“ATENTADO A BOMBA É RESULTADO DE ATAQUES DE JAIR BOLSONARO CONTRA MORAES”, AFIRMA PESQUISADOR

Em entrevista à TV GGN, o professor e pesquisador João Cezar de Castro Rocha analisa o atentado de Francisco Wanderley Luiz, de 59 anos, mais conhecido como “Tiü França”, na Praça dos Três Poderes, nesta quarta-feira, 13. Segundo Castro Rocha, o ódio construído contra o Ministro do STF, Alexandre de Moraes, promovido pelo “gabinete do ódio” do bolsonarismo, foi responsável pelo surto que levou ao ato radical.

Pesquisador do CNPq, cientista do Nosso Estado na FAPERJ e autor de 14 livros, entre eles “Bolsonarismo: da guerra cultural ao terrorismo doméstico”, Cezar destaca um evento marcante da dissonância cognitiva incutida na população pelo bolsonarismo: o 7 de setembro de 2021. Na ocasião, o então presidente Jair Bolsonaro fez um discurso na Avenida Paulista, que marcou o início da criação do bode expiatório da extrema-direita brasileira: o Ministro do STF, Alexandre de Moraes.

Durante a manifestação lotada na Paulista, Bolsonaro disparou: “Acabou o tempo dele. Sai Alexandre de Moraes, deixa de ser canalha!”

Após esse discurso, o Congresso Nacional amanheceu com caminhoneiros e seus 25 caminhões, com manifestantes pedindo a destituição de todos os ministros do STF. O líder desta manifestação era “Zé Trovão”, atualmente deputado federal pelo PL, partido de Jair Bolsonaro. Para Castro Rocha, esses manifestantes só aguardavam a ordem do presidente, já que ele havia proclamado que não mais aceitaria as ordens de Moraes.

Ao ser perguntado se o caso de Francisco Wanderley Luiz é de um “lobo solitário”, Castro Rocha explica que o termo “lobo solitário” é um mito inventado nos Estados Unidos para terceirizar a responsabilidade por atos como esse.

Ele ainda cita o caso famoso de um verdadeiro lobo solitário, o Unabomber, Theodore Kaczynski. Kaczynski, um homem com alto QI, que vivia isolado da sociedade e criou uma visão radical de mundo contra a sociedade tecnológica, enviava correspondências a engenheiros e pessoas ligadas à tecnologia contendo bombas caseiras. O Unabomber foi a mais longa caçada do FBI, que durou 15 anos.

Para Castro Rocha, Francisco Wanderley não é um “lobo solitário”. A transformação de uma pessoa comum em um potencial assassino, segundo ele, é produto da dissonância cognitiva criada pelas palavras de ordem de Jair Bolsonaro, ecoadas por seus filhos e outros políticos da extrema-direita, contra Alexandre de Moraes.

“É um caso de alguém que foi enredado no ecossistema tóxico de desinformação que no Brasil é levado adiante de maneira sistemática com intenção política pela extrema-direita bolsonarista, o gabinete do ódio do bolsonarismo.”

Responsabilidade e Anistia

A combinação da rede de desinformação do bolsonarismo e as palavras de ordem de Bolsonaro criou a realidade imposta atualmente, de ataques constantes ao STF, mas especialmente ao Ministro Alexandre de Moraes. Esse é o “caldo de cultura” no qual Francisco Wanderley Luiz foi mergulhado.

“É espantoso o processo crescente de dissonância cognitiva coletiva, mas mesmo em meio ao delírio das mensagens que ele enviava no WhatsApp e nas redes sociais, há um eco das palavras de ordem do gabinete do ódio. Este senhor entrou em surto, viveu em dissonância cognitiva, em uma realidade paralela, mas havia um elo com a nossa realidade. O elo é composto pelas palavras de ordem de Jair Messias Bolsonaro. Não há lobo solitário.”

Enquanto isso, tramita no Congresso Nacional um PL que visa anistiar os golpistas do 8 de janeiro. Para o professor, a anistia, assim como foi na transição da ditadura militar, não terá papel efetivo de pacificação.

“Não podemos sequer retornar a esse modelo. Se não forem punidos todos, jamais haverá pacificação.”

E conforme o próprio Ministro Alexandre de Moraes declarou após o ato na Praça dos Três Poderes: “Impunidade gera mais agressividade, como vimos ontem.”