O BUMBA MEU BOI, ‘PAVULAGEM’ DE BRAGANÇA, NO PARÁ, MANDA LEMBRANÇA PARA OS BOIS-QUIMÉRICOS GARANTIDO E CAPRICHOSO
PRODUÇÃO AFINSOPHIA.ORG
Não há como examinar as propriedades atuais dos bois Garantido e Caprichoso do município de Parintins, sem observar suas condições quiméricas: o que não tem existência e nem essência. Mas, para conhecer o que é quimera é imprescindível uma análise antropológica dos conceitos de Cultura e Folclore.
O conceito Cultura vem do latim Colere que significa cultivar, criar, produzir, plantar, fazer passar a Vida. É um conceito eminentemente agrícola, visto que o ato de cultivar o solo em composição com sementes é fazer germinar a Vida. Todavia, Cultura como sendo tudo que o homem cria, além da Natureza, até a tortura, proporciona a existência de vários modus de Cultura em que alguns não fazem passar a Vida. Mas, como práxis e poieses, é Vital, pois trata-se de singularidade e originalidade. Assim, há uma Cultura-Vida e uma Cultura-Niilista, Cultura da Morte compulsão dos fascistas.
Já Folclore, é um conceito inglês formado por dois termos: Folk-Povo e Lore-Conhecimento, ensinamento, criação, tradição, costumes e saberes do Devir-Povo.
Como se observa, tanto Cultura como Folclore são conceitos-vitais criados pelo Devir-Povo que é o Movimento da Vida. Pois foi exatamente o Devir-Povo, pela Potência de sua Singularidade e Originalidade que criou os Bois Caprichos e Garantido, em Parintins. Uma criação que contou com a realidade política, antropológica, sociológica, psicológica, religiosas, estética e ética do Devir-Povo-Parintins como modus de ser autêntico e que se manifestou como Festa-Coletiva-Tradicional durante décadas que era apresentada na Praça da Igreja, nas ruas, nos bairros. E que algumas vezes fomos espectadores.
Assim, os dois bois Caprichoso e Garantido eram puras manifestações Culturais de Parintins sem qualquer signo quimérico, pois era real com sua estética e ética Devir-Povo. Mas, como diz o poeta, Belchior, “mas veio o tempo negro, e a força, fez comigo o mal que a força sempre faz”. Surgiram três corpos que iniciaram o processual de ocultação dos singulares e originais bois Caprichoso e Garantido, aprisionando-os na força a-histórica da negação do Ser, como afirma o filósofo alemão do Ser e o Tempo, Heidegger, para fazerem predominar os bois-quiméricos se apossando dos nomes dos dois bois singulares e originais criados como Cultura-Folclore Devir-Povo-Parintins na Comunidade de São José.
Os três corpos, governador Amazonino Mendes, refrigerante Coca-Cola e as Mídias comandadas pela TV Globo, e mais o carnavalesco Joãozinho Trinta, recorrendo a magia-virtual-quimérica, se apossaram dos sentimentos de parte da população de Parintins e fantasiaram um espetáculo simulante-artificial com objetivo de excitar o orgulho-tolo dessa parte da população como se, os agora, dois bois eram verdadeiros e necessários.
E essa parte da população acreditou, aplaudiu e passou a defender a imposição alienígena comandada pelos três corpos alienados-dissipadores das percepções e concepções do Princípio de Realidade, mas sem qualquer signo Cultural-Singular-Original, já que não representava – e não representa – a criação do Devir-Povo. O Garantido e Capricho impostos por esses três corpos não pode ser chamado de Cultura-Necessária, pois nenhum deles carrega o Devir-Povo. É cultura, mas cultura-capitalística de massa como forma de entretenimento-mercadoria-alienante cujo único objetivo é o lucro. É acultura do entretenimento cristalizador dos Sentidos e da Razão, como a Disney.
Amazonino ao criar uma arquitetura faraônica, que foi estimulada por sua exacerbação-narcísica, acreditava que seria tido como um homem seguro e determinado, além de se garantir como candidato, mas a psicanálise afirma exatamente o contrário como forma de impotência-existencial. A Coca-Cola e as mídias comandadas pela TV Globo já sabiam o que iriam auferir de lucro com o novo mercado que para os incautos era (e ainda é) um esplendoroso orgulho telúrico.
João Trinta, embora maranhense e conhecedor do Bumba Meu Boi do Maranhão, preferiu recorrer ao modelo que ele era ligado como sua verdade: as Escolas de Samba do Rio de Janeiro que eram ambição do estado e, para os sambistas, contra os originais estilos do samba como afirmava o compositor e cantor, Candeia, e eram territórios para bicheiros explorarem até como presidentes de algumas escolas, como Castor de Andrade. Joãozinho Trinta forçou para que predominasse a estética glamourosa desta escolas nos dois bois dissipados-quimericamente. Razão das alegorias monumentais com animais gigantescos para dominar melhor o imaginário-fantasioso e mágico do público em estado de fusão/confusão/telúrica.
Mas em Parintins havia pessoas que antropologicamente sabiam que era preciso ser contrária à violência-cultural. Tinha um rapaz, que depois teve grande participação no mundo quimérico, que, na década de 80, havia estudado filosofia no Centro de Comportamento Humano (CENESC) e tinha sido aluno do mais conhecido e respeitado antropólogo de Manaus, o padre da Lituânia, Casimiro Beksta que escreveu uma Cartilha Tukana, mas esse rapaz não tomou qualquer posição contrária. Levando a se acreditar que ele não aprendeu nada de antropologia com o padre Casimiro. Muito pelo contrário, foi um grande defensor da violência-cultura promovida pelos três corpos.
Hoje, muitos defendem o que chamam de festival, como sendo importantíssimo, porque contribui com forte lucro-econômico para o município, principalmente o turismo. Um festival que exacerba a enunciação nominalizada de cultura-indígena sem ter entendido que o termo indígena só fortalece a violência-predadora dos povos colonizadores, já que os povos que aqui encontraram não eram e não são índios. Trata-se de uma sobrecodificação-semiótica de um grave erro geográfico-histórico como ambição econômica do capitalismo-mercantil. E a base das alegorias dos dois bois é toda sobre o erro-europeu-colonizador chamado de índio. Na verdade, em psiquiatria, alucinação e delírio propagados pelos europeus e muito bem aceitos pelos desavisados-antropológicos. Como índio não existe, todas as alegorias e enunciações referentes a ele não passam de ficção-antropológica.
Dizem, também, que o festival impulsiona a economia do município. Sim, mas se a economia do município é dependente do festival, é porque nunca teve um prefeito que concretizasse uma política econômica materializada em atividade-econômica da pesca, pecuária, agricultura, industrial, comercial, e, até, artística, para que a população não ficasse na dependência-monetária de um evento anual. É um caso muito parecido com Manaus, nenhum prefeito criou uma concreta política econômica, daí a triste dependência ao Distrito Industrial que quando acabar vai provocar angustiante depressão social. Um Projeto da década de 50 do deputado federal Pereira da Silva que, na ditadura, foi estimulado pelos militares.
A Liberdade de uma cidade só é produzida com a maturidade de sua população e sua força de produção concretizada como bens materiais e imateriais: suas riquezas singulares e originais.
O Bumba Meu Boi ‘Pavulagem’ acredita que os bois singulares e originais, de São José, Caprichos e Garantido vão conseguir suas Desvelações e se libertarem como enunciou o filósofo, Heidegger! Caprichoso e Garantido vão Urrar em Contagiante Liberdade!
EIS QUE O BUMBA MEU BOI ‘PAVULAGEM’ SE MOSTRA COMPANHEIRO DE CAPRICHOSO E GARANTIDO
Os agenciamentos de enunciações coletivas das singularidades do Bumba Meu Boi ‘Pavulagem’, foram movimentados pela Antropóloga e Professora da Universidade Federal do Estado do Pará, Kathyane Silva(na foto de óculos escuro) que também é Psicóloga com formação pela Universidade Federal do Amazonas e uma das fundadoras da Associação Filosofia Itinerante (AFIN) que este site Afinsophia.org é um dos seus vetores-criativos, além de ser mãe de Aruã (na foto de chapéu com estrela azul), conhecido nas rodas do Carimbó como Café da Manhã.
O Bumba Meu Bois ‘Pavulagem’ faz parte do Grupo Arraial da Pavulagem que teve origem em Bragança, na região do Salgado Paraense. Durante o mês de junho ele organiza o arrastão do Pavulagem que acontece nos quatro domingos do mês. O evento é uma produção do Instituto Pavulagem.
É uma verdadeira festa popular, onde a participação do Povo-Devir se mostra em franca criação. Onde todos os brincantes tocam os instrumentos, cantam e dançam as toadas com rica influência do Bumba Meu do Maranhão. Uma festa verdadeiramente nas ruas. Onde é o território do Bumba Meu Boi singular e original.