LUIS NASSIF: OS RECEIOS INFUNDADOS DE UMA POSSÍVEL GESTÃO HADDAD

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Argumentos racionais serão considerados; esperneios, não. E o foco principal será o país real, não as fantasias da fonte da Malu Gaspar.

Ricardo Stuckert

Em sua coluna em O Globo, Malu Gaspar expõe preconceitos contra Fernando Haddad, que ela diz ter recolhido no tal de mercado.

“No mercado, ele é tido como alguém dogmático, arrogante e avesso à disciplina fiscal – uma espécie de “professor de Deus”, imagem com a qual o potencial ministro da Fazenda sempre se incomodou”.

Efetivamente, os operadores ouvidos – e tratados genericamente como “mercado” – nunca trataram com Haddad. Os jornalistas que cobriram o Ministério da Educação ou a Prefeitura, no seu período, conseguiram identificar algumas características com as quais provavelmente o operador-mercado de Malu não esteja acostumado:

  1. Haddad é racional.

Em todas as entrevistas que ele deu, há uma obediência férrea à lógica e aos fatos.

  1. Seus projetos são montados ouvindo especialistas e partes envolvidas.

Tanto no MEC quanto na Prefeitura, montou projetos redondos ouvindo incessantemente especialistas e setores envolvidos. Seu projeto de educação inclusiva – para crianças com deficiência -, por exemplo, contemplava um engenhoso sistema de remuneração das escolas públicas que aceitassem as crianças, para as APAES (Associação de Pais e Amigos de Excepcionais) que fornecessem apoio pedagógico à criança, dentro da escola convencional. Além disso, estimulou a fabricação de uma série de equipamentos para salas especiais, desenhadas de acordo com orientação pedagógica.

  1. Haddad não deixa denúncias sem resposta.

Certa vez a revista Veja soltou uma insinuação contra ele em uma reportagem. Ele ligou para o herdeiro de Roberto Civita, Giancarlo e lhe disse que tinha uma boa relação com o pai e lhe dava até às 17 horas para retornar a ligação e informar se havia qualquer fato concreto servindo de base para a acusação.

Não era intimação, sequer pretendia saber detalhes da suposta prova. Queria apenas que Giancarlo respondesse sim ou não.

Às 17 horas, Giancarlo telefonou dizendo que, de fato, não havia nada. Perguntou o que poderia ser feito para reparar o dano. Haddad ponderou que nem adiantaria desmentido, porque serviria apenas para realimentar o boato. Pediu-lhe apenas que viesse almoçar na prefeitura com o diretor da Revista, Eurípedes Alcântara.

Os dois compareceram e Haddad foi à forra, dando um sabão inesquecível em Eurípides, na frente o seu patrão.

Teve o mesmo comportamento desabrido quando a Folha o denunciou por vazamentos de exames do Enem – que se deram na própria gráfica do jornal, como se soube posteriormente.

  1. É construtor de soluções criativas.

Aqui reside o maior receio do mercado. Desde a implantação do infausto sistema de metas inflacionárias, o país foi incapaz de modernizar e baratear o custo de administração do tal mercado. Operações compromissadas, metas inflacionárias, remuneração diária de recursos de curto prazo, tudo isso criou uma boca do inferno que suga todos os recursos orçamentários.

Há outros desafios, como a indução de recursos privados para infra-estrutura, fundos garantidores para financiamento às pequenas e micro empresas, o grande trabalho de renegociação das dívidas privadas.

Não sei se Haddad terá ousadia de investir sobre esses totens.  Tendo, haverá a garantia de soluções racionais, negociadas, discutidas e explicadas. Argumentos racionais serão considerados; esperneios, não. E o foco principal será o país real, não as fantasias da fonte da Malu Gaspar.

O que se sabe é que, ao contrário de outros tempos, a interlocução não será com ministros insossos, como Pedro Malan, Antonio Pallocci e Henrique Meirelles

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