LUIS NASSIF: UM BRASIL QUE NÃO CONHECE O BRASIL, O PROJETO MOVER
Laboratório em Minas Gerais atinge 70% do ciclo industrial de terras-raras, materiais cruciais para carros elétricos e defesa.
Os dados abaixo saíram de uma reportagem da Revista Fapesp, de outubro de 2025. por indicação do leitor Alexandre Grimmer Davis
Um dos grandes desafios brasileiro é dominar o ciclo completo de produção de ímãs permanentes de terras-raras, passo essencial para defesa, energia limpa e mobilidade elétrica.
Os superímãs de neodímio-ferro-boro são usados em:
- Motores de carros elétricos e turbinas eólicas
- Equipamentos de defesa, como jatos e mísseis
- Dispositivos eletrônicos, como celulares, discos rígidos e robôs
- Fibras ópticas, catalisadores e marcadores biomédicos
Esses ímãs são três vezes mais potentes que os convencionais e essenciais para tecnologias limpas e estratégicas.
Com esse objetivo, foi criado no ano passado o projeto CIT Senai ITR, sigla de Centro de Inovação e Tecnologia do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial – Instituto de Ímãs de Terras-raras. Ele está instalado em um prédio de três andares em Lagoa Santa, município a 35 quilômetros de Belo Horizonte.
O laboratório foi criado há 8 anos pela Companhia de Desenvolvimento de Minas Gerais (Codemge), no governo Fernando Pimentel. Em 2023 o governo Zema, com sua extraordinária visão de passado, abriu mão do projeto, que foi adquirido pela Federação das Indústrias de Minas Gerais (FIEMG), passando a gestão para o CIT Senai. Ele passou a operar em 2024.
Segundo André Pimenta de Farias, coordenador do projeto, já se domina, em escala-piloto, o ciclo tecnológico de produção do neodímio, ferro e boro, a liga metálica mais comum para a fabricação desses materiais. E já domina de 60% a 70% do processo industrial.
O CIT Senai ITR é um dos chamados projetos estruturantes que integram o programa Mover (Mobilidade Verde e Inovação).
Vamos a alguns dados do Programa Mover, levantados por IA.
O que é o Programa MOVER?
O Programa Mobilidade Verde e Inovação (MOVER) foi instituído em 2024 para impulsionar a indústria automotiva nacional com foco em sustentabilidade, inovação e eficiência energética. Ele envolve:
- Incentivos fiscais como IPI zerado para veículos sustentáveis
- Metas obrigatórias de eficiência energética e redução de emissões para veículos leves e pesados
- Rotulagem veicular obrigatória com dados sobre reciclabilidade e origem dos componentes
- Investimentos públicos e privados que já ultrapassam R$ 190 bilhões, segundo a Anatel
O MagBras, que integra o MOVER, busca consolidar a cadeia produtiva de ímãs permanentes — da mineração ao produto final — com apoio de 38 instituições e orçamento de R$ 73 milhões
Geopolítica das terras-raras: Brasil entre China e EUA
- A China domina 90% do refino mundial de terras-raras e 70% da produção
- Os Estados Unidos criaram a Critical Minerals Alliance para reduzir a dependência chinesa, buscando acordos com países como Brasil, Ucrânia e Congo.
- A guerra comercial entre China e EUA escalou em 2025, com sobretaxas e restrições à exportação de terras-raras
- O Brasil detém a segunda maior reserva mundial, com cerca de 21 milhões de toneladas
Essa posição coloca o Brasil como um potencial fornecedor estratégico — mas também como alvo de disputas comerciais e diplomáticas.
Caminhos para o Brasil avançar
Para transformar reservas em soberania tecnológica, o Brasil precisa:
- Dominar o refino e separação química, hoje dependente da China
- Criar um Fundo Nacional de Terras-Raras e Materiais Estratégicos
- Estabelecer um arcabouço fiscal que incentive a importação de máquinas e equipamentos
- Investir em transferência tecnológica e capacitação industrial
Modelos de exploração de terras raras
| Cenário | Características | Risco / Oportunidade |
| 1. Nacionalização plena | Criação do Fundo Nacional de Terras-Raras, cluster MG–GO–SP consolidado, PMEs integradas à cadeia. | 🚀 Independência parcial da China, atração de capital europeu. |
| 2. Parceria controlada (modelo australiano) | Investimento estrangeiro majoritário com controle local sobre refino e P&D. | ⚖️ Equilíbrio entre soberania e viabilidade econômica. |
| 3. Subordinação comercial | O Brasil exporta concentrado e importa ímãs prontos. | ⚠️ Perda estratégica e dependência estrutural. |
| 4. Dualidade setorial | Núcleo estratégico militar e científico autônomo, e mercado civil dependente. | ⚙️ Risco de concentração tecnológica e baixo spillover produtivo. |
