“SAÍDA DO MAPA DA FOME É IMPORTANTE, MAS INSUFICIENTE SEM REFORMA AGRÁRIA”, AFIRMOU DIRIGENTE DO MST, GILMAR MAURO
Para Gilmar Mauro, concentração de renda e domínio das agroindústrias impedem segurança e soberania alimentar no país
Dirigente do MST lamenta ausência de menção à reforma agrária em discurso de Lula em Fórum da FAO – Foto: Lyon Santos/ MDS
“É importante ter tirado o país do mapa da fome, embora ainda seja insuficiente, porque nós ainda temos quase 100 milhões de pessoas com algum grau de insegurança alimentar”, afirmou, em entrevista ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato. Na avaliação de Mauro, o combate à fome no Brasil exige políticas estruturantes que ainda não aparecem nas falas do presidente. “Lula não falou de reforma agrária [no evento da FAO], é um tema fora da agenda do governo”, lamentou.
O dirigente criticou a concentração da produção nas mãos de grandes conglomerados agroindustriais e alertou que quatro commodities — soja, milho, trigo e arroz — correspondem a 60% do consumo mundial. “Esse tipo de alimentação, que eu chamo de comida capitalista, além de não nutrir as pessoas, cria uma série de problemas à saúde pública”, disse.
Mauro destacou que o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e a agricultura familiar poderiam garantir uma alimentação segura e diversa à população brasileira. “Pequenos agricultores, assentados, quilombolas e indígenas entregam 400 tipos de alimentos diferentes. Nós poderíamos alimentar toda a humanidade de forma agroecológica”, declarou.
Durante a entrevista, ele também lembrou a solidariedade praticada pelo MST na pandemia de coronavírus, quando o movimento promoveu 474 ações e doou quase duas mil toneladas de alimentos. “Sabíamos que não iríamos resolver o problema da fome, mas queríamos plantar em nós a solidariedade”, pontuou.
Plebiscito popular e esquerda nas ruas
O dirigente ainda comentou o plebiscito popular que defende o fim da escala de trabalho 6×1 e a taxação dos super-ricos, encerrado no domingo (12). Segundo Mauro, o processo “mobilizou as forças populares” e deverá continuar em 2026 como pauta política. “Esses parlamentares que votaram contra a taxação dos super-ricos precisam ser identificados. O debate precisa ir para as ruas e para as eleições”, afirmou.
Por fim, ele defendeu novas mobilizações da esquerda e disse que o governo precisa retomar um projeto popular. “Não basta só ficar pedindo ‘faz Lula’. É preciso mobilização popular. As ruas têm que ser retomadas. Na dúvida, vire à esquerda”, concluiu.