FREDERICO FIRMO: CONVICÇÕES, DELÍRIOS, OUVIDOS MOUCOS E ÓDIO VISCERAL

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Sem indícios sem evidências, os objetivos da Ouvidos Moucos foram traçados a partir de delírios de uma delegada e de um procurador.

Montagem Rev Fórum

Convicções, delírios, ouvidos moucos e ódio visceral

por Frederico Firmo

Durante o período Lava-Jato, criou-se no país a “convicção” de que as operações deflagradas midiaticamente tinham objetivos bem definidos, baseadas em indícios de corrupção. Na sociedade, a presunção da inocência foi trocada pela máxima “onde há fumaça, há fogo”. Quando acusados se manifestavam  eram contestados   com  um dito prisional: “todos dizem que são inocentes”. De forma incomoda, e na ausência de argumentos e ainda acreditando nas instituições, imprensa e público questionaram as defesas. Com a crença de que  PF e MP não fariam tudo aquilo por nada surgia sempre a pergunta: “Se não há nada, porquê  a Polícia Federal e Ministério Público deflagrariam operações como a Ouvidos Moucos?”

 O Intercept, em mais uma série de mensagens da vaza-jato, dá  a resposta a esta pergunta. Sem indícios sem evidências, os objetivos da Ouvidos Moucos foram traçados a partir de delírios de uma delegada e de um procurador.

 Se alguém, numa mesa de botequim, falasse da existência de  um conluio, entre Petrobrás, Universidades e Fundações, para desviar verbas para ONGS do MST, causaria risos. Se isto fosse feito em tom de denúncia a uma autoridade judicial, esta pessoa seria taxada de irresponsável.  Uma autoridade que ouvisse esta denúncia deveria obviamente questioná-la e tentaria levar a conversa para um  campo mais racional. Se as palavras viessem de uma policial, um membro do Ministério Público Federal teria o dever de  exigir dela elementos  que corroborassem as acusações. Mas….

12 de Julho de 2017 – Chat pessoal

Érika Marena – 01:18:49 – Deltan, descobri um novo jeito que a Petrobras vinha mandando dinheiro para os partidos … através de dinheiro dado a projetos das universidades federais ! Eu estou aprofundando desvios da educação em casos aqui em SC e comecei a estudar essa questão, vai por mim, peçam a Petrobras a lista de todo o dinheiro que ela destinou para projetos com universidades federais/fundações de apoio nos últimos dez anos , ou o dinheiro chega para a universidade, que dá na mão da fundação para gerir (desviar), ou a Petrobras pula a universidade e faz o contrato (mutreta) direto com a fundação , e dali são os valores são enviados para onde se quiser, do jeito que quiser, sem qualquer prestação de contas a quem quer que seja ….

Dallagnol  se anima com a perspectiva.

 Deltan Dallagnol – 23:16:21 – Caramba, Erika! Vamos seguir essa linha sim

A  conversa entre Marena e Dallagnol não se deu num botequim e ganhou contornos oficiais quando a delegada Federal pede ao procurador do MPF, para desencadear uma busca por informações sobre todos os convênios da Petrobrás com a Universidade nos últimos dez anos.

 Isto é, o papo delirante num  chat  se transforma em  pedido institucional gerando a  instauração de uma investigação envolvendo   vários servidores, várias horas de trabalho  e muito  gasto de dinheiro  público.

 Na frase de Marena, está explícita a convicção de   que todos os projetos, geridos por professores, entre Petrobrás e Universidades Federais/fundações de apoio são fraudulentos e concebidos para desvios e mutretas. Dallagnol, como todos sabemos, sempre foi um homem de  convicções. Desejando ardentemente voltar para o seio da Força Tarefa,  Marena tenta  transformar Florianópolis num novo centro da Lava Jato. No raciocínio simplista,   a menção à  Petrobrás seria suficiente para definir   a  jurisdição em Curitiba. O desejo e os objetivos  e a loucura ficam mais explícitos na segunda mensagem.

 13 de Julho de 2017 – Chat pessoal

Érika Marena – 10:50:54 – Detalhe, vários ministérios e estatais estavam fazendo isso , só aqui tínhamos professores gerindo 250 milhões em “projetos”, o dinheiro cai em gastos fantasmas e as empresas “contratadas” mandavam em seguida para ONGs do MST, por exemplo

Marena – 10:51:16 – Tudo sem fiscalização de ninguém

Marena – 21:35:35 – Deltan, com esses milhões e milhões da Petrobras jogados nas universidades federais, podemos levar a LJ para a educação… se eu explicar pra vocês como os desvios estão ocorrendo, vão ver q está fácil de espalhar investigações dessa natureza

Erika expressa a convicção de que professores gerindo projetos tinham como objetivo desviar o dinheiro para o MST. Esta frase mostra quanto  a Força Tarefa da Lava Jato adota  a mesma ideologia do bolsonarismo.  Para ambos,  as Universidades são um antro de comunistas trabalhando para o PT. 

 Em 14/09/2017, apenas  dois meses após esta troca de mensagens,   Marena convoca 105 policiais federais de todo o país, pagos com dinheiro público, para promover a prisão de um reitor e mais seis professores. ONGS,  MST e Petrobrás simplesmente desapareceram do processo, mas não a convicção acusatória. A convicção é tanta que sequer acharam necessário fazer alguma investigação sobre as hipóteses.

 O ódio visceral de Marena contra a  Universidade e  professores  fica manifesto quando, com requintes de crueldade e  sem nenhuma argumentação plausível, envia os professores e Reitor para uma penitenciária de segurança máxima, onde sofreram revista íntima ficaram nus  expostos numa gaiola aos outros presos sem sequer saber do que estavam sendo acusados.

Sem nenhuma base anunciaram uma fraude de R$80 milhões. Antes da coletiva o montante foi contestado de forma categórica, quando se demostrou a impossibilidade de uma fraude tamanha. Marena  fez ouvidos moucos e na coletiva à imprensa manteve a acusação.  Ao estilo Lava Jato não apresentou provas  mas  manifestou suas convicções.

Enquanto Marena fazia a Coletiva à Imprensa, um policial subalterno interrogava o Reitor. A grande maioria dos acusados prestou depoimento apenas no dia da operação. Isto é, não foram inqueridos posteriormente e  tiveram acesso as acusações apenas pelo relatório final da PF. Sem nenhum  critério, nem método, coletaram uma quantidade imensa de documentos  que ficaram sem nenhuma análise. Porém os   tiraram  do alcance da Universidade, das fundações e das   defesas dos acusados.  

Na mídia, o banimento dos professores colocou sob suspeita toda a Universidade.  Alegaram  que   a presença dos professores  e reitor na Universidade levaria ao  acobertamento de  provas. Numa medida cautelar surpreendentemente longa  para a justiça, mas usual  na Lava Jato, os professores permaneceram banidos por 1105 dias, mesmo com  toda a documentação  sequestrada pela PF.  Esta  medida cautelar é a versão  Florianopolitana das intermináveis prisões preventivas de Curitiba.

 As mensagens da  vaza jato  mostram de forma clara que a “justificativa  para o Operação Ouvidos Moucos”   nasceu de  delírio e “convicção”  de  uma delegada da PF e de um procurador do MPF. Com  profundo ódio da Universidade e de seus professores. Este ódio visceral  causou a morte de Cancellier, prendeu professores e jogou tantos outros numa masmorra judicial.

Apenas agora, tantos anos depois, é possível começar a quebrar o feitiço maligno da Lava Jato, que levou o país a uma espécie de transe coletivo  onde a frase- “onde há fumaça, há fogo” –  dominou a imprensa e a opinião pública.

 As mensagens vazadas mostram que as digitais de Dallagnol estão nos fatos que levaram  à morte do reitor Cancellier.  Portanto   a solidariedade  à Marena é um também um  ato de auto justificação.  A desumanidade de Dallagnol e companhia não param por aí, pois além do reitor muitas outras vidas  inocentes foram destruídas.

Este texto não expressa necessariamente a opinião do Jornal GGN

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