FILÓSOFO VICTOR LEANDRO: O MEC, A UNIVERSIDADE E A POTÊNCIA FILOSÓFICA

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Foi Schopenhauer quem afirmou que raros eram os filósofos a se tornarem professores de filosofia. Porém, mais difícil ainda, dizia ele, era os professores de filosofia se tornarem filósofos. Nas cátedras acadêmicas, os pensadores não poderiam fazer mais do que enjaular-se em moldes institucionais, ao ponto de o próprio Estado passar a vê-los como ínfimos, chegando até mesmo a custear-lhes o sustento.

Estereótipos à parte, o que podemos depreender dessas observações é que existem pelo menos duas classes de filósofos. Os perigosos e os inofensivos. Os transgressores e os subservientes. Os malditos e os canônicos. Aos primeiros, cabe toda espécie de ressalva e temor. Aos segundos, as glórias e elogios dos governantes ou, para colocar em termos mais contemporâneos, as palestras caras e as participações especiais em programas televisivos no horário nobre.

O MEC, ao indicar o fim dos cursos de filosofia no país, não causou o menor dano aos primeiros filósofos, tampouco à filosofia. Livre e provida de sua máxima potência, ela segue seu devir transfigurador para além das mediocridades de seus incapazes agressores. Já os segundos foram atingidos em cheio – o que, é preciso dizer, não deixará de causar prejuízos destruidores à organização do conhecimento, contra os quais devemos levantarmo-nos com veemência – e precisam agora deixar seus gabinetes e responder não somente como professores, mas como os filósofos que pretenderam ser. Se ainda permaneciam sonhando com categorias metafísicas, eis que é chegado o real a que devem destinar seus conceitos como meio de transformação.

Sim, a filosofia é um esporte de combate, mas somente para aqueles que empunham as armas da crítica. Na sua constituição puramente livresca, ela não é mais do que um exercício ameno para eruditos. Como todos sabem, estes já interpretaram o mundo de diversas maneiras, de forma que é preciso dar o passo adiante. Que sejamos nós a ultrapassarmos essa linha. Que a tirania tema novamente a filosofia como o movimento da criação destruidora.

Victor Leandro da Silva
Prof. Adjunto da Universidade do Estado do Amazonas
Coordenador do Curso de Licenciatura em Ciencias da Religiao – PARFOR/UEA

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