FILÓSOFO JOSÉ ALCIMAR: SALVAR O RIO DA DEMOCRACIA

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    Por José Alcimar de Oliveira *
          01. Numa tipologia dos golpes, o golpe de 1964, de gênese empresarial-militar,
é apenas uma dentre as formas históricas e possíveis do golpismo. O capital dispõe de vasto arsenal golpista para mover e manter o Estado sob o controle da burguesia. O Centrão é o núcleo duro da dominação burguesa.
          02. A unidade da burguesia não se rompe por força dos conflitos secundários das frações da classe dominante. A forma visível de golpe contribui para impedir a objetivação do  golpe normalizado pela  democracia burguesa brasileira.
          03. Sob o dito normal da democracia burguesa opera a patologia cotidiana da desigualdade social naturalizada. Segundo o velho Heráclito, a natureza gosta de se esconder.  Ocorra ou não no Brasil de 2022 a forma convencional de golpe – e objetivamente o atual quadro político e social  não o favorece – não podemos  desconhecer que o Brasil  já vive em estado de golpe permanente desde a Repúlblica que nunca foi, ainda que formalmente proclamada em 1889.
          04. Já em 1848 Marx e Engels definiam o executivo do Estado moderno como um tipo de comitê guardião dos interesses de toda a burguesia. De 1889 a 2022 não há indício de que a burguesia que nos domina tenha perdido o controle sobre o Estado brasileiro. É longo o caminho do real Estado Oligárquico Burguês ao Estado Democrático de Direito. Sem o protagonismo da classe trabalhadora não haverá caminho possível.
          05. Numa democracia burguesa não cabe o conceito de democracia. Se o poder está nas mãos da burguesia o que sobra para o povo? Como conciliar Estado Democrático de Direito com o Povo submetido pelo poder da burguesia? Democracia como poder do povo jamais se define como poder de alguns.
          06. Para a burguesia basta defender a
natureza formal da democracia, fundada na retórica da universalidade e igualdade de direitos, para assim ocultar a exclusão real, materializada na expropriação da classe trabalhadora. É preciso conjugar a luta imediata da classe trabalhadora contra as ameaças golpistas à luta permanente contra o golpe cotidiano e secular da burguesia que vampiriza e submete o povo brasileiro à miséria da mais degradada desigualdade social.
          07. Neste 11 de agosto de 2022 a luta imediata é para salvar o rio, sem o qual não haverá vida para a diversidade ideológica dos peixes. Mas salvo o rio formal da democracia, a luta deve continuar, para que o povo como classe trabalhadora possa controlar o seu curso hídrico e, assim, impedir que os tubarões da burguesia devorem a diversidade dos jaraquis, pacus e carás que alimentam e alegram o povo.
* Professor do Departamento de Filosofia da Universidade Federal do Amazonas, teólogo sem cátedra, segundo vice-presidente da ADUA – Seção Sindical e filho do cruzamento dos rios Solimões e Jaguaribe. Em Manaus, AM, 11 de agosto do ano da virada de 2022.

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