FÁBIO JR, O FILÓSOFO PAUL NIZAN E OS 20 ANOS
“Eu tinha vinte anos. Não consentirei que ninguém diga que é a mais bela idade da vida”, disse o filósofo Paul Nizan em meio as suas inquietações existenciais nas primeiras décadas do século XX. Paul Nizan era um homem bonito, um lorde engajado, afirmou seu amigo Sartre, que prefaciou, postumamente, seu livro Aden Arábia, com uma escrita sendo uma das maiores revelações da força da amizade de um homem por outro. Um tratado sobre o amar ontologicamente engajado. Uma manifestação do comprometimento de que o homem só constrói sua essência quando se toma como existindo. O fundamento da filosofia sartreana. Um homem é o que faz de si do que lhe fizeram. É suas escolhas.
Paul Nizan, este homem belo, inquieto, que chamou os filósofos reacionários de sua época de cães de guarda do sistema capitalista, desdialetizados com seus pruridos burgueses, e foi assassinado pelo nazismo, em plena juventude, como diriam os românticos burgueses, entendeu o que era ter 20 e poucos anos em uma sociedade que pontua a temporalidade com suas mistificações opressivas.
OS VINTE E POUCOS ANOS DE FÁBIO JUNIOR
“Menino, o que você vai ser quando crescer”?, pergunta ansiosa dos adultos. Essa pergunta se desloca(?) em várias ocasiões/temporais. Antecipar o amanhã, um belo truque. Os governos são mestres nesse ardil: “A criança é o futuro!” A mídia sabe muito bem tratar desse tema. Embrulha um “ídolo”, e joga na esteira do consumo como novidade eterna, com aval do produto. Foi assim com a condescendência do eterno adolescente Fábio Júnior.
“Nem por você, nem por ninguém eu me desfaço dos meus planos; quero saber bem muito mais que meus vinte e poucos anos”. Gritou nos microfones na “beleza de seu 20 anos”. Nem por você, Glória Pires, nem por ninguém. Mas havia um alguém que comandava esses planos: o capitalismo consumista. O plano de alguém que quer saber “bem muito mais que meus vinte e poucos anos”. Na Globo, Fábio Júnior já sabia o que para ele seus vinte poucos anos ainda não sabiam. É impossível um adolescente apanhado pelo cronos do capitalismo não saber dos “segredos” do além vinte e poucos anos. Os nascidos de cabelos brancos já conhecem seus futuros.
Fábio Júnior hoje tem muito mais que vinte e poucos anos: passou dos cinqüentas, como a eterna Jovem Guarda, continua cultuando sua juventude mística dos vinte anos. Como ironia do capitalismo, como o nazismo que matou Paul Nizan, como um sabotador da velhice aos vinte e poucos anos, continua “rebelde”, sem Glória Pires, também na sombra de seus vinte e poucos anos, protegido por outros eternos “vintentões” do chamado rock brasileiro.
Como Fábio Júnior, muitos adultos, hoje implicadores da opinião pública, nem por suas rugas, nem por seus insuficientes corações, muito menos por suas psicoplastias, suspeitam que continuam com seus “vinte e poucos anos”. Uma das perversas fortalezas contra a democracia.