PERÍCIA CONTRADIZ, DERRITE, SECRETÁRIO DE SEGURANÇA DE TARCÍSIO E REFORÇA SUSPEITA DE CRIME NA CRISE DO METANOL EM SÃO PAULO

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Perícia da Polícia Científica de São Paulo revela adição deliberada da substância em bebidas apreendidas

 

Guilherme Derrite (PL-SP). | Foto: Câmara dos Deputados

A mais recente perícia do Instituto de Criminalística (IC) da Polícia Científica de São Paulo muda o rumo das investigações sobre os casos de intoxicação por metanol no estado. Ao constatar que, em dois grupos de garrafas apreendidas, “o metanol foi adicionado”, o laudo desmonta a tese oficial sustentada pelo secretário de Segurança Pública, Guilherme Derrite, que falava em “contaminação fortuita” ou uso de “etanol de baixa qualidade”, e reforça a hipótese de crime intencional.

A perícia, que ainda não divulgou o número de amostras examinadas nem os tipos de bebidas analisadas, segue protocolos rigorosos. Cada garrafa apreendida passa por uma sequência de verificações que inclui rótulos, selos e lacres, antes dos exames químicos que identificam e quantificam os níveis de metanol.

Em nota, o Instituto de Criminalística foi categórico: “Pode-se afirmar, até o momento, e de acordo com as concentrações encontradas, que o metanol foi adicionado, não sendo, portanto, produto de destilação natural.”

O parecer elimina, assim, a possibilidade de contaminação involuntária no processo de produção e aponta para a inserção deliberada da substância, um indício claro de ação criminosa.

A queda de narrativa

Até então, o secretário de Segurança Pública do estado, Guilherme Derrite, sustentava que a principal hipótese da Polícia Civil era de que o etanol usado nas fábricas clandestinas estaria “contaminado por metanol”, caracterizando erro técnico, não dolo.

“A principal suspeita da Polícia Civil é que, durante o processo de adulteração, o etanol que está sendo utilizado para fazer a adulteração em produções clandestinas seja um etanol de baixa qualidade, que já vem contaminado com metanol”, afirmou Derrite durante entrevista coletiva no Palácio dos Bandeirantes, na segunda-feira (6), ao lado do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos).

Com o resultado do IC, essa versão perde sustentação. O laudo técnico mostra que o metanol não surgiu como resíduo de destilação ou impureza industrial, ele foi adicionado.

Casos em alta e pressão por respostas

O novo boletim da Secretaria de Estado da Saúde, divulgado nesta terça-feira (7), registra três mortes confirmadas por intoxicação por metanol — uma a mais que no levantamento anterior — e 18 casos confirmados de contaminação em São Paulo. No país, ao todo, são 217 casos notificados, dos quais 200 ainda estão em investigação.

Os casos começaram na capital, após o consumo de bebidas destiladas. O metanol, usado como combustível e impróprio para consumo humano. A força-tarefa estadual interditou 11 estabelecimentos: sete na capital, dois em Osasco, um em São Bernardo do Campo e um em Barueri. Além disso, cerca de 20 mil garrafas foram apreendidas para análise.

Ações federais

A Polícia Federal (PF) também abriu inquérito para apurar o caso. O ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, afirmou que uma das linhas investigativas considera que o metanol nas bebidas pode ter vindo de tanques e caminhões abandonados pelo crime organizado após megaoperação, em agosto.

O Ministério da Saúde criou uma sala de situação para coordenar ações nacionais e iniciou a distribuição de etanol farmacêutico, antídoto utilizado no tratamento de intoxicações, aos estados que solicitaram reforço de estoque.

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