O PROBO CANDIDATO DA ASSEMBLÉIA DE DEUS
O vice-governador, Omar Aziz, foi abençoado como o candidato enviado por Deus e escolhido pela família Câmara para guiar o rebanho da cidade de Manaus. Sob o olhar onipresente do antropomórfico e subserviente às paixões demasiado humanas, Deus da IEADAM, o fiel eleitor à santidade irá apertar o número sagrado (o da candidatura do PMN, partido de Omar) na urna eletrônica, a fim de espantar o anticristo, a ovelha negra da esquerda que veio para iludir o homem. Afinal, como alcançar o paraíso após a morte sem o sofrimento/dor/penitência, que prepara a alma para as delícias da vida eterna? Daí, um candidato como Omar, eterno vice, e especialista em pecados (principalmente os da tenra carne) ser o candidato ideal para os adoradores da dor.
Em tempo, Silas, deputado federal e ex-pré-candidato a prefeito, também tem seus méritos disangelistas, não se pode negar. É o Amazonas, revivendo a história de Esaú e Jacó, com Braga no papel de Isaac, Silas como um submisso Esaú, e Omar como Jacó. Tudo claro, na perspectiva biblioliterária da IEADAM.
Ipatinga, 25 de outubro de 2008
Ás Assembléias de Deus do Amazonas
Prezados irmãos,
Assisti a um programa das Assembléias de Deus na Rede Bandeirantes de Televisão hoje, 24 de outubro de 2008 e fiquei perplexo com o que ouvi e vi. Confesso que senti um misto de revolta e de indignação ao ver o orgulho com que os participantes do programa se vangloriavam de terem conseguido eleger nas eleições passadas dezenas de candidatos aos cargos públicos em disputa. Senti-me constrangido diante dos fatos e da forma como todos enalteciam a vitória nas urnas, tudo como se fosse um presente espetacular para a história do cristianismo em nosso Brasil. Diante do que vi e das posições que defendo como vida cristã submissa aos ensinos de Jesus – que, aliás nunca se envolveu com partidos ou com política – tomei a liberdade de enviar a esta organização religiosa a minha posição quanto ao assunto.
Sou evangélico há mais de 50 anos e sei definir exatamente o que representa e o que identifica um cidadão comprometido com os ensinos de Jesus daquele que tem envolvimento com as coisas deste mundo. Não há como confundir se usarmos como regra única as Escrituras Sagradas e as recomendações nelas contidas, e aí eu recomendo a leitura apurada do Salmos numero um onde os relatos não deixam dúvidas de qual deve ser a atitude de um servo de Deus face às ofertas de facilidade deste mundo. Facilidade sim, pois é notório que a vida publica é recheada de benesses e de mordomias e qualquer um gostaria de participar destas mordomias. A questão é que estas mordomias corrompem a qualquer pessoa independente de sua crença ou de sua posição social, isto porque elas acabam por se tornar em moeda de troca onde os favores são explicitados em compromisso de votos em pleitos futuros. O que me causou mais espécie ainda foi o fato de os participantes do programa afirmarem com todas as letras que a organização “Assembléia de Deus” estava representada nas várias esferas da vida publica e que iriam representar bem os evangélicos. É lamentável ver até onde as negociatas com a fé chegaram, até porque antes se trocava por lenço consagrado, rosa ungida, copo com água, mas agora a coisa perdeu o respeito e o voto tornou-se mercadoria nas prateleiras da fé. Sinto-me arrepiado e ao mesmo tempo frustrado ao ver cenas como as que presenciei, com o orgulho religioso, a vaidade e a prepotência sendo usadas como argumentos para enaltecer os vitoriosos. O texto abaixo dá uma amostra do que penso sobre esta onda de exploração da fé onde o voto é o principal objeto de negócio dentro de nossas igrejas.
O ouro é um metal sólido, porém frágil – O ouro puro é demasiadamente mole para ser usado – assim para que seu uso industrializado seja possível faz-se necessário adicionar a ele cobre ou prata conforme a aplicação desejada. Na verdade, ele é tido como impureza resultando como subproduto da extração de outros minerais. Por estar em estado sólido, é óbvio que ele jamais irá se misturar com outros materiais, no entanto o seu brilho pode ser ofuscado por qualquer sinal de sujeira, exigindo polimento constante.
Por outro lado o ser humano é composto na sua originalidade por matéria corruptível, suscetível as variações de comportamento uma vez que ele está limitado a tempo, espaço e circunstâncias. Ao contrário do ouro, o homem no seu estado pecaminoso em que foi concebido, vive numa luta constante contra as investidas do inimigo, e como ele é frágil no domínio de suas faculdades e é dominado por emoções, ele muitas vezes acaba cedendo às tentações. Fomos gerados em pecado e só alcançaremos a perfeição quando adentrarmos as mansões celestiais, assim enquanto estivermos neste mundo sofreremos os ataques do Diabo que com as formas mais sutis tenta minar a nossa resistência. O ouro, com o uso de um produto químico específico pode recuperar o seu brilho e o seu esplendor, no entanto o homem não possui nenhuma química que possa restaurar o brilho das suas ações cometidas sob o domínio do pecado. Por esta razão o salmista afirma: “Fui gerado em pecado, e em pecado me concebeu minha mãe”. Os nossos pecados são apagados, pois de fato a Bíblia nos assegura isto, mas as conseqüências, estas nos acompanharão enquanto vivermos neste mundo. Se fixarmos um prego numa tábua e depois de algum tempo retirarmos o mesmo do local onde ele foi colocado, a tábua jamais irá restaurar a sua originalidade, pois o furo continuará deixando a sua cicatriz onde ele penetrou.
Qualquer um que carregue o nome de cristão e se envolve com a política não conseguirá sair de lá sem que tenha manchas para carregar pelo resto da vida. Isto é natural, pois o mundo da política é sujo a começar pela fidelidade que a pessoa tem que declarar ao partido, independente se nas suas regras ele não faça qualquer menção ao nome de Deus. Isto é apenas o começo, há ainda as facilidades para negócios escusos, nepotismo religioso, envolvimento com atividades que contrariam as Escrituras, etc. Usando o exemplo de Cristo, não há como justificar qualquer envolvimento de um evangélico convicto com disputas partidárias até porque a troca de acusações, as suspeitas levantadas contra adversários, o comprometimento com segmentos duvidosos nas suas práticas religiosas, as alianças não fazem parte da carta magna do cristão, a Bíblia Sagrada.
Um cristão que deseja trabalhar pela sociedade tem um sem número de opções sem que tenha que se submeter a siglas partidárias que muitas vezes ignoram a existência de um ser superior a quem todos devem reverenciar e obedecer. Não há nas Escrituras qualquer relato dos seguidores do Mestre optando por partidos, militando na política, participando de comícios ou panfletando nas ruas do Império Romano. Pelo contrário, todos abandonaram tudo para dedicarem integralmente á pregação do evangelho, muitos sofrendo com prisões, açoites e até pagando com a própria vida pela opção que escolheram de fazer Cristo conhecido. Não fora o desconforto e a forma como eles abdicaram de tudo, não teríamos hoje a liberdade religiosa que temos e não experimentaríamos da graça redentora de Cristo Jesus.
Política e fé são necessárias, no entanto jamais devem se misturar. No caso do ouro, para ser empregado na produção de qualquer objeto ele precisa se aliar ao cobre ou a prata perdendo assim a sua originalidade e a sua pureza. O crente não precisa se aliar a nenhum segmento político para aperfeiçoar a sua fé e a sua relação com Deus, pois se assim o fizer estará perdendo a pureza e ofuscando a beleza da vida cristã estabelecida sobre o sacrifício de Jesus na cruz do calvário. Portanto, não há nenhum argumento que justifique a obsessão de um cidadão dos céus em se envolver com práticas políticas que tem nas suas raízes em estatutos e regras que ferem os ensinos básicos para o exercício de uma fé genuína e autêntica aos pés de Cristo. Crucificado eu já estou com Cristo, e vivo não mais eu, mas Cristo vive em mim afirmou Paulo ao mostrar o seu comprometimento com a fé que ele defendia como fundamento da sua relação com Deus. Não há como ser político e ser evangélico; não há como servir a Deus e ao mundo; não há como conciliar os mandamentos de Deus e as regras impostas por siglas partidárias.
Estamos num momento crucial da história do cristianismo onde a pirataria e a falsificação avançam numa velocidade incontrolável e se abrirmos brechas, os oportunistas irão montar as suas tendas nos arraiais cristãos e tirá-los de lá será praticamente impossível. O evangelho está sendo usado como moeda de troca em todas as esferas da sociedade, a credibilidade está cada vez mais abalada e a confiança que outrora tínhamos, há muito se foi. O nome de cristão hoje, em muitos casos, é sinônimo de calote e igreja já não diferencia em praticamente nada de uma entidade social onde os sócios freqüentam da forma como melhor lhes convier. Importam-se tudo do mundo para dentro de nossas igrejas, da música passando pelos mais ridículos ritmos de dança ao jogo, onde as rifas rolam soltas, tudo é valido em nome de Deus. O espetáculo e show que são marcas registradas do Diabo passaram a dominar as reuniões que deveriam ser solenes e o testemunho que foi imposto como imperativo para a vida cristã está sendo colocado em plano inferior, tudo para não perder os fiéis e não reduzir os números que compõem o quadro de associados de nossas agremiações religiosas.
A recomendação Bíblica é para que fujamos da “aparência” do mal, o que nos remete a abandonarmos qualquer situação que coloque em risco a nossa relação de integridade cristã impedindo a nossa comunhão perfeita com Deus. Portanto, não vejo – usando a Bíblia – qualquer justificativa plausível para que um evangélico milite na esfera da política; pode sim defender ideologias o que é natural e faz parte da democracia, daí a se meter com as fileiras da militância, não há qualquer respaldo nas Escrituras Sagradas.
Fraternalmente em Cristo,
Carlos Roberto Martins de Souza
crms1casa@hotmail.com