WADIH DAMOUS: BOLSONARO QUER USAR NOVO COMANDANTE DO EXÉRCITO CONTRA LULA E EM AVENTURAS “DE UM INSANO”

Está chegando ou já chegou a hora de as Forças Armadas decidirem se embarcam na aventura golpista de um insano que inclusive desonrou a farda ou se ficam com a Constituição e a democracia. Wadih Damous, no twitter
Da Redação Viomundo.
Um dos mais argutos observadores da cena política brasileira, o ex-deputado federal Wadih Damous, ex-presidente da Ordem dos Advogados no Rio de Janeiro, está ao mesmo tempo preocupado e aliviado.
Aliviado porque o ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, não aceitou sugestão da decretação de estado de sítio feita pelo presidente Jair Bolsonaro e, ao deixar o cargo, demitido, disse que não queria repetir abril de 2020, quando o presidente da República sobrevoou manifestação contra o Congresso e o STF diante do Forte Apache, o quartel-general do Exército em Brasília.
Outro motivo de alívio é que o comandante do Exército, Edson Pujol, de acordo com a jornalista Thaís Oyama, negou-se a fazer manifestação pública contra as decisões do STF que permitiram ao ex-presidente Lula recuperar seus direitos políticos.
“Parece que Bolsonaro deu um ultimato”, às Forças Armadas, diz Wadih.
Por enquanto, aparentemente, “a cúpula militar não embarcou”, afirma o advogado.
Pujol será destituído do cargo e Bolsonaro cogita colocar no lugar dele o comandante militar do Nordeste, Marco Antonio Freire Gomes.
Só que, para Freire Gomes assumir, levaria à “aposentadoria” seis generais mais antigos, que estão na fila.
A preocupação de Wadih é com o fato de que Bolsonaro parece decidido a explorar o antipetismo das Forças Armadas contra a candidatura de Lula.
De Pujol, comandante do Exército, o ocupante do Planalto queria algum tipo de protesto, como fez o ex-comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, que tuitou mensagem contra a possibilidade de o Supremo Tribunal Federal conceder habeas corpus ao ex-presidente, em 2018.
“Nessa situação que vive o Brasil, resta perguntar às instituições e ao povo quem realmente está pensando no bem do País e das gerações futuras e quem está preocupado apenas com interesses pessoais?”, escreveu Villas Bôas no dia 3 de abril daquele ano.
Foi um pouco antes do fim do Jornal Nacional, o que permitiu ao telejornal da Globo, que sempre foi porta-voz dos militares, dar repercussão dramática às mensagens de Villas Bôas, como última notícia.
A pressão, que Villas Bôas disse posteriormente ter sido combinada com outros comandantes militares, funcionou: o STF negou o habeas corpus.
O ministro Edson Fachin só respondeu a Villas Bôas três anos depois:
A declaração de tal intuito [pressionar o STF], se confirmado, é gravíssima e atenta contra a ordem constitucional. E ao Supremo Tribunal Federal compete a guarda da Constituição.
Foi dias antes de o ministro extinguir quatro processos do ex-presidente Lula em Curitiba e de a Segunda Turma do STF declarar o juiz Sergio Moro parcial no julgamento do caso do triplex do Guarujá.
Com isso, Lula recuperou os direitos políticos.
Mais recentemente, o general Sérgio Westphalen Etchegoyen, que foi ministro de Segurança Institucional no governo Temer, manifestou sua insatisfação com a Suprema Corte.
“Mais uma vez o STF sacode o Brasil com decisões que aprofundam a insegurança jurídica”, disse o general, que tem grande influência na tropa.
O próprio Wadih respondeu a Etchegoyen, no twitter:
O general Etchegoyen, por não saber nada de guerra, acha que sabe alguma coisa de direito. Sabe nada. A falta do que fazer, resolveu hostilizar o Supremo Tribunal Federal. O motivo? O de sempre: Lula. Suas ameaças não amedrontam ninguém. General, vá se ocupar e pare de falar besteira.
Agora, no entanto, estamos falando da troca de um comandante do Exército da ativa que, em tese, teria de obedecer às pretensões da base de Bolsonaro, que defende estado de defesa ou de sítio para intervir em estados onde governadores tomam decisões para tentar conter a pandemia, além de intervenção no STF e, eventualmente, golpe militar com Bolsonaro no poder.
Também chamou atenção que, com as trocas no ministério, saiu fortalecido o deputado federal Eduardo Bolsonaro, que emplacou seu candidato no Itamaraty e ainda indicou um delegado da Polícia Federal para comandar o Ministério da Justiça — cargo normalmente ocupado por políticos ou juristas.
Para Wadih, chegou a hora: ou os militares deixam o governo Bolsonaro ou terão embarcado na aventura golpista “de um insano”.