BOLSONARO NÃO É O BRASIL, MAS NA ONU, LEVOU O MUNDO A AFIRMAR: “TEMOS PENA DO BRASIL”. E DOS 57 MILHÕES QUE O ELEGERAM?

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A pena é a expressão da baixa potência de agir por ser um afeto triste, diz o filósofo holandês, Spinoza. A psicanálise diz que a pena é um sentimento materializado do deslocamento projetivo como forma de empatia-passiva. Ou seja, quem tem pena se mostra em sua piedade pessoal.
Mas, a pena é também uma forma perversa daquele que tem pena se mostrar superior ao sujeito julgado em condição de pena. Ter pena de alguém é se mostrar como alguém que viu o que o outro não viu. Ou, não pode ou não quer perceber. Porém, a questão maior da pena é que tanto o que tem pena como o que provoca a pena encontram-se na mesma posição-passiva-mistificada, porque nenhuma pena muda o estado de coisa penoso. O que muda é o aumento da potência de agir através de seu conatus, perseverar na vida. Produção de novas formas de existências. Em um sentido filosoficamente político, a ação da práxis e a criação da poiesis como afirmação da vida.
Há um grave erro quando se afirma ter pena do Brasil por causa dos comportamentos anti-racionais de Bolsonaro que o mostram como uma criatura com dificuldade de vivenciar o devir-civilizatório. Erro que nos leva à dois seguimentos-epistemológicos. Um, o Brasil não é Bolsonaro nem numericamente e muito menos sensível, intelectível e eticamente. No Corpus-Brasil não há qualquer noção comum com partículas sensitivas que possam compor com o corpus-Bolsonaro. O Corpus-Brasil é composto de partículas-devires, movimento-pausa, velocidade-lentidão, longitude-latitude, fluxos, hecceidade fruidores de suas produções e criações do novo, acompanhando os filósofos Deleuze e Guattari. O Princípio de Realidade que para Bolsonaro surge como ameaça terrível, porque são afetos e cognições que ele não pode vivenciar sensivelmente, entender intelectivamente e praticar eticamente. O que significa que o Brasil se movimenta fora. No fora onde a vida é a gay ciência, como afirma o filósofo da vida Nietzsche. A vida como vontade de saber alegre.
Dois, a afirmação “ter pena do Brasil’ não pode ter o seu elemento construtor semiótico-político, a observação do fator-Bolsonaro isoladamente. É preciso perceber e conceber clara e distintamente os seus criadores, porque a criatura não antecede seu criador. A criatura Bolsonaro é produto de mais de 57 milhões de eleitores que participaram sofregamente em sua criação. Ele jamais seria, hoje, o causador de pena se não tivesse servido de objeto de deslocamento-projetivo dos afetos tristes de seus eleitores em forma de inveja, ódio, rancor, frustração, recalque, trauma, ignorância, sentimento de culpa, mistificação traduzidos em sublimações de conflitos pessoas como mostra a psicanálise.
Portanto, se houvesse racionalidade no ato de ter pena de alguém, neste caso, ele deveria ser distribuído também com estes mais de 57 milhões de eleitores que votaram confusos em suas sensibilidades, inteligências e eticidades democráticas. Mesmo que alguns destes, hoje, afirmem que estão arrependidos, o arrependimentos não mudam o real-desnecessário. O quadro exacerbadamente apolítico, já que o que se percebe hoje no país, por parte do evento Bolsonaro, são atitudes claramente ditatoriais, antidemocráticas. E a democracia é confirmação política da racionalidade e sociabilidade das mulheres e dos homens, onde todos vivem com os outros, para os outros e pelos outros.
Na democracia não há lugar para a pena. Nem no caso do trecho da canção de Jorge Ben na voz de Gal Costa: “Ela já não gosta mais de mim. Mas, eu gosto dela mesmo assim. Que Pena”. Mas, no trecho da mesma canção: “Mas eu não vou chorar. Eu vou é cantar. Pois a vida continua. E eu não vou ficar sozinho no meio da rua”.