FILÓSOFO JOSÉ ALCIMAR: NOTAS FILOSÓFICAS SOBRE A FELICIDADE DO CONSUMIDOR CONSUMIDO PELO CONSUMO.

0

Por José Alcimar de Oliveira *

Prefiro o conceito de alegria ao de felicidade, mais ainda quando o ideal de felicidade hoje tornou-se compulsório e refém do consumismo. A felicidade então torna-se repressiva e depressiva. Repressiva porque obriga a consumir. É uma forma de tirania. Depressiva porque é impossível satisfazer sonho de consumo. É uma forma de patologia. Quem é tragado por essa lógica se despersonaliza e perde a posse de si mesmo. Noutras palavras: o consumidor mais do que consumir é consumido pelo consumo.

O objeto do sonho de consumo nunca satisfeito é reiteradamente renovado em peças publicitárias. É a felicidade como vontade de posse. Italo Calvino, um dos meus santos de crítica e profana devoção, em sua bela parábola filosófica As cidades invisíveis apontava que a riqueza e a posse dos habitantes da cidade de Leônia eram medidas pela quantidade de coisas descartadas sob forma de lixo.

Felicidade saudável, penso, é a que poder-se-ia associar à alegria, e portanto refratária à falsidade de uma vida sem frustração; é a alegria de que nos dão testemunho – para citar apenas três grandes pensadores – Epicuro, Espinosa e Nietzsche. Pensadores incompreendidos, que permanecem sempre atuais, porque souberam fazer da vida a experiência dos afetos alegres e verdadeiros. Souberam romper a couraça de hipocrisia de quem vive contente no autoengano e abdica do desafio ontológico de tornar-se o que é.

* Professor do Departamento de Filosofia da Universidade Federal do Amazonas, franciscano ex-cordis e filho dos rios Solimões e Jaguaribe.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.