O DR. GREENHALGH E O “DESCONTROLADO”
No emaranhado dos signos-morais produzidos como virtudes para preservar ou alcançar um fim tido como necessário à felicidade humana, o signo-moral-controle aparece como um dos mais expressos nas relações entre os homens. Muitas vezes como sinônimo de educação. Virtude própria dos civilizados. Nunca perder o controle, mesmo nas condições mais adversas. O controle é essencial para atingir uma meta com eficácia. “Nada disso, menino! Espere! Aprenda a se controlar!”, advertem os pais. “Você foi vencedora, porque teve mais controle do que sua concorrente”, sentenciam os examinadores.
Puro sofrimento. Todo aquele que está sob controle é um desesperado. Imobilizou todos os segmentos neuro-cerebrais-cognitivos que acionam os dispositivos que colocam os homens em inter e infra-relações com o mundo, multiplicidade produtiva. E nisso não há nada de educação, muito menos de civilidade, mas sim de tensão e servilidade. O controle é uma camisa de força. O estudante que objetiva o anel simbólico no fim do curso é um controlado. Nada pode fazer que fuja seu objetivo: mostrar aos outros, principalmente aos pais, sua “superioridade” de controlado. Ironia: uma existência constrita sob o olhar captativo do outro. Um insuportável ser-em-si: nada entra, nada sai. Sua síntese-controlada são seus fios-ajustadores. Orgasmo? Nem pensar. O sexo está controlado pelo dogma controlador que teme a vida. Não há como escapar: o controle é a vitória do medo contra a alegria. Os bons encontros precisam de afecções fluentes. Sempre o novo, nada de controle. Liberdade para as ações. Só é possível eficácia criativa em aventura, quando o sujeito da aventura é livre em seus afetos-descontrolados. Quando afetado por uma afecção-controle, jamais poderá vivenciar afetos-criativos.
O “DESCONTROLADO” E O DESCONTROLADO
Há profissões em que o controle é a mola (imóvel) exigida. Estas são profissões tirânicas. O profissional tem uma meta ditada por uma voz de comando. Uma voz cuja única verdade é sua idéia-fixa. Sempre individualista, nunca coletiva. O germe proliferador das atrocidades. Houve um tempo em que havia um certo Dr. Greenhalgh, inimigo da profissão tirânica. Ele existiu no terror da ditadura, que pretendia todos sob controle. Mas ele se opunha, pois era adversário dos controladores. Por tal, dispôs sua inteligência-jurídica e sua coragem a serviço da causa e da libertação de presos políticos. Dr. Greenhalgh era um descontrolado. Os afetos-livres lhes cortavam como existência fluente. Apanhado pelo vento da liberdade que o grande mestre-controlador, o capitalismo, queria destruir, o doutor nada temia: sua causa era humanamente socialista. “Cristã!”, diria seu excelso amigo, Cardeal Arns.
Hoje, há um Dr. Greenhalgh controlado. Controlado pela idéia funesta do capital fraudado dos cofres públicos. A idéia absoluta do capital: o roubo. “Não roubarás!”. O excelso Cardeal Arns não aprovaria. Mas o doutor está controlado pela idéia-fixa de defender o inimigo público do sistema financeiro nacional, Daniel Dantas. Controlado, ele sentencia de “descontrolado” o Delegado da Polícia Republicana, Protógenes Queiroz, como descontrolado. Só porque o Dr. Protógenes não se deixou controlar pela subjetividade dominante da rede corrupta tecida pela família Dantas SA e Ltda, que vem saqueando livremente o dinheiro publico, com o beneplácito de representantes de algumas instituições. Assim, o Dr. Protógenes é um descontrolado porque ajudou a descontrolar o controle que a rede DD detinha sobre as operações-assaltantes financeiras.
E, como diz o filósofo Sartre/Marx, “o homem é o que faz, e não o que pensa de si”, o Dr. Greenhalgh é este controlado pelo capital que seu cliente, DD, assaltou do país. Não o outro, “descontrolado”, que na ditadura acreditava nas liberdades democráticas fora da voracidade do capitalismo. Esse, agora, é virtual. Está tematizado. Não conta mais.