O MEDIUM TELEVISIVO E A OPINIÃO PÚBLICA

Dos Conceitos
& Panegírico. Do grego panegyrichós. Denota discurso que profere elogio, apologia, ou louvor à algo.
& Promocional. Do latim promotione. Ato de promover, acesso, elevação a cargo ou categoria superior. Tratando-se de questões de mercado indica uma “ação comercial que visa a divulgação e venda de um novo produto ou o escoamento de mercadoria”.
Quando Promover e Elogiar são Necessários
Sendo a estrutura do médium televisivo independente de seus conteúdos programáticos, propriamente um elemento ativo da economia de mercado, tudo que se apresente nela passa a se constituir como mercadoria dentro da lógica do capital, seja um produto que se apresente vendável a partir de um comercial ou uma pessoa, um objeto, um gesto, uma fala ou expressão que apareça em algum programa, logo ele é capturado como signo televisivo-mercadoria. Portanto, comercialmente, ele precisa ser divulgado, difundido e mostrado como algo separado de seu status natural (a maneira que surge no mundo) e adquirir a forma a qual a tevê, enquanto fabricante de produtos para o mercado, achar necessária. É isto uma prática comum a todas as emissoras que forjam programas para promover seus modelos-produtos. Tal prática é inerente à lógica capitalista que não pretende o acúmulo do capital (entesouramento), mas ao contrário, sua veiculação constante e sua tendência a conservar modos de existência que estejam de acordo com a produção de sua subjetividade. E, no caso do médium televiso, a veiculação é de informações vazias, comportamentos, posturas e rostos que impeçam novas percepções. Daí o ato de expor seus produtos televisivos, promovendo e elogiando a si próprio, serem característicos a todos os canais de televisão. Mas daí, também, as redes de televisão não pensarem (se é que isto é possível!) uma só vez quando o que elas necessitam é expurgar o produto que já não rende audiência, ibope, de sua programação mercadologicamente calculada.
Quando Vamos Mal na Televisão… É Porque não Estamos Só
Apareceu na televisão, deu audiência, não importa como e porquê, então vendemos, porque lucramos. Então o óbvio: se o produto está demostrando um malbaratar para a rede de televisão, expurgamo-o. Este foi o caso da ex-rainha Xuxa, deposta pelo seu pretenso povo-público. Perdeu seu programa semanal, porque os níveis de audiência deste não estavam mais alcançando os antigos pontos positivos, e foi rebaixada para um programa que só vai ao ar aos sábados. Poderíamos dizer que agora a infantilidade mediática terá apenas um dia durante a semana? Estaríamos enganados se assim fizéssemos. Toda a programação televisiva é infantilizante. E nisto não há disputa entre as redes de TV (como não há em nada no médium televisivo, pois entre iguais não há disputa), pois todas alicerçam suas programações nisso, e nunca se preocuparam com a potência criadora que a criança movimenta ludicamente. Mas Xuxa, buscando o fio tênue de inteligência que a ex-realeza mediática pode lhe oferecer, abriu a boca para além de suas pronúncias abjetas programadas: não é somente a audiência de seu programa que está despencando, é a audiência de toda a Rede Globo de Televisão (RGTV) que desce morro abaixo. Sinal de coragem? Acreditamos que não. Tratando-se de produtos midiáticos, a coragem é desnecessária. Ela talvez tenha percebido que seu reinado na RGTV começa a ter um fim e inicia a tentativa de passar de um produto pertencente a RGTV, e procura outras emissoras para galgar outros reinados. Mas isto é o seu contrato, seu empresário, suas “qualidades” como produto-mediático que irão dizer.
Um Conto de Fadas às Avessas
Quando se é rainha, tudo é uma maravilha e tudo pode acontecer. E quando se é rainha no reino ordinário da mídia, o lugar do “tudo pode acontecer” é os programas que derramam o panegírico promocional televisivo. Que a RGTV está cheia destes programas isto é sabido por todos; no entanto, trataremos aqui (outros programas com esta mesma característica da RGTV, serão temas de novos textos nesta coluna) de um em especial, por ser aquele responsável pela promoção dos produtos-mediáticos da RGTV mais dedicado: o Domingão do Faustão. Este programa se resume em fazer a auto-promoção da RGTV. Nele, funcionários-atores da Globo aparecem para serem exaltados como modelos em suas áreas de atuação, na sua vida com os amigos de profissão e na sua vida intima e familiar. No último programa do ano de 2007, este programa realizou uma programação voltada para a premiação de pessoas que se destacaram em áreas artísticas, jornalisticas, musicais, entre outras. O caso é que toda a premiação estava fechada na apologia e elogio da programação da RGTV: os indicados aos prêmios foram escolhidos por funcionários da RGTV, na grande maioria os premiados pertencem à RGTV, Fátima Benardes, apresentadora, ao lado de seu marido BonnerSimpson, do telejornal Jornal Nacional, foi ganhadora desta edição do prêmio e de todas as outras anteriores; a grande homenageada do programa foi Glória Pires, que começou sua carreira de atriz-televisiva na RGTV, onde seu pai já era funcionário e o troféu, feito por Hans Donner, mostrava uma pessoa em pose de acensão, com os braços erguidos, com a cabeça levantada para o céu, segurando nas mão o símbolo maior da RGTV, seu logotipo que mistura um globo terrestre e a tela de uma televisão. Pois bem, muitos apareceram, todos sendo ligados à programação da RGTV, mesmo aqueles que não tem diretamente vínculos com a rede, como é o caso de grupos musicais (o que não é o caso da cantora Ivete Sangalo, que até já apresenta programas na emissora em questão), mas algo não ocorreu: não houve premiação para melhor programa direcionado ao público infantil (como a TV bem classifica). Nem a ex-rainha dos baixinhos apareceu. Geralmente os contos de fada são estórias onde a plebéia se torna princesa; no caso de Xuxa, ele se inverteu. Xuxa não teve o panegírico promocional ao seu lado, não ouviu os elogios do apresentador Fausto Silva, sempre dedicado ao exagero. Não foi rainha. Não apareceu. É certo que teve seu programa especial de natal, mas o que se transforma tradicional na mídia é enquanto é visto como recurso rentável. Xuxa caiu de rainha cinco dias por semana para apresentadora de programa para adolescentes somente aos sábados. No lugar do seu programa ficou um chamado TV Globinho, que traz três curiosidades: a primeira, que foi feito uma inversão de horário. Este programa ia ao ar somente aos sábados e agora fica no horário do antigo programa da antiga rainha e esta vai para os dias de sábado; segunda, que a troca não é somente de horário, mas também de conteúdo, se no ex programa de Xuxa, esta falava aos tele-espectadores em vários blocos, na TV Globinho a grande atração são os desenhos animados; terceira, o título do programa de Xuxa era TV Xuxa, ou seja, uma TV dela, agora é TV Globinho. Será uma tentativa de capturar com maior força os baixinhos que a ex-rainha não conseguiu cooptar diretamente para a subjetividade mercadológica da RGTV? Mas isto já é feito há muito tempo, com ou sem Xuxa. O fato é que a ex-rainha começa a andar nos horários plebeus da seqüelada mídia. Toda via, continua na promoção televisiva, pois se não está sendo divulgada como antes, agora está sendo escoada para outros recantos mediáticos-globotários.
Esta coluna acredita na possibilidade da expansão da consciência pelas experiências autênticas que fazem soltar novas percepções, a criação de novos olhares sobre o mundo. Na alegria-estética de perceber o medium televisivo como uma violência à inteligência coletiva, contamos com a sua contribuição.