DOS FAZERES E DIZERES DA ECONOMIA MENOR
“Os pobres se esquivam pelas barreiras e
cavam túneis que enfraquecem as muralhas.”
(Toni Negri, filósofo italiano)
Enquanto os grandes supermercados vão sendo abarrotados pelas frutas e verduras enlatadas ou ‘envidradas’ e congeladas, geralmente provenientes da agro-indústria, com todas as suas adubações químicas, transgênicos e demais experimentos prejudiciais ao ser humano, e também aos bichos, onde encontrar aquele jenipapo engelhado, na hora de preparar o vinho, a laranja docinha de chupar, pendurando a casca para o chá pra dor-de-barriga, o suculento limão pra lavar o peixe ou pra preparar aquela ardente caipirinha, o tomate pra salada, o repolho pra sopa de mocotó, pimenta-de-cheiro, não se engane com a murupi, maçã, coco, maracujá…? Uma das poucas chances em realizar o sonho de uma alimentação ao natural, é gritando por seu Josafá quando ele passar. Seu encontro com ele significará o encontro de seu corpo com o corpo caju, numa composição que afastará corpos maus como coca-cola, e mesmo quissucos, e assim você poderá preservar seu corpo e sua alma para realizar ações úteis a sua rua, sua cidade, ao mundo…
SEU JOSAFÁ: FRUTAS E VERDURAS PARA A SAÚDE DE CORPO E ALMA
Josafá — É Josafá de Araújo Barbosa.
Bloguinho — Você é daqui mesmo do Amazonas?
Josafá — Não. Sou do Maranhão. Nasci e me criei no Maranhão, em Bom Jardim; é uma cidade, grande, fica na beira da BR-316.
Bloguinho — Há quantos anos mora aqui em Manaus?
Josafá — Estou com nove anos. Vim em busca de condições melhores. Aqui eu tenho me dado bem. Tô esse tempo todinho aqui com minha família e estou me sentindo bem.
Bloguinho — E há quanto tempo vende frutas?
Josafá — Cinco anos.
Bloguinho — Trabalhava antes em quê?
Josafá — Era servente de pedreiro, na construção civil. Mas aqui tá muito melhor, ganho melhor, só trabalho até o meio-dia.
Bloguinho — Onde o senhor consegue as frutas?
Josafá — Compro lá na Manaus Moderna, faço compra terça. Vou pra lá 9h e chego de volta umas 3h da tarde. Trabalho quarta, quinta, sexta, sábado e segunda.
Bloguinho — Como compra? É encomenda ou…?
Josafá — Saio verificando o preço. O pessoal todo já tem conhecimento com a gente, pois estamos lá toda terça-feira. Às vezes fazem um desconto, às vezes não dá, mas quando dá eles fazem desconto, porque a gente compra direto, em quantidade e não é só uma coisa, são vários tipos.
Bloguinho — E os dias de venda, como é?
Josafá — Saio 7 e meia da manhã e volto mais ou menos meio-dia e meio. E não vou fazer mais nada, só descansar mesmo. A gente anda bastante. Começo daqui do Novo Aleixo, vou pro Mutirão, desço ali pelo outro lado do Novo Aleixo, vou pro São José dos Campos, São José I, II e III. Quando chego lá na Grande Circular, aí venho de volta pra casa. São cinco bairros. Eu vario as ruas. Passo duas vezes por semana em uma rua, duas por outra. Aonde eu passei hoje, não passo amanhã.
Bloguinho — E a clientela?
Josafá — Tenho uns fregueses já certos, alguns que já vem de cinco anos, dá pra gente encostar nas casas; sempre tem uns amigos, aqui e acolá a gente para, um minuto, dois minutos; mas a gente vende assim mesmo pro pessoal na rua. Eu saio andando e vou gritando sobre as frutas que tem.
“No Amazonas tudo se dá…
Se você não planta, compre do seu Josafá.”
Bloguinho — O que você tem aí?
Josafá — Frutas e verduras. Geral, do cheiro-verde pra cima. Tomate, cebola, batata, limão, maçã, maracujá, laranja, coloral, pimenta-do-reino, tucupi…
Bloguinho — O preço tá meio salgado ou tá bom mesmo?
Josafá — Varia, a laranja, maçã, maracujá, é 2 reais; cebola, tomate, batata, a sacolinha assim é 1 real. O jenipapo também é 1 real.
Bloguinho — Tem alguma que geralmente sai mais?
Josafá — O que a gente sempre vende bem mesmo é banana. Mas vende de tudo; dia vende mais, dia vende menos, mas vai indo.
Bloguinho — Por causa da “crise”?
Josafá — Não, não, tá normal. Só pros banqueiros (risos).
Bloguinho — Estão querendo atrapalhar os seus negócios?
Josafá — É… O capital de giro não pode acabar não, tem que ter.
Bloguinho — Quanto é que dá pra puxar em média por semana?
Josafá — A gente não tem uma base certa, porque todo dia a gente gasta, todo dia a gente come. A gente fatura assim uns 400, 500 reiais por semana. O apurado. O lucro é uns 100, 150, por aí.
Bloguinho — Dá pra segurar?
Josafá — Melhor do que o que tava. Eu tô achando. Eu tô com cinco anos, e é com isso que eu consegui essa minha casinha aí.
Bloguinho — Dá pra manter os meninos?
Josafá — Com os meninos tá tudo bem. Só tenho os dois, um menino e uma menina, e a companheira. A família tá bem. Os meninos tão estudando.
Bloguinho — Sonha em arranjar um outro emprego, de ter um patrão?
Josafá — Não, não, prefiro trabalhar assim mesmo. Não quero mais trabalhar de carteira assinda não.
Bloguinho — Como trabalhador, o que você acha de um trabalhador-presidente?
Josafá — No meu ponto de vista, o presidente que melhor que já pintou foi o Lula mesmo. É a minha opinião, mas eu acho que tá quase todo mundo combinando com a minha opinião.
Bloguinho — Tá bom, então?
Josafá — Tá bom; tá melhor do que antes. A gente sempre espera melhora, mas o melhor é que Deus continue dando saúde pra gente, que com saúde a gente tem coragem de trabalhar. Do jeito que tá dá pra mim tirar o sustento da minha família, e tá muito bom. Hoje em dia ninguém enrica mais não.
Bloguinho — Só os ditos políticos?
Josafá — Sobre os políticos é melhor a gente nem falar. Eles estão sujos um bocado.
Bloguinho — Pra você, que empurra um carinho, os daqui de Manaus não estão ajudando?
Josafá — Hum! As ruas estão todas esburacadas. Olha ali a roda, tá toda empenada. Deu dentro de um buraco ali, empenou meu aro. A coisa tá feia na cidade. Essa rua nossa aqui tá uma bênção.
Bloguinho — Mas mesmo assim, com eles tentando atrapalhar, deu pra vender tudo?
Josafá — Não foi muito bom não, mas vendeu um bocado. A banana só ficou essa daqui que eu deixei pra você, a mulher até queria comprar ali, mas eu disse que já tava reservada…
Bloguinho — Pô, a gente, que nunca comprou, já começa sendo cliente especial?
Josafá — De vez em quando a gente precisa segurar uma freguesia nova pro negócio andar (risos!).