Eleitoral.
Em julho deste ano, Bolsonaro havia declarado: “Tem que ter acusação grave, com substância. Por enquanto não tem nada contra ele [ministro], ainda se o assessor falar e for confirmado que ele tem participação, aí a gente toma providência”.
Haissander de Paula, o assessor parlamentar a que se referia Bolsonaro, coordenou a campanha do agora ministro e disse em depoimento à Polícia Federal que o dinheiro das candidatas laranjas foi desviado para as campanhas de Marcelo Álvaro e Jair Bolsonaro.
Quatro candidatas do PSL em Minas receberam dinheiro público do fundo partidário mas obtiveram apenas 2.074 votos.
Haissander, mais tarde, voltou atrás em seu depoimento.
Agora, a defesa do ministro alega, incrivelmente, que a acusação tenta aplicar a “teoria do domínio do fato” a Marcelo Álvaro, que não teria responsabilidade por decisões tomadas por subordinados durante a campanha.
A teoria do domínio do fato foi aplicada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) — erroneamente, aliás, segundo o criador da teoria — para condenar lideranças do PT no caso do mensalão.
“Ele não chegou ao final da linha. Se for algo de grave, substancioso, a gente toma uma decisão. Ele está fazendo um brilhante trabalho”, disse Bolsonaro a respeito do ministro neste domingo, 6, mesmo depois do indiciamento de Marcelo Álvaro.
A denúncia contra o ministro ainda tem de ser aceita pela Justiça.
Também foram denunciados Naftali Tamar de Oliveira Neres (candidata a deputada federal, R$ 70 mil recebidos, 669 votos), Camila Fernandes Rosa, ou Milla Fernandes (candidata a deputada federal, R$ 72 mil recebidos, 334 votos), Debora Gomes da Silveira (candidata a deputada estadual, R$ 72 mil recebidos, 885 votos), Lilian Bernardino de Almeida Marchezini (candidata a deputada estadual, R$ 65 mil recebidos, 196 votos), Roberto Silva Soares, Reginaldo Donizete Soares, Marcelo Raid Soares, Mateus Von Rondon Martins e Haissander Souza de Paula.
Segundo o promotor Fernando Abreu, “o denunciado Marcelo era a cabeça principal dessa associação que foi montada para praticar a fraude na utilização dos recursos do fundo partidário eleitoral”.
Já é possível antever a “jogada” do bolsonarismo no caso: Haissander de Paula segura a bronca do chefe, o Mito preserva um aliado eleitoral importante em Minas Gerais e não corre o risco de ser tragado pelo laranjal do qual se beneficiou.
Eu tinha contato com quatro assessores do Marcelo Álvaro [presidente do PSL em Minas]. Ficávamos aguardando as verbas para campanha. Um dia o Robertinho [assessor] me chamou para ir no hotel onde ele ficava hospedado, na Avenida Brasil, em Belo Horizonte. Pediu para eu subir no apartamento, perguntei se ele tinha posição sobre o que eu pleiteava, que era ser presidente do PSL mulher. Ele disse que tava encaminhado. Mas, na verdade, eles estavam me enrolando, porque a prioridade era só eleger o Marcelo. Perguntei do fundo partidário. Foi quando ele me fez uma proposta para que eu recebesse R$ 100 mil. Ficaria com 10% para minha campanha e assinaria cheques em branco para que ele pudesse, com os R$ 90 mil restantes, pagar a campanha de outros candidatos. Adriana Moreira Borges, candidata do PSL a deputada federal.
Ele [ministro] disse pra mim assim: ‘Então a gente vai fazer o seguinte: você assina a documentação, que essa documentação é pra vir o fundo partidário pra você. […] Para o repasse ser feito, você tem que assinar essa documentação. E eu repasso a você R$ 60 mil, e você tem que repassar pra gente R$ 45 mil. Você vai ficar com R$ 15 mil para sua campanha. E o material é tudo por nossa conta, é R$ 80 mil em materiais. Zuleide Oliveira, candidata do PSL a deputada estadual.