QUE VOZES OUVE O 'ORELHUDO' NA PRIMEIRA NOITE NA PRISÃO?

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No Brasil e em muitos países do mundo onde há décadas, séculos a corrupção e a impunidade se tornam históricas, para a população ela se torna às vezes habitual. Para quem acompanha há anos na revista Carta Capital, no portal Terra Magazine ou no blog Conversa Afiada, entre outros, as intermináveis tramóias bilionárias do banqueiro Daniel Dantas, talvez chegue um momento que sua capacidade de manipular, chantagear, corromper leis, pessoas, instituições comece a parecer algo natural. Mas não é.

Dize-me com quem andas…

Inimigo de quase todos seus sócios e concorrentes, sempre frio e desleal nas suas negociações, o dono do banco Opportunity se tornou um dos homens mais ricos do Brasil numa trajetória que passa por Antônio Carlos Magalhães, Fernando Collor, Fernando Henrique, a revista Veja, Marcos Valério, etc, sempre envolvido em trapaças. Em 1998, final do primeiro governo FHC, Dantas foi acusado de favorecimento na privatização da Telebrás.

Chacal faz o ‘orelhudo’ falar…

Mas a primeira vez, no entanto, que a maior parte dos brasileiros atentou para o nome de Daniel Dantas foi em 2004, quando de sua indiciação pela Operação Chacal, da Polícia Federal, que descobriu a violação de informações sigilosas de pessoas e empresas em órgãos públicos conseguidas por Dantas através da empresa Kroll, multinacional de investigações privadas.

Mas assim como para uma parte da população se tornava habitual a impunidade, para o ‘orelhudo’ também. Em abril recente, o banqueiro fez uma jogada de mestre: uma negociata com os empresários Carlos Jereissati e Sergio Andrade, da qual resultou a fusão da Brasil Telecom com a Telemar/Oi, e da qual ele levou a bagatela de R$ 1 bilhão. Mestre das cartas na manga.

Nem ouviu Satiagraha…

Mas a carta caiu da manga. Ontem às 6 da matina a Polícia Federal chegou silenciosa, conforme o nome da operação, Satiagraha, ao apartamento de Daniel Dantas, que fica de frente para o mar, em Copacabana-RJ, e surpreendeu ele e todos que haviam se habituado com a impunidade, dando-lhe voz de prisão. Depois de quatro anos de investigação, a Polícia Federal reuniu (aqui no site da PF) provas de diversos crimes: corrupção, lavagem de dinheiro, evasão de divisas, sonegação fiscal e formação de quadrilha, detectando inúmeras empresas de fachada pelas quais o ‘orelhudo’ e seus comparsas faziam desvio de verbas públicas.

A irmãzinha, a esposa, Naji Nahas e Celso Pita…

Além da irmã de Daniel, Verônica Dantas, e de sua esposa, Maria Alice Dantas, e de outros nove integrantes da diretoria do Banco Opportunity, veio a prisão de dois nomes já bem conhecidos na ficha judicial brasileira. Um deles é Naji Nahas, especulador acusado de ser o responsável pela quebra da bolsa de valores do Rio de Janeiro em 1989, acusações das quais, embora com abundantes provas, foi inocentado em 2004. Foi preso pela Operação Santiagraha por chefiar um grupo que se ligava a Daniel Dantas por conseguir informações privilegiadas até do FED (Banco Central dos Estados Unidos), ele sabia, segundo a Polícia Federal, da descoberta do megacampo de petróleo de Tupi três meses antes de sua divulgação, e ainda era o principal responsável pela lavagem de dinheiro do grupo, comandando um grupo de doleiros, que também foram presos na manhã de ontem. Ainda entre os comandados por Nahas está o ex-prefeito de São Paulo, Celso Pita (o do esquema dos precatórios), que recebia vultuosas somas de dinheiro, quase sempre em espécie, e repassava a paraísos fiscais.

Gilamar Mendes, mui amigo…

A estas horas todos estes, Daniel Dantas, sua irmã, sua esposa, Naji Nahas, Celso Pitta e os demais, todos estão passando a noite na prisão federal. Há quem acredite que é por pouco tempo. Há pessoas que ocupam cargos fundamentais para o processo democrático, mas que o utiliza de maneira pessoal e fraudulenta, é o caso do ministro do STF – Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, que deu entrevista ao falacioso Jornal Nacional, chamando de “espetacularização” a operação da Polícia Federal e do Ministério Público Federal e questionando o uso de algemas como desnecessário na operação. É por essas e outras que Paulo Henrique Amorim conclama o impeachment do presidente do Supremo.

Dos que não dormem na prisão…

Dantas ainda tentou subornar um delegado da Polícia Federal por nada menos que R$ 1 milhão. Só fez aumentar o número de acusações contra si. Dizem que apareceu rindo diante das câmeras quando foi levado algemado. Provavelmente por que, em seu hábito de sempre sair ganhando na trapaça sobre os outros, que vão desde seus concorrentes bilionários até o simples contribuinte isento na declaração de imposto de renda, em sua patologia, ele não compreenda bem o que está se passando. Como diz o filósofo Nietzsche, “só pode dormir quem sempre esteve acordado”, Dantas não dormiu essa noite, mas não ouviu vozes a não ser a sua, já que não tem a experiência do outro, na sua paranóia deve estar “pensando” em alguma forma de sair dessa. Mas os que observavam de longe, vão se aproximando para ver o acontecido e, ao contrário do orelhudo, dormem suavemente nessa noite, acreditando que os tempos são outros, e que um trapaceiro, não importa as cifras que ele carrega e suas escusas amizades, não pode lesar impunemente a coletividade. Quiçá a partir de agora bons sonhos só terá quem pode dormir!

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