DEPOIS DE EURICO, BERLUSCONI: SE A MODA PEGA…

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Depois da turma vascaína mostrar que uma pequena parte dos torcedores era quem aguentava Eurico Miranda acabando com o clube alvi-negro, foi a vez de outro dirigente de clube ultra-direitista e aproveitador ser ameaçado de perder o cargo.

Embora, no caso do italiano Silvio Berlusconi, o buraco seja mais pra direita. É que o magnata das telecomunicações, que quer – e está conseguindo – transformar a carta magna italiana em salvaguarda nacional para operações ilícitas, não é apenas presidente do AC Milan, como Eurico era do Vasco da Gama. Il Caimano é o dono do clube rossonero. Tal como no primo-clone carioca, no clube da capital econômica da Itália, Milão, alguns torcedores acreditaram que as vitórias estavam diretamente ligadas à administração do homem do baú italiano.

No entanto, mais de 8 mil tifosi milanistas, embora agradecidos a Berlusconi pela administração do clube, afirmam que a conquista da Champions League da temporada passada e o mundial de clubes de 2007 não passaram de “un milagro del equipo”.

Enquanto os torcedores cobram contratações que possam jogar ao menos no sub-40, o filho de Silvio, Persilvio, afirma que contratar o artilheiro da Euro’08, o espanhol David Villa seria muito caro. O clube ficou conhecido na era Berlusconi pela máxima geriátrica (velho para o futebol, não para a filosofia): “craque só sai do Milan aposentado ou se quiser”.

O símbolo do time, Paolo Maldini, lateral-direito, já contabiliza 24 temporadas no clube. Outros “coroas” do futebol têm encontrado salvaguarda sob o manto rossonero. Ronaldo assinou um contrato onde pouco jogou, e no qual mostrou ao mesmo tempo que a ciência médica futebolista aliada a um desenvolvimento em meio à miséria social podem destruir um corpo, e que dois raios não caem no mesmo lugar: Ronaldo, até o momento, não conseguiu se recuperar e deve encerrar a carreira de bengalas (quase que literalmente) no Flamengo.

O Milan nem sempre foi o clube internacional que carrega com mais intensidade as cores (não o vermelho e preto) do ultra-direitismo europeu. Embora, nos últimos tempos, tenha se envolvido, junto com os irmãos-rivais Internazionale e Juventus, em trambicagens envolvendo arbitragem e manipulações de resultados, o clube nem sempre teve esta pecha.

Nas décadas de 50 e 60, as cores milanistas insuflavam os movimentos anti-fascistas italianos. Foi nessa subjetividade que o filosofante Toni Negri passou a ser torcedor do clube, mostrando como a torcida rossonera, (não tão) ao contrário da atual, inspirou e compôs grupos de combate de estrema-esquerda (tão à esquerda que tocavam, em alguns momentos, na direita). De lá para cá, o clube passou por uma reformulação, à qual, ainda na prisão, o espinosiano Negri já percebia a guinada à direita. Com Berlusconi, o clube conseguiu títulos. Mas assim como o Vasco de Eurico, também colecionou antipatia mundo afora. Embora, marketisticamente, hoje o clube tenha intrusão mercadológica em quase todo o mundo, rivalizando neste sentido somente com o Manchester United e o Barcelona (este último com um viés um tanto diferenciado), o clube coleciona críticas, e torcida contra: os anti-milanistas. Dentre eles, o próprio Negri, que prefere um clube distante da mafiocracia berlusconiana, e o jornalista Mino Carta, que prefere as cores do AS Roma, ainda que não haja assim tanta diferença, quanto mais os jogadores de ambos os clubes vistam a camiseta da azurra.

De qualquer sorte, a iniciativa destes pouco mais de 8 mil torcedores pode ser encarada como uma tendência de mudança, inclusive no plano político, já que um aparente excesso de confiança do Caimano faz com que ele tente moldar o Estado italiano à sua imagem e semelhança, e empurre cada vez mais para baixo uma já combalida economia nacional. O país e o time, que nesta temporada vai ver a Champions League pela televisão.

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