CHÁVEZ E AS FARC: UMA PROXIMIDADE DEMOCRÁTICA

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Em nenhum lugar da América Latina, desde o início do século XX, a exploração capitalista foi tão perversa como na Colômbia, como aponta Yuri Martins Fontes. Para se ter uma idéia da situação colombiana, segundo Yuri, foi o único país da América Latina a não subvencionar a economia ao Estado depois da crise da bolsa de valores de Nova York, em 1929. A dominação das multinacionais era tão devastadora que levou os próprios (antigos) liberais, em 1948, a se associarem aos grupos socialistas para tentar conter o avanço implacável do Grande Capital difundido pelos conservadores. No entanto, com as tomadas de posições políticas pelos socialistas, os liberais fundiram-se, como já ocorrera em toda a AL, aos conservadores: nada mais do que passou a ser conhecido desde então pela alcunha de “neoliberalismo”. Devido à total falência do estado civil, houve muitos focos de resistência, entre eles consolidaram-se as FARC e o ELN (Exército de Libertação Nacional), do padre-guerrilheiro Camilo Torres, assassinado em 1966. Na década de 60, quando se espalharam as ditaduras militares por todo o mundo, na AL, a da Colômbia foi uma das mais sangrentas, com a dizimação de aldeias inteiras. Até hoje é provavelmente a ditadura mais impune de nosso continente. Enquanto, na década de 80, em praticamente toda a AL se apontava para uma certa “abertura”, na Colômbia, sempre sob o controle norte-americano, formavam-se grupos internos de inteligência militar e grupos paramilitares, todos atuando na difusão do extermínio de pessoas e vilas inteiras. Como Maquiavel e Spinoza sabiam, quanto mais um Estado se constitui autoritário, tirânico, abolindo o estatuto civil, permite e até exige a instauração de um estado natural de guerra. Foi sob esse ponto de vista que nas selvas colombianas se deu o acontecimento FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) ou Ejército del Pueblo, como é popularmente chamada a guerrilha que se consolidou em 1964, sob a liderança de Manuel Marulanda, que vai resistindo ao braço armado e midiático do imperialismo há mais de 40 anos.

Quase ao reverso da Colômbia, a Venezuela talvez seja o único país da AL onde não vingaram ditaduras a partir da década de 60, embora tenha havido muita corrupção, subserviência aos Estados Unidos, aumento do desemprego e da pobreza, aprofundamento da desigualdade social muito acentuados em vários períodos. Mas, sempre impulsionada desde a década de 20 pela indústria petrolífera, a Venezuela sobreviveu à década das ditaduras mundiais e as subseqüentes. Foi no período de maior corrupção, no segundo governo de Carlos Andrés Pérez (1988-1993), que a figura de Hugo Chávez despontou. Em 1992, Chávez tentou destituir Pérez, mas não conseguiu. Mas isso acabou ocorrendo em 1993, por impeachment por corrupção. Julgado pelos crimes que cometera, Pérez foi preso no ano seguinte. Mas os anseios de Chávez não somente no que diz respeito à Venezuela, mas na tentativa de liberar outros países da AL principalmente da força imperial americana, ainda aguardaria 5 anos para, eleito como presidente, colocar-se em prática. Eleito para o período de 1999-2004, ele formulou uma nova constituição, a Constituição Bolivariana, que destituiu de uma só vez o senado e o congresso, sendo instituída a Assembléia Nacional e decretadas eleições gerais que ocorreram em julho de 2000. Com o mandato para presidente aumentado para seis anos, Chávez foi eleito novamente para o período 2001-2007. Tendo saído de um golpe de estado fracassado em 2002, sendo reempossado ao palácio Miraflores pela resistência popular e partes das forças armadas que o apóiam, levando praticamente ao ridículo seus opositores, ele se consolidou como uma potência ativa democrática na AL, como já dissemos (aqui) neste bloguinho.

Tanto Marulanda como Chávez são constantemente atacados não só pelos opositores políticos e militares, mas incansavelmente pela mídia. O presidente venezuelano, que sempre coloca democraticamente seus maiores projetos à votação popular em plebiscito, inclusive perdendo no último realizado, é tratado como ditador. Do colombiano torna-se até impossível à distância saber o que é, de fato, verídico: ligam-no ao narcotráfico, ao MST, a Lula, a Evo, a Fidel, ao Marcola, até a corrupção no Corinthians, etc. São tantas especulações, mas o que se sabe de fato é que agora há uma proximidade entre ele e Chávez. Primeiro Chávez se dispôs a atuar nas negociações entre as FARC e o governo de Álvaro Uribe (a quem, a despeito dos antagonismos políticos já prestou significativos apoios econômicos) para troca de reféns e prisioneiros.

Acusado sempre de manter uma estreita relação com os grupos paramilitares e uma intensificação a massacres nas tentativas de captura de membros das FARC, o governo neoliberal de Uribe governa a partir de uma posição de extrema-direita e total subserviência aos Estados Unidos. Diante disso já era esperado que a “troca” dificilmente teria êxito. E foi o que ocorreu quando Uribe começou a acusar que a “manobra” de Chávez facilitava o controle das FARC em algumas regiões da Colômbia, enquanto este rebatia que o presidente colombiano intensificara a perseguição armada, dificultando as negociações. Uribe então desautorizou Chávez de realizar as negociações. De forma surpreendente as FARC resolveram, como um “desgravo ao afastamento de Chávez das negociações”, liberar três importantes reféns — a ex-candidata à presidência da Colômbia, Clara Rojas, e seu filho Emmanuel, nascido em cativeiro, e que deu nome à missão, e a ex-congressista Consuelo González. A entrega foi marcada para ocorrer em Villavicencio entre os dias 30 do ano passado e dia 01 deste ano. Foram convidados por Chávez vários representantes internacionais, como integrantes da Cruz Vermelha, Nestor Kirchner (ex-presidente da Argentina), Piedad Córdoba (senadora colombiana), Marco Aurélio Garcia (do Brasil) e Oliver Stone (cineasta Norte-americano, que está realizando um documentário sobre a América Latina, com o qual Chávez brincou, dizendo que era um “emissário do presidente americano, George W. Bush”).

Aconteceu que após todo o espetáculo midiático, as FARC não deram as coordenadas onde os reféns seriam encontrados, alegando que o governo de Uribe não diminuíra de forma alguma a ofensiva militar na região. O governo colombiano negou, afirmando que a suspensão se deveu às FARC não terem mais em seu poder o menino Emmanuel. No entanto, até hoje, o governo de Uribe não comprovou a afirmação e, ao contrário, um alto-membro do governo informou que um guerrilheiro teria sido morto justamente na área que deveria estar desmilitarizada. Os observadores internacionais voltaram às suas nações. Chávez afirma que os helicópteros e a equipe de resgate continuarão em Villacencio enquanto o governo colombiano permitir. A identidade e o paradeiro de Emmanuel seguem como foco da mídia sensacionalista. Na saudação natalina de Marulanda, ele conclama as FARC a intensificarem sua resistência…

Em algum lugar vimos que Manuel Marulanda é também um ativista contra a homofobia, que ele é homoerótico e que vive com seu parceiro Juan Martin; talvez aí na cotidianeidade do amor esteja a ternura com que trata e é tratado pelos membros das FARC, tentando criar laços autênticos para além de um Estado Civil inexistente. De Hugo Chávez, sabe-se também que, além do humor e inteligência que o acompanham, recentemente gravou um CD com músicas rancheras venezuelanas. O que Oliver Stone apresentará no final de 2008, como ele mesmo falou, que teríamos de esperar. Então, esperamos que, para além do olhar lúcido sobre a política da AL, ele atualize as micropercepções cinematográficas do amor do “Tirofijo” (tiro certo) e, quanto a Chávez, que o deixe cantar, para que Emmanuel, esteja onde estiver, como filho de uma refém e de um guerrilheiro, escape no nascimento e preservação da Democracia. Enquanto isso…

6 thoughts on “CHÁVEZ E AS FARC: UMA PROXIMIDADE DEMOCRÁTICA

  1. É, queridos, estou em dívidas com vcs, recebi o zemeio, dando notícias da Bianca, que fica em Aracaju apenas, sem trânsito por Salvador, lamento tanto…
    Sempre rizomáticos e queridos Afins, o endereço é este:Av. Tancredo Neves, 450, Edf. Suarez Trade, 23º andar, sala 2301 / 2302 – Caminho das Árvores – CEP: 41820-020 – Salvador – BA – É da sec. de c&t. Trampo.
    No más, apenas um imenso afeto e consideração por todos os AFINS. Bjuxxxxxx

  2. REVOLUÇÃO QUILOMBOLIVARIANA !
    Manifesto em solidariedade, liberdade e desenvolvimento dos povos afro-ameríndio latinos, no dia 01 de maio dia do trabalhador foi lançado o manifesto da Revolução Quilombolivariana fruto de inúmeras discussões que questionavam a situação dos negros, índios da América Latina, que apesar de estarmos no 3º milênio em pleno avanço tecnológico, o nosso coletivo se encontra a margem e marginalizados de todos de todos os benefícios da sociedade capitalista euro-americano, que em pese que esse grupo de países a pirâmide do topo da sociedade mundial e que ditam o que e certo e o que é errado, determinando as linhas de comportamento dos povos comandando pelo imperialismo norte-americano, que decide quem é do bem e quem do mal, quem é aliado e quem é inimigo, sendo que essas diretrizes da colonização do 3º Mundo, Ásia, África e em nosso caso América Latina, tendo como exemplo o nosso Brasil, que alias é uma força de expressão, pois quem nos domina é a elite associada à elite mundial é de conhecimento que no Brasil que hoje nos temos mais de 30 bilionários, sendo que a alguns destes dessas fortunas foram formadas como um passe de mágica em menos de trinta anos, e até casos de em menos de 10 anos, sendo que algumas dessas fortunas vieram do tempo da escravidão, e outras pessoas que fugidas do nazismo que vieram para cá sem nada, e hoje são donos deste país, ocupando posições estratégicas na sociedade civil e pública, tomando para si todos os canais de comunicação uma das mais perversas mediáticas do Mundo. A exclusão dos negros e a usurpação das terras indígenas criaram-se mais e 100 milhões de brasileiros sendo estes afro-ameríndios descendentes vivendo num patamar de escravidão, vivendo no desemprego e no subemprego com um dos piores salários mínimos do Mundo, e milhões vivendo abaixo da linha de pobreza, sendo as maiores vitimas da violência social, o sucateamento da saúde publica e o péssimo sistema de ensino, onde milhões de alunos tem dificuldades de uma simples soma ou leitura, dando argumentos demagógicos de sustentação a vários políticos que o problema do Brasil e a educação, sendo que na realidade o problema do Brasil são as péssimas condições de vida das dezenas de milhões dos excluídos e alienados pelo sistema capitalista oligárquico que faz da elite do Brasil tão poderosa quantos as do 1º Mundo. É inadmissível o salário dos professores, dos assistentes de saúde, até mesmo da policia e os trabalhadores de uma forma geral, vemos o surrealismo de dezenas de salários pagos pelos sistemas de televisão Globo, SBT e outros aos seus artistas, jornalistas, apresentadores e diretores e etc.
    Manifesto da Revolução Quilombolivariana vem ocupar os nossos direito e anseios com os movimentos negros afro-ameríndios e simpatizantes para a grande tomada da conscientização que este país e os países irmãos não podem mais viver no inferno, sustentando o paraíso da elite dominante este manifesto Quilombolivariano é a unificação e redenção dos ideais do grande líder zumbi do Quilombo dos Palmares a 1º Republica feita por negros e índios iguais, sentimento este do grande líder libertador e construí dor Simon Bolívar que em sua luta de liberdade e justiça das Américas se tornou um mártir vivo dentro desses ideais e princípios vamos lutar pelos nossos direitos e resgatar a história dos nossos heróis mártires como Che Guevara, o Gigante Osvaldão líder da Guerrilha do Araguaia. São dezenas de histórias que o Imperialismo e Ditadura esconderam. Há mais de 160 anos houve o Massacre de Porongos os lanceiros negros da Farroupilha o que aconteceu com as mulheres da praça de 1º de maio? O que aconteceu com diversos povos indígenas da nossa América Latina, o que aconteceu com tantos homens e mulheres que foram martirizados, por desejarem liberdade e justiça? Existem muitas barreiras uma ocultas e outras declaradamente que nos excluem dos conhecimentos gerais infelizmente o negro brasileiro não conhece a riqueza cultural social de um irmão Colombiano, Uruguaio, Venezuelano, Argentino, Porto-Riquenho ou Cubano. Há uma presença física e espiritual em nossa história os mesmos que nos cerceiam de nossos valores são os mesmos que atacam os estadistas Hugo Chávez e Evo Morales Ayma,Rafael Correa, Fernando Lugo não admitem que esses lideres de origem nativa e afro-descendente busquem e tomem a autonomia para seus iguais, são esses mesmos que no discriminam e que nos oprime de nossa liberdade de nossas expressões que não seculares, e sim milenares. Neste 1º de maio de diversas capitais e centenas de cidades e milhares de pessoas em sua maioria jovem afro-ameríndio descendente e simpatizante leram o manifesto Revolução Quilombolivariana e bradaram Viva a,Viva Simon Bolívar Viva Zumbi, Viva Che, Viva Martin Luther King, Viva Osvaldão, Viva Mandela, Viva Chávez, Viva Evo Ayma, Viva a União dos Povos Latinos afro-ameríndios, Viva 1º de maio, Viva os Trabalhadores e Trabalhadoras dos Brasil e de todos os povos irmanados.
    O.N.N.QUILOMBO –FUNDAÇÃO 20/11/1970
    quilombonnq@bol.com.br

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