!!!!! O MUNDO É GAY !!!!!
O ORGULHO DA RAINHA D`ESPANHA
A rainha da Espanha, Sofia, trouxe duas palavras para a discussão. Mas o movimento LGBT espanhol não topou o confronto no campo da razão. Pena, pois teria muito a ganhar.
“Matrimônio” e “orgulho”. Segundo o livro “La Reina”, da jornalista Pilar Urbano, que entrevistou sua majestade, Doña Sofia afirmou que os homoeróticos podem realizar todos os requintes da tradição do casamento, mas não podem usar a palavra matrimônio, pois que não se trata do mesmo. Igualmente, afirmou não entender porque os homoeróticos devam ter orgulho de sua condição, e não crê que o contrário – ser hetero – seja também motivo para se orgulhar.
Embora seja uma discussão que há muito já deveria estar superada, ainda existem homoeróticos que defendem o orgulho, assim como ainda há aqueles que acreditam que a redenção virá pelo hiper-beijo na novela das dez.
O orgulho é um afeto/idéia. É orgulhoso quem tem de si uma idéia maior do que realmente o é. O orgulho é, em quase todas as suas manifestações, um afeto decorrente não de produções subjetivas, não de ações, mas de reações – é um ressentimento. O presidente da Federação espanhola LGBT afirmou que a parada do orgulho gay é a manifestação símbolo da luta contra a homofobia. Ele está certo, mas a parada gay não pode ser confundida com o orgulho.
A má consciência, estado de coisas imobilizado/imobilizador que demanda um modo de existir paralisado, indesejante, que existe em função do ódio ao outro, é causa, e o efeito pode ser o orgulho. O filosofante Nietzsche, ao produzir o conceito de má consciência, o faz a partir de uma análise filológica do cristianismo paulino: a lógica do ódio aos senhores, a moral do escravo, “existo porque te odeio”. Nada mais anti-gay. A operação existencial da má consciência exige acreditar num Si superior ao outro apenas pela força da crença supersticiosa. O orgulho é, pois, um afeto triste. Aquilo que faz com que os chamados cristãos se creiam superiores aos demais humanos, e sintam desprezo pelos homoeróticos não é outra coisa senão orgulho.
Portanto, cuidado com o orgulho. Não é necessário se afirmar patologicamente como superior ao outro para exigir respeitabilidade: o que é necessário é produzir comunidades onde o Desejo pela diversidade seja possível. Desejar, não tolerar. Sem orgulho, mas consciente da sua importância para o mundo, seja qual for a orientação sexual/erótica.
Quando à palavra “matrimônio”, o que vale mesmo é questionar não a palavra em si, já que ela se refere a um aspecto de ordem econômico da relação: matrimônio/patrimônio. Mas vale promover discussões sobre os estereótipos e clichês do casamento. Se é para repetir na existência a dois os mesmos enunciados, o mesmo estado de coisas, a mesma aridez dos modos de existir, a luta pela prevalência de uma consciência sobre a outra, melhor mesmo chamarmos de qualquer outra coisa, menos “casamento”, “matrimônio”, etc.
Já que o homoerotismo carrega o elemento intempestivo da diversidade, que ela seja uma diversidade-multiplicidade, e que permita que pela existência se passem outros afetos e perceptos, e que não se repitam os erros dos casais heteros: que o amor não termine no casal, mas que transborde no social, modificando-o. Aí, sim poder-se-á dizer que foi um casamento gay pra valer. Fora disso é o Mesmo, ainda que entre dois homens ou duas mulheres.
No mais, ignorem a rainha como pessoa. Imaginem o quanto ela teve que “cortar”, extirpar da própria existência em termos de produção existencial para exercer, até agora, o penoso papel de rainha. Tadinha, somos mais a Priscylla, a Rainha do Deserto. I will surviiiiiiiiiveeee… Uh!
Ui! E agora vamos ver outros sopros gayzísticos (ou não) que passaram no nosso Mundico!
Φ PSICÓLOGOS BRASILEIROS REPUDIAM HOMOGENISMO CATÓLICO. O Conselho Federal de Psicologia mandou avisar ao Papa bento XVI que, ao contrário da igreja católica apostólica romana e de suas co-irmãs disangélicas-apocalípticas, não considera o homoerotismo uma patologia. A categoria profissional, organizada em seu conselho de classe, repudiou e vetou veementemente a atuação de psicólogos na tentativa do Vaticano de barrar candidatos que apresentem, dentre outras características, “dependência afetiva forte, identidade sexual incerta e tendência arraigada à homossexualidade”. Ui, Papai tá aí? Os psicólogos nessa deram uma dentro e bem gostoso! A Resolução 001/99 – quase dez anos, vê só, Genoveva! – determina que nenhum psicólogo poderá participar de eventos ou oferecer serviços que proponham tratamento ou cura da homossexualidade. Além do mais, é proibido por lei quaisquer tipos de preconceitos em processos seletivos profissionais, ainda que o objetivo seja uma profissão sacerdotal. Tem língua maldosa por aí dizendo que as tias enrustidas do Vaticano não querem concorrência. Nada, esta colunéeeeeesima já deu um toque aqui no domingo passado, e essa decisão dos psicólogos já era esperada, apesar do conservadorismo da categoria em alguns assuntos. De qualquer sorte, quem souber d’algum psicólogo ou “a” que resolva participar da lezeira vaticana, que informe sobre o incompetente ao conselho regional competente. Sentiu a brisa, Neném?
Φ PROPOSTA 8 É APROVADA NA CALIFÓRNIA. Parece que a Califórnia não entrou na onda “progressista”do restante do país, que elegeu um negro para presidente dos Estados Unidos. A proposta 8, que acrescenta na legislação do Estado a partícula semântica “união entre um homem e uma mulher” na definição de casamento, foi aprovada com uma pequena mas determinante margem: 52 a 48. Outras propostas semelhantes, no Arkansas, Flórida e Arizona, também foram aprovadas. Para alguns, estranheza, já que o clima era de abertura e tolerância pela eleição de Obama. Ledo engano: a tolerância efetivamente se fez presente, já que Obama foi eleito não por ser negro, mas apesar de sê-lo. A questão é sempre de economia, e Obama surgiu como o mais capaz de resolver o problema da falsa crise, ainda mais quando o seu adversário tinha ligações viscerais com o governo Bush, responsável pelos últimos estertores do neoliberalismo. Mesmo a mobilização de artistas não foi suficiente para arrancar uma derrota da proposta retrógrada. Não seria o caso de pensar se a arte que eles fazem, no seu cotidiano, não é mais afeita à homofobia do que ao engendramento de novas produções existenciais? De qualquer sorte, os estadunidenses não surpreendem, nem mesmo quando elegem um negro, e diga-se de passagem, que gato! “So Cute!”, como afirmou sua esposa, a também bela Michele Obama. Sentiu a brisa, Neném?
Φ NA USP, SÃO OS PSICÓLOGOS QUE COMBATEM A HOMOFOBIA. Enquanto os veterinários desanimalizam o corpo e se escandalizam moralmente com uns amassos homoeróticos, a turma de psicologia aproveitou o tema, o beijaço gay de protesto – que outra “categoria social” tem categoria suficiente pra protestar beijando, hein, hein? – e organiza a festa intitulada “POR AQUI PODE”. A lambança musical-afetiva acontece no próximo dia 14 deste mês, e lá o amor não tem amarras moralistas – com preservativos, é claro. Dois dias antes, é a moçada das Letras que vai organizar um protesto em frente à reitoria para que a instituição se posicione formalmente sobre a agressão sofrida pelos amigos coloridos Jarbas e Eduardo. Esta colunéeeeesima avisa que não poderá estar de corpo presente, mas nas manifestações alegres e autônomas de afeto democrático, tamos lá! Te joooooga, Frankernilda doida! Sentiu a brisa, Neném?
Φ 007 NEGRO PODE, 007 GAY NÃO. HMMMM… SERÁ, MANA? A tolinha produtora de filmes 007, Barbara Broccoli, afirmou que um 007 negro é possível, agora que temos um presidente negro, mas um 007 gay jamais. Segundo ela, uma desmunhecada de Bond, James Bond, seria incompatível com o seu “caráter original”. Ai, mocinha desinformada… Se ela soubesse que o estereótipo do machão, do conquistador, do “comedor”, que anda por aí flertando com belas mulheres e segurando aqueles canos enooooormes e pistolas descomunais (hmmm, nêga, nega…), é o que há de mais gay no imaginário estereotipado do homem comum, segundo a psicanálise. Diferente das mulheres, que usam artifícios e adereços para encontrarem no olhar do homem a sua razão de ser, para os homens é o olhar do outro (homem) que interessa. Daí os adereços materiais e imateriais serem sempre ligados à força. Psicanaliticamente, o homem que coqueteia, que procura ser entre os amigos o famoso “comedor”, não o faz pensando nas mulheres, mas sim em conquistar o amor dos outros homens, o olhar de admiração deles. Ai, James, quantos suspiros masculinos arrancas a cada vez que saca esse armaço do coldre e balanças ele por aí. Bushes mundo afora deliram. “Você é o homem que eu quero ser”, sonham seus fàs. Mais assumido que isso, só assumindo. São as agruras da insegurança sexual: apelar ao clichê machão para ocultar aquilo que está evidente. É o latente se manifestando. O produto 007, com seus músculos, sua força, seu charme irresistível, certamente não foi feito para conquistar os corações femininos. Como produto de consumo, é para tocar exatamente no aspecto homoerótico latente (oculto) do homem: sua insegurança sexual. Barbara, benzoca, como és desinformada! James Bond já nasceu gay, meu amor! Ele nunca nos enganou, ui! Sentiu a brisa, Neném?
Beijucas, até a próxima, e lembrem-se, menin@s:
FAÇA O MUNDO GAY!