O “FENÔMENO” DA MÍDIA SEM VIDA INTELIGENTE

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Nos primórdios de sua existência, o homem, ao perceber a Natureza com seus atributos e seus modos de ser, não conseguindo refletir sobre seus movimentos, espantou-se, contraindo-se e gritando. Estava criado o fator básico da superstição, o espírito-imóvel das religiões. Para os filósofos da Escola de Frankfurt, o Mana, “o espírito motor” da indiferenciação, “o desconhecido, o estranho, aquilo que transcende o âmbito da experiência”, como afirmam os filósofos Adorno e Horkheimer. O sobrenatural. Nada mais do que produto da imaginação do homem, “eco da supremacia real da natureza nas almas fracas dos selvagens”. Nada de fenômeno. Pois sendo a natureza a Substância Causa e Efeito de si mesma, nada lhe é alienado, como seria o fenômeno, algo que não lhe pertence.

Para o filósofo alemão Immanuel Kant, o fenômeno é o conteúdo da consciência constituído pela intuição e a razão. Ou seja, a experiência (impressões dos sentidos) e a operação racional do homem produzidos pelas formas transcendentes do conhecimento tempo e espaço. Em síntese, o fenômeno é a representação do conhecimento humano, a idéia, tudo o que ele pode afirmar como conhecido, já que a coisa em si, o númeno do objeto, ele não pode conhecer.

Para a Fenomenologia, método de conhecimento, principalmente dos existencialistas, o fenômeno, no caso do filósofo Husserl, é a percepção do objeto em determinada perspectiva ou perfil. Já para o filósofo Sartre, que recebeu grande influência de Husserl, “o fenômeno é o que se manifesta, e o ser manifesta-se a todos de algum modo, pois dele podemos falar e dele temos certa compreensão”. No sentido ‘capivarol’: o fenômeno é o objeto que permite à consciência se constituir em “um ser que ela não é”.

O “FENÔMENO DA MÍDIA

Como se pode inferir das três proposições, o “fenômeno” que a mídia se refere não encontra sustentação em nenhuma delas, dado ao seu impressionante grau de limitação intelectiva. Fato que o analista esportivo — um dos raríssimos inteligente — Armando Nogueira já propagava. Observando o uso indevido do termo fenômeno, que vem sendo atribuído ao ex-jogador Ronaldo, prova tudo. Ronaldo sempre foi um jogador mediano. Ainda mais se o compararmos aos craques de 70, sem precisar de Garrincha e nem Pelé. O que ocorreu foi que ele apareceu em um tempo carente de bons jogadores no mundo todo, e foi proporcionado em uma Copa que a maioria dos jogadores dos clubes da Europa não queria participar. Desta forma, ajudado pela força do marketing, casado com sua ambição capitalista, tornou-se pela mídia acéfala, o “fenômeno”, que ainda hoje é propagado pateticamente nos lamentosos jogos do Corinthians, apesar de Dentinho.

Tirando alguns movimento laterais, que alguns consideravam dribles desconcertantes, Ronaldo foi um Adriano antecipado. Jogador de “arranque”, como se falava nas antigas. Nunca a razão suficiente do futebol. O que dá a forma e a causa da matéria: o jogo. Agora, o acelerador deu lugar ao freio. Saído de algumas paradas, por forças das cirurgias, Ronaldo se mantém através da ambição do clube e dos devaneios da mídia alienada, a ponto de Juca Kfouri escalá-lo entre os dez melhores jogadores do mundo. O que leva o examinador do futebol acreditar que o mundo dos craques encolheu para o engraçado Juca.

Hoje, alquebrado, cansado e sem querer ‘necas’ com a pelota, como é fácil perceber — embora ainda tenha idade para fazer alguns golzinho —, Ronaldo chegou cedo demais para Romário. Um time inteiro jogando para ele, enquanto na platéia e nas cabines da mídia, na falta de outra ilusão, ensaia-se a litania: “Faz um gol, ‘Fenômeno’”. E ele se arrasta no campo, rindo, segurando desesperado na triste pele que a mídia lhe coseu com os fios da culpa e do lamento. O sustento de sua voracidade capitalista.

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