PRESO POLÍTICO, ATIVISTA DO BENIN DENUNCIOU “MÉTODO FASCISTA” DE GOVERNO TALON E ALERTOU PARA AVANÇO DO AUTORITARISMO NO PAÍS
Ao Brasil de Fato, Damien Dégbé relatou cerco a opositores 3 meses antes de ser preso; ele foi detido em 21 de outubro
Damien Zinsou Dégbé: ‘Falando do poder de Patrice Talon, trata-se de um governo neoliberal, consolidado, que sucede a outros poderes que mantêm o neocolonialismo em nosso país’ – Pedro Stropasolas/Brasil de Fato
A informação foi confirmada pela Organização de Defesa dos Direitos Humanos e dos Povos (ODHP), que classificou o episódio como um “ato criminoso” e exigiu sua libertação imediata. Três dias após sua prisão, Dégbé segue detido.
Segundo a ODHP, o jovem foi levado para o Centro Nacional de Investigação Digital (CNIN), dirigido por Ouanilo Mèdégan, figura central do aparato repressivo do regime do presidente Patrice Talon, um aliado do presidente francês Emmanuel Macron na África do Oeste.
Interrogado durante a noite, Dégbé foi acusado de “ciberassédio, incitação à violência e rebelião”, acusações que, de acordo com a organização, têm motivação exclusivamente política, baseadas em suas atividades no Partido Comunista do Benin (PCB) e em suas críticas públicas ao governo.
Após o interrogatório, ele foi transferido para a delegacia do porto de Cotonou. Um dia depois, em 22 de outubro, também foi detido Parfait Gnami, membro do CoJeP na região de Parakou, no norte do país.
Segundo a ODHP, o regime de Talon acumula um histórico de sequestros e detenções arbitrárias dentro e fora do país , entre eles, os casos de Steve Amoussou, Hugues Comlan Sossoukpè, e Reckya Madougou, o que caracteriza um padrão de terrorismo de Estado.
Em janeiro, a detenção de dois membros do Conselho da Juventude Patriótica (CoJeP) foi revelada pelo Brasil de Fato com exclusividade. Os jovens faziam na ocasião um ato pacífico no centro de Cotonou contra a presença militar francesa no país.
“O Benin vive hoje sob métodos fascistas de governo que esmagam a juventude e os cidadãos”, afirma o comunicado, que convoca a comunidade internacional e os movimentos democráticos a pressionarem por sua libertação.

Eleição de Patrice Talon, prisões e perseguição política
Em abril de 2021, a comissão eleitoral do Benin declarou Patrice Talon vencedor das eleições presidenciais com 86% dos votos já no primeiro turno, em um pleito marcado pelo boicote de parte da oposição. Na véspera da votação, segundo a organização Human Rights Without Frontiers International, duas pessoas foram mortas quando tropas abriram fogo para dispersar um protesto oposicionista que bloqueava uma via importante na cidade de Savè, no centro do país.
O mesmo relatório da entidade destacou que, desde sua chegada ao poder em 2016, Talon consolidou um regime cada vez mais repressivo, prendendo ou forçando ao exílio a maioria de seus adversários políticos. Essas ações, somadas ao controle sobre o Judiciário e à criação de tribunais especiais usados contra opositores, reforçam as denúncias de enfraquecimento democrático e de perseguição política no Benin.
De janeiro a setembro de 2021, segundo o relatório, 200 indivíduos foram presos por motivos políticos, com a maioria deles aguardando julgamento em prisão preventiva. Em 2021, as 11 instalações prisionais do Benin albergavam aproximadamente 9.000 reclusos, excedendo significativamente a capacidade normativa de 5.620 detentos.
Em julho, três meses antes de ser detido, Damien Dégbé concedeu uma entrevista exclusiva ao Brasil de Fato em Cotonou, capital econômica do Benin. Na conversa, o líder popular que agora está preso denunciou o caráter “autocrático e pró-imperialista” do governo de Patrice Talon, acusando o presidente de entregar o país à França e de reprimir sistematicamente as manifestações populares.
“Condenamos com firmeza o que chamamos de “alta traição” de Patrice Talon, que permite que os antigos agressores coloniais voltem a “beber champanhe sobre o túmulo de nossos heróis que lutaram contra os invasores”. E é por isso que a juventude exige que ele responda por seus atos e promete continuar lutando pela libertação completa do país das mãos dos franceses, em prol de um novo poder democrático e patriótico”, destacou a liderança do Conselho da Juventude Patriótica (CoJeP) do Benin.
Dégbé falou também sobre a presença de tropas francesas no Benin e o movimento de ruptura com o Ocidente liderado pelos países que compõem a Aliança dos Estados do Sahel(AES): Mali, Burkina Faso, e Níger.
“O novo mundo que está emergindo coloca o ser humano no centro das políticas e das preocupações, ao contrário do velho sistema comandado pelo imperialismo americano e armado pela Otan [Organização do Tratado do Atlântico Norte], que transformava o homem em simples mercadoria. Esse mundo antigo está desmoronando, e um novo está surgindo. Por isso, a libertação da África é inevitável. Com ou sem o consentimento das antigas potências, a África vai se libertar”, afirma Dégbé.
Confira a entrevista completa:
Brasil de Fato: Como você definiria o governo de Patrice Talon para quem não o conhece no Brasil?
Damien Dégbé: Falando do poder de Patrice Talon, trata-se de um governo neoliberal, consolidado, que sucede a outros poderes que mantêm o neocolonialismo em nosso país. Quando se observa toda a sua política, a política econômica, a política de construção de infraestruturas, a política educacional, vemos isso claramente. Por exemplo, a criação de uma escola puramente francesa aqui no Benin, que abriu suas portas em outubro passado chamada escola Manuel Talon, e que aplica apenas um programa tipicamente francês e até um calendário acadêmico tipicamente francês.
Outro exemplo é a sua política sanitária, que consiste em destruir o patrimônio público nacional em benefício do que as potências, o imperialismo francês, lhe impõem. Tomo como exemplo o hospital chamado “Chic”, recém-instalado, que nada mais é do que um centro puramente francês exportado para cá, administrado por expatriados franceses.
E o pior é que, nas cláusulas de instalação deste hospital, está previsto que ele ficará isento de impostos por 17 anos. Durante 17 anos, quem paga são as massas daqui: são os cidadãos que vão pagar a eletricidade e a água para esse hospital, enquanto expatriados vêm para cá, exploram a economia do país gratuitamente e não pagam impostos. Essas são algumas ilustrações do que representa o poder de Patrice Talon, do ponto de vista da soberania do país. Ele praticamente liquidou o país.
Todos os dias, ou praticamente todas as semanas, os jovens estão nas ruas. As mulheres estão nos mercados. Os camponeses e produtores, que são assediados, explorados, privados do fruto do seu trabalho, sobrecarregados com impostos e taxas injustas, e impedidos de desfrutar do resultado de sua produção, todos esses grupos, hoje reunidos em torno do CoJeP, estão de pé e dizem “basta!”, exigindo o fim do regime autocrático e pró-imperialista de Patrice Talon, e lutando por uma nova governança democrática e verdadeiramente patriótica no país.
Na sexta-feira, 13 de junho, houve manifestações em três localidades diferentes do país, organizadas pelos comitês locais do Conselho da Juventude Patriótica, e elas também foram um sucesso. Vimos mulheres e jovens cheios de energia, prontos para lutar contra a miséria e, sobretudo, contra o autoritarismo representado pelo poder de Patrice Talon. Essas manifestações demonstraram a determinação do nosso povo e tiveram grande repercussão tanto dentro quanto fora do país.
Como de costume, o regime autocrático reagiu: no dia seguinte, sábado, 14 de junho, duas mulheres que haviam participado da manifestação no mercado de Parakou, cidade localizada no centro-norte do país, foram presas, juntamente com um dirigente do CoJeP. Todos foram detidos na delegacia do primeiro distrito de Parakou. Desde então, continuam as denúncias e as mobilizações exigindo sua libertação, assim como a continuidade das lutas com reivindicações claras: não ao assédio dos camponeses e produtores, não às taxas e impostos injustos, não à presença de tropas francesas no país.
Condenamos com firmeza o que chamamos de “alta traição” de Patrice Talon, que permite que os antigos agressores coloniais voltem a “beber champanhe sobre o túmulo de nossos heróis que lutaram contra os invasores”. E é por isso que a juventude exige que ele responda por seus atos e promete continuar lutando pela libertação completa do país das mãos dos franceses, em prol de um novo poder democrático e patriótico.
Damien, você pode contar um pouco da sua história e como surgiu o Conselho da Juventude Patriótica do Benin (CoJeP)?
Entrei na luta ainda no colégio, como dirigente da União Nacional dos Estudantes e Escolares do Benin (UNSEB). Depois, na universidade, fui secretário-geral da organização. Mais tarde, busquei formação política e me integrei ao Partido Comunista do Benin, que me educou ideologicamente. É sob essa orientação que criamos o Conselho da Juventude Patriótica (CoJep), e é nela que seguimos firmes.
O CoJep nasceu em 29 de março de 2021, com representantes da juventude democrática e patriótica vindos de todos os departamentos do país. Nesse mesmo dia, adotamos um manifesto que fazia o diagnóstico do contexto nacional: um momento marcado pelo rechaço massivo do povo ao poder autocrático e pró-imperialista de Patrice Talon, sustentado pelas botas do imperialismo francês.
Os jovens, confrontados com o desemprego, o subemprego e, acima de tudo, a precariedade da vida, decidiram assumir sua responsabilidade e fundar o CoJeP, que desde então tem avançado em sua trajetória.
As mulheres e os jovens parecem estar na linha de frente dessas mobilizações. Por quê?
De fato, é a juventude e também as mulheres que sentem mais fortemente essa miséria, essa fome, mais do que qualquer outro grupo da população. Primeiro, porque é a juventude que enfrenta diretamente o problema do desemprego.
Os jovens saem das escolas, das universidades, dos centros de formação profissional, das oficinas, com diplomas na mão, mas continuam desempregados, sem trabalho. Esse é o primeiro grande sofrimento da juventude.
Em segundo lugar, as mulheres. Desde a chegada do regime autocrático de Patrice Talon ao poder, em 2016, sua política anti social consistiu em suprimir empregos, demitir pessoas e expulsar as vendedoras que trabalham nas ruas, sem oferecer nenhuma alternativa de realocação.
Ou seja, todos esses trabalhadores, mulheres, homens, pais, filhos, foram afastados de suas atividades, e o peso maior acabou recaindo sobre as mulheres, que precisam se desdobrar para garantir a sobrevivência do lar.
Mas, além deles, outras camadas da população também estão sufocadas até o pescoço. Basta ver o que acontece com os camponeses: eles são perseguidos, têm seus caminhos bloqueados com valas e pedras nas rotas que levam às fronteiras com países vizinhos, tudo para impedir que possam vender seus produtos onde o preço é melhor.
Um exemplo: um produtor de soja vê que, do outro lado da fronteira, o quilo está sendo vendido a 1.000 francos, enquanto no Benin vale apenas 400 francos. Se ele tenta atravessar para vender melhor, é reprimido, obrigado a vender por 400 francos no país.
E quando ele vende, o governo, por meio de suas estruturas paralelas, controladas diretamente por Patrice Talon, que detém o monopólio de todos esses produtos tropicais, compra sua produção a preços baixos. Uma parte é “transformada” em uma indústria instalada em Glodjigbé, chamada GDIZ, que, na verdade, é uma forma de deslocalização de indústrias de países imperialistas para o Benin. Depois, os empresários exportam o restante para o exterior, onde vendem a preços altíssimos, enquanto o produtor rural continua vivendo na precariedade e na miséria.
Portanto, a miséria e a fome que assolam o país hoje não são sentidas apenas pelos jovens e pelas mulheres, mas por todo o povo beninense, que sofre e reclama diante dessa situação generalizada de injustiça e empobrecimento.

Você citou o contexto regional, com as mudanças observadas nos países que compõem a Aliança dos Estados do Sahel (AES). Qual o impacto desse processo no Benin?
Como não é segredo, na sub-região da África Ocidental hoje há um vento de patriotismo africano que está em ascensão. Tomo como exemplo o que acontece no Burkina Faso, com a tomada do poder pelos militares sob a liderança de Ibrahim Traoré; o que se passa no Mali com Assimi Goïta; e o que se passa no Níger com o general Abdourahmane Tchiani.
Todos esses atores tiraram lições do dano que a França causou a seus países, escondendo-se atrás da falsa luta contra o terrorismo, e assumiram sua responsabilidade expulsando as tropas francesas de seu território. O mais recente foi o Níger.
Em seguida, Patrice Talon assinou com Emmanuel Macron, no Eliseu, um novo acordo militar para alocar aqui parte das tropas expulsas do Níger. E, como vocês sabem, quando as tropas francesas se deslocam para algum lugar, elas sempre trazem na bagagem o terrorismo que elas mesmas fabricam, mantêm, financiam e armam para agredir as populações e os países.
É em nome da luta contra essa suposta agressão que essas tropas se instalam e operam, tendo como objetivo usar o Benin como base de retaguarda para atacar países do Sahel e se reposicionar.
Esse é, portanto, o papel que Patrice Talon exerce hoje: serve aos interesses da França e contra os interesses do povo beninense. É por isso que a juventude beninense diz “basta , isso é demais”. Devemos assumir nossas responsabilidades.

Se você puder falar um pouco sobre os números de 500 soldados franceses que estão vivendo hoje no Benin. Mesmo que Talon e Macron neguem esse número, é algo que vocês denunciam bastante…
Há 500 soldados franceses no Benin, e esse número não foi apresentado por acaso, é bem documentado. No momento oportuno apresentaremos esses documentos para comprovar. Isso se insere na mesma lógica do que expliquei anteriormente: Talon entregou o país à França por meio de um novo acordo militar que assinou com Emmanuel Macron.
Esses militares são vistos diariamente pela população, mesmo enquanto o governo nega sua presença, o que confirma a natureza manipuladora desse poder. Um poder que mente, manipula e não assume suas escolhas e nem sua política.
Ninguém sabe exatamente qual é o papel que as tropas francesas desempenham aqui. E se estão realmente aqui para combater o terrorismo, por que então o terrorismo continua crescendo? É a pergunta que os beninenses se fazem hoje.
A conclusão é que eles não cumprem nenhum papel positivo, pelo contrário, são eles que intensificam os ataques terroristas, nos quais nossos filhos, irmãos e pais morrem todos os dias. É por isso que o povo beninense exige que eles saiam do país e voltem para casa, porque queremos um território livre e soberano.
Hoje, parte do território nacional está ocupada. Mais de seis vilarejos no norte do país, especialmente no departamento de Atakora, foram esvaziados. Os homens fugiram, as escolas e os hospitais foram fechados, e essas áreas estão ocupadas por quem? Pelos chamados “jihadistas”, que, na verdade, seriam forças auxiliares do exército francês presente em solo beninense.
Como é possível chegar a um nível de traição tão grave contra o próprio povo? Vimos o que aconteceu no Sahel. Todos sabem que a França sempre esteve por trás dos grupos terroristas naquela região. Desde que os franceses deixaram Kidal, no Mali, o exército regular malinês finalmente pôde retomar a cidade, algo que não aconteceu por quase nove anos. Foi necessária a chegada de Goïta ao poder para que Kidal fosse libertada, e o povo malinês pudesse viver novamente ali.
Depois da partida das tropas francesas, descobriu-se o que elas realmente faziam: um escândalo de exploração mineral. Havia ouro, que os franceses extraíam por meio de túneis subterrâneos, e petróleo, que também exploravam.
Não é pecado para nós sermos um povo rico, com recursos no subsolo, mas o que pedimos é o direito de usufruir de nossas próprias riquezas.

O que representa, para você, o sentimento anti francês que cresce na África do Oeste?
O sentimento de que falamos não é um sentimento antifrancês, mas sim um sentimento contra o imperialismo francês. Nossa luta não é contra o povo francês, que, aliás, em muitos casos partilha das mesmas causas que nós. Nossa luta tem como alvo a oligarquia francesa, que mantém tanto o povo francês quanto os povos africanos como reféns, explorando-os.
É contra essa oligarquia que nos levantamos, e por isso recusamos o termo “sentimento antifrancês”. Não, o que existe é um sentimento antineocolonialista francês, anti-imperialista francês e antioligárquico francês. É disso que se trata.
E é exatamente isso que os povos africanos têm expressado nas ruas ao dizer: “basta!”. A França já explorou nossos países por tempo demais. O que hoje representa a Aliança dos Estados do Sahel (AES) para os povos africanos é um símbolo de esperança, porque vemos ali um movimento patriótico real, com ações concretas: os franceses foram expulsos, os americanos foram expulsos, suas tropas foram retiradas , depois de décadas de presença sem trazer nada de positivo.
Hoje, por exemplo, o Burkina Faso, um país desértico que muitos acreditavam ser incapaz de se alimentar sozinho, está produzindo o suficiente para abastecer até países vizinhos mais áridos. Isso é visto como um avanço, uma ascensão, e é por isso que essa aliança representa uma esperança real.
Acreditamos que esse é um movimento histórico e inevitável, porque os africanos não estão mais dispostos a servir de carne de canhão para seus antigos mestres.
Nos países da África francófona, a principal preocupação agora é libertar-se da tutela do imperialismo francês. É por isso que lutamos. É por isso que estamos aliados à AES. E por isso os povos africanos apoiam concretamente esses três países do Sahel.
Vemos isso nas manifestações recentes em várias partes do continente. Por exemplo, quando circularam mensagens sobre um suposto plano de assassinato do presidente burquinabê Ibrahim Traoré, a reação popular não se limitou a Burkina Faso. Toda a África se levantou como um só homem: a África francófona, anglófona, lusófona, hispânica e até germanófona, sem esquecer a diáspora africana na Europa, na América e na Ásia. Todos se ergueram para dizer: “Desta vez, é a África que vence”.
O Sahel tornou-se uma luz para toda a África, e todo o continente está solidário com os três países da AES. Dizer que hoje estamos vivendo a verdadeira independência da África seria talvez um exagero, porque a independência é um processo. O que está acontecendo agora é a guerra de independência. A independência plena ainda não foi conquistada. Só poderemos falar de verdadeira independência quando vencermos essa guerra, uma guerra travada também por meio do terrorismo manipulado.
Mas essa verdadeira independência é inevitável, porque não se repetirá o engano das falsas independências de 1958-1960, quando os colonizadores de pele branca foram substituídos por “colonos” de pele negra.
Hoje, o paradigma mudou. Não há mais espaço para traidores nem para “colonos” de pele negra. Este é um movimento irreversível. Pode durar o tempo que for, mas acabará triunfando, porque o mundo está mudando. E essa transformação traz novos valores, baseados no humanismo.
Esse humanismo, afirmamos, é antes de tudo africano, é antes de tudo negro. Não há razão para que ele não triunfe aqui.
O novo mundo que está emergindo coloca o ser humano no centro das políticas e das preocupações, ao contrário do velho sistema comandado pelo imperialismo americano e armado pela Otan, que transformava o homem em simples mercadoria. Esse mundo antigo está desmoronando, e um novo está surgindo. Por isso, a libertação da África é inevitável.
Com ou sem o consentimento das antigas potências, a África vai se libertar. Ao contrário do que aconteceu nas duas guerras mundiais, quando a África lutava subordinada às potências estrangeiras, hoje o africano existe, reivindica sua identidade, a expressa e a assume.
A África não servirá mais de carne de canhão para ninguém. E aproveitará o vento da mudança mundial para conquistar, de uma vez por todas, sua independência verdadeira.