'ORELHUDO' DIRIGE PEÇA DE SHAKESPEARE COM LULA, TARSO, MENDES E JOBIM NO ELENCO PRINCIPAL

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TUDO BEM QUANDO ACABA BEM

by William Shakespeare

Local da Ação: Praça dos Três Poderes, Explanada dos Ministérios

Tempo: 15 de julho de 2008 e muitos anos atrás

Personagens: Lula, Tarso, Mendes, Jobim e outros

Direção: Daniel ‘Orelhudo’ Dantas

Os homens deviam ser o que parecem ou, pelo

menos, não parecerem o que não são.”

PRÓLOGO

Em Tudo Bem Quando Acaba Bem, uma das peças de Shakespeare menos encenadas que existem, uma jovem (Helena), apaixonada pelo Conde de Rossilhão (Bertram), salva o rei da França por meio dos conhecimentos médicos que herdara do pai. O rei, como agradecimento, lhe dá como presente o casamento com o amado. Mas Bertram duvida de sua sinceridade, sua virgindade.

ATO I

CENA I – A ESCALADA

Daniel Dantas, um pobre jovem sacoleiro, na sua ambição por enriquecer a qualquer custo, vai rapidamente subindo caminhos, queimando etapas, passando pelo finado ACM, Collor, FHC, atropelando sócios e concorrentes em direção ao topo: tornar-se um dos homens mais ricos, poderosos e influentes do Brasil. Consegue. E como!?

CENA II – CHACAL NO ‘ORELHUDO’

À acusação de que fora privilegiado na privatização da Telebras passou incólume. Somente em 2004, a partir da operação Chacal, da Polícia Federal, quando Dantas foi indiciado por violação de informações sigilosas de pessoas e empresas em órgãos públicos realizadas pela Kroll, multinacional de investigações privadas, seu nome vinha a público. Pelas escutas, o jornalista Mino Carta cunhou-lhe o apelido de “Orelhudo”.

ATO II

CENA I – BrOi: MEU R$ 1 BILHÃO

Abril de 2008. Mês das flores; para o presente de mamãe, dinheiro é o que não falta. Numa jogatina só, o ‘Orelhudo’ armou a fusão entre a Brasil Telecom e a Telemar/Oi, que garantiram 70% da telefonia nacional, seus sócios lhe deram R$ 1 bi via BNDES e ainda retiraram todas as ações que moviam contra ele.

CENA II – SATIAGRAHA O AGARRA

Mas a 8 desse corrente mês, o madrugador delegado Protógenes Queiroz, mais 300 policiais federais batiam na porta de Dantas, convidando-o a tomar café atrás das grades da PF, a partir de uma ordem de prisão saída do juiz da 6ª Vara Federal Criminal, Fausto De Sanctis. Corrupção, lavagem de dinheiro, evasão de divisas, sonegação fiscal e formação de quadrilha, empresas fantasmas para desvio de verbas públicas eram alguns dos termos do convite.

CENA III – DUAS CARTADAS DE MENDES

O Orelhudo ainda foi forçado a almoçar, jantar e pernoitar na cadeia, mas no dia seguinte, 9 de julho, o presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Gilmar Mendes, passou-lhe uma carta por debaixo da mesa: um já prometido habeas corpus. Como todo mundo esperava, Dantas até se demorara a escapar da prisão temporária. Mas menos de 12 horas depois, a orelha criminosa de Daniel Dantas voltava para a carceragem da Polícia Federal. Como agora o juiz De Sanctis ordenara uma prisão preventiva, muitos colocaram em dúvida a força e rabulice de Gilmar Mendes, mas no mesmo dia o presidente do STF mostrava o apego aos seus e um novo habeas corpus livrava DD também da prisão preventiva.

ATO III

CENA I – FLASH BACK DE GILMAR MENDES

Vindo da Subsecretaria Geral da Presidência da República do governo Collor, entronizou-se no governo FHC, onde foi, entre outras coisas, assessor técnico do Ministério da Justiça e subchefe para Assuntos Jurídicos da Casa Civil. Finalmente, em 2000, se tornou advogado geral da União, até 2002, quando foi nomeado presidente do STF, com a exata função, segundo afirmou à época o professor Dalmo de Abreu Dallari, que está desempenhando agora: “uma grande operação para anular o Supremo Tribunal Federal, tornando-o completamente submisso ao atual chefe do Executivo [FHC à época], mesmo depois do término de seu mandato”.

CENA II – RESISTÊNCIAS COLETIVAS

Antes mesmo dos dois fatídicos habeas corpus, Paulo Henrique Amorim e Walter Maierovicht passaram a afirmar a necessidade de se pedir o impechment de Gilmar Mendes. Após, procuradores e juízes federais passaram a organizar atos e manifestos em protesto democrático às posições de Mendes. A população de forma geral, da qual a seqüelada mídia havia camuflado Dantas, começa a perceber e analisar os acontecimentos com sua inteligência ativa.

CENA III – REUNIÃO TIRA-BRONCAS E MERAS COINCIDÊNCIAS

Já citamos (aqui) as tortuosas trilhas e malabares, descritos pelo jornalista Bob Fernandes, que o delegado Protógenes Queiroz teve de fazer para poder investigar Daniel Dantas. Ontem houve seu afastamento do caso, supostamente para fazer um curso de reciclagem, e de mais dois de seus principais colaboradores nas investigações, a delegada Karina Murakami Souza e o delegado Carlos Eduardo Pelegrini. Ao mesmo tempo que o Ministro da Justiça, Tarso Genro, encontrava-se com o presidente do STF, Gilmar Mendes, na presença de Lula e o Ministro da Defesa, Nelson Jobim. Na reunião, o Tarso que havia afirmado que Mendes extrapolara suas funções e o Mendes que tinha chamado a ação de prisão do banqueiro ‘Orelhudo’ pela Polícia Federal de “espetacularização” e o próprio Tarso de “incompetente” já não existiam. Mendes tratou de culpabilizar a mídia por distorcer suas palavras. E Tarso abaixou a cabeça, engoliu o choro, em concordância e respondeu, quando perguntado por jornalistas sobre a saída do delegado Protógenes, que fora apenas uma coincidência. O que é verdade. Essa coincidência só não ocorreu antes porque Dantas não tinha certeza que estava sendo investigado, como demonstram escutas telefônicas.

EPÍLOGO ELISABETANO

Na peça de Shakespeare, ao final Helena consegue provar sua castidade e tudo acaba bem:

Tudo acabará bem, é o que vos digo, se palma nos baterdes. Alegria vireis achar aqui dia por dia. Bastem-vos nossas boas intenções; dai-nos as mãos; eis nossos corações.”

Tudo acabou bem. Na preservação dos seus, sempre o fantasma do Dirceu, Grenhalgh, Lula não quer embate com Dantas. PSDB/DEM-PFL estão com o ‘Orelhudo’ e não abrem; seriam espezinhados se tentassem se posicionar contra ele. Tadinhos, nem vão poder aproveitar o “acordão” que o governo está fazendo para não se indispor com o STF e Dantas. O STF de Dantas. Alguém se referiu que a seqüelada mídia, que tantos factóides já criou contra o governo Lula, também não pode: estão na lista de DD com redações inteiras. Tudo vai ficando como previu o empregado de Daniel Dantas, Hugo Chicaroni, mais a frente, ou em cima da pirâmide, tudo mais facilmente se resolve, e o amor sempre acontece no final:

Ele [Daniel Dantas] se preocupa com hoje. Lá para cima, o que vai acontecer lá. Ele não está nem aí. Porque ele resolve. STF e STJ, ele tem trânsito político ferrado.”

EPÍLOGO BRECHTIANO

A nós, lulistas, embora não apoiemos a posição do Sapo Barbudo neste caso, afinadamente, no entanto, a partir das composições do Teatro Maquínico, abandonando o final psicológico elisabetano, produzindo um verdadeiro distanciamento brechtiano, acreditando-se que outros Protógenes existem, outros De Sanctis, que existe uma potência maior, democrática, a potência da opinião pública, é que propomos um outro epílogo para produzir variações democratizantes de liberações das linhas de atuações teatrais que se encontram emperradas:

Respeitável Público!

Assim termina a história

De Dantas, o ‘Orelhudo’

Que se achava intocável

No poder que pode tudo.

.

Assim o ‘Orelhudo’ caiu

Na terceira prisão seguida

E Embora se segurasse

Já não tinha mais subida.

.

E muitos foram com ele:

Foi a mídia seqüelada

A direita da direita

E a esquerda endireitada…

.

Descobriram que o povo

Tem nas suas ações/práticas

De sempre agir na virtude

Das potências democráticas!

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