O HOMOSSEXUALISMO E A “MAGIA” DE PAULO COELHO

Em sua recente biografia, escrita pelo bom Fernando Morais, Paulo Coelho relata que teve três experiências homossexuais, e que não pode ser considerado ex-gay, porque nunca foi gay.

Neste aspecto, Coelho tem razão. No entanto, a frase, a forma como PC abordou o homoerotismo em sua biografia, revela enunciados ocultos na fala e no entendimento do chamado “mago” que nada têm de mágicos…

Primeiro, PC confunde penetração com experiência homoerótica (nem vamos entrar na questão do uso da palavra homossexual, já que esta pode ter sido usada pelo biógrafo). Ora, uma experiência é uma confluência de linhas intensivas passando por um corpo: um encontro de corpos que produz uma afecção e uma variância afetiva. Uma afecção que passa pela percepção e pela organização cognitiva e epistemológica do mundo. Uma variância afetiva diz respeito aos afetos. Um aumento ou diminuição da potência de agir.

No caso de PC, que se diz mago, três episódios foram suficientes para ele entender que não gostava da coisa. Mas que coisa? Ser gay, nas palavras de seu biógrafo. E como a biografia é autorizada, vale a regra bíblica: “bem aventurados meus imitadores e apologistas, pois deles serão meus erros”. Falou Morais, falou PC.

Mas por acaso é possível “experimentar” ser gay? Uma vivência, com suas linhas de atuação, suas intensidades, devires, pode ser “experimentada”? Não. No máximo, se pode acreditar no simulacro, o clichê vazio de significação tomado como realidade. Aí, não há mesmo experimentação.

Se há um corpo, que encontra outro, e produz uma afecção e uma variância, então este corpo só pode falar especificamente de cada encontro, e aquela afecção e variância só valem para aquele encontro. Cada “experiência” de PC, portanto, foi única. PC, o Mago, não sacou essa. Mais: quis reduzir suas “experiência” ao modelo ideal GAY. Nada mais mundano, no sentido do olhar carregado dos signos e da semiótica da indiferenciação. Tudo é modelo, clichê, influxo, não-movimento.

Pode um mago – modo de ser que alcançou territórios outros que carregam elementos de compreensões mais amplas, e por isso mesmo, distanciadas dos estereótipos da “vidinha cotidiana” – incorrer nestes erros? Evidentemente, não. Pode um Mago não ser gay, sabendo que a variância afetiva carrega o fluxo alegre, o devir-gay? Para PC, sim, é possível.

A magia de Paulo Coelho, assim, está mais para psicologismo e marketing mercadológico do que para o Mundo Gay… Não evoluiu, neném. É pra quem poooooode!

E agora vamos ver os sopros gayzísticos (ou não) que passaram no nosso Mundico!

Φ NOVA IORQUE RECONHECE CASAMENTO GAY. Cada vez mais a questão gay enquanto situação política toma proporções macroeleitorais no cenário estadunidense. Na Califórnia, já é maioria, segundo pesquisas, os que aprovam a união homoerótica oficializada pelo Estado. Esta semana, o governador de Nova Iorque, David Paterson, deu ordens para que se ajuste a legislação do Estado de modo a reconhecer as uniões civis homoeróticas. È um passo, já que ainda não significa que os casais não tenham que procurar Estados onde o casamento seja legal, casar-se e retornar à Big Apple de véu e grinalda. Paterson já afirmou ser favorável a que os casamentos também sejam realizados na cidade. Ponto para o enfraquecimento do enunciado direitista-conservador-teocrático que toma conta do país da América do Norte. E que seja apenas mais um de muitos que ainda serão marcados em favor da cidadania plena dos homoeróticos. Vivaaaaaaaaaa! Sentiu a brisa, Neném?

Φ MONUMENTO EM RESPEITO À CAUSA GLBT NA ALEMANHA. Que a perseguição nazista aos homoeróticos tem muito menos repercussão na imprensa e nos estudos que a perseguição aos judeus, não é novidade para ninguém. No entanto, o governo alemão, através da prefeitura de Berlim, inaugurou nesta terça-feira um memorial aos homoeróticos perseguidos e mortos pelo regime de Hitler. No memorial, é possível ver a cena do filme “The Celebration”, do dinamarquês Thomas Vinterberg, onde dois homens se beijam. Evidência da evolução dos alemães quanto a questões que, em outras épocas de fortalecimento de enunciados opressivos e de ressentimento, em outros países, ainda hoje, causam morte pela incompreensão. Um detalhe: as viúvas novelizadas da Rede Globo, que choram a ausência do beijo gayna telinha da vênus, podem ver um beijo – aí sim, pra valer, é cinema ! – no monumento alemão. Sentiu a brisa, Neném?

Φ JUIZ DECIDE A FAVOR DA DIVERSIDADE TRANS. Lembram o caso da Fabiane? Pois bem, a juíza Renata Volotão, da comarca de Juiz de Fora (MG) concedeu liminar que permite à sargenta retornar ao trabalho. Determina ainda que a demanda de Fabiane, que pretende se reformar (a versão militar da aposentadoria) já que o ambiente militar seria nocivo à ela em sua nova condição, seja verificada por um médico de fora do exército. Caso seja comprovado que Fabiane não tem condições psicológicas de continuar no seu ambiente de trabalho, será reformada. Na atual situação, Fabiane estaria expulsa da corporação, sme direito a nada. Mais um ponto para a diversidade. Caso Fabiane se afaste do exército, quem perde é a farda verde-oliva, sem dúvida. Fabiane já terá sido produtiva apenas em brigar com uma instituição secular e que carrega todos os enunciados da dor e do ressentimento que se possam imaginar. Valeu, Fabi! Sentiu a brisa, Neném?

Φ ONG TRABALHA A QUESTÃO DA DIVERSIDADE COM OS PAIS. O Grupo de Pais de Homossexuais surgiu a partir de uma demanda particular: a professora Edith Modesto, em 1992, numa conversa com a filha, soube que esta era lésbica ativa há 04 anos. Edith compreendeu que a dor da filha, tendo uma existência escondida de seus pais por medo, não pertencia à filha, mas era uma produção social. Daí, começou a trabalhar com pais que descobriam o homoerotismo dos filhos e não conseguiam compreender como natural a situação. Hoje o Grupo conta com mais de 200 associados, tem o trabalho da psicologia, encontros presenciais, pela internet e por telefone. Forma os Pais Facilitadores, que são representantes do Grupo nas cidades, e que ficam responsáveis por acolher e orientar pais na mesma situação que um dia eles estiveram. Há ainda o Projeto Purpurina, que abre espaço para que o jovem GLBT trabalhe temas que são de seu interesse, escolhido por eles mesmos, e que ajuda na auto-estima e no exercício da voz política e existencial. Protagonismo pra valer. Uma evidência do que pode acontecer quando as pessoas compreendem que muitos problemas que acontecem a elas são na realidade demandas sociais. Materialização do saque do filosofante Toni Negri: “o amor deve construir comunidades mais vastas”. O amor de Edith e de todos os pais do GPH transborda no social e faz a diferença. Faça uma visita ao grupo, clicando aqui. Sentiu a brisa, Neném?

Beijucas, até a próxima, e lembrem-se, menin@s:

FAÇA O MUNDO GAY!

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