VEJA REVELA TESTEMUNHAS QUE MORO SUGERIU À FORÇA TAREFA DA LAVA JATO NO PROCESSO CONTRA LULA

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Reconhecimento de que a força-tarefa não apenas ouvia, mas seguia as orientações do então juiz pode levar à suspeição de Moro e, com isso, a anulação dos processos da Lava Jato

Ex-juiz Sérgio Moro e procurador que coordena Lava Jato, Deltan Dallagnol atuavam juntos, mostram mensagens reveladas pelo The Intercept Brasil. Foto: José Cruz/Agência Brasil

Jornal GGN – A revista Veja publicou nesta sexta-feira (28) uma matéria com o nome das duas “testemunhas” ocultas indicadas em um dos diálogos mais comprometedores trocados entre o então juiz Sergio Moro e o procurador Deltan Dallagnol, o chefe da força-tarefa da Lava-Jato.

Na conversa, que ocorreu no dia 7 de dezembro de 2015, Moro sugeriu uma testemunha para a força-tarefa interrogar e que poderia incriminar o ex-presidente Lula. O procurador Dallagnol respondeu, alguns minutos após a sugestão de Moro, que a testemunha “arriou”, não estaria interessada em falar, e propôs fazer uma intimação com base em notícia falsa. Moro concordou.

Confira abaixo a conversa:

Moro – 17:42:56 – Entao. Seguinte. Fonte me informou que a pessoa do contato estaria incomodado por ter sidoa ela solicitada a lavratura de minutas de escrituras para transferências de propriedade de um dos filhos do ex Presidente. Aparentemente a pessoa estaria disposta a prestar a informação. Estou entao repassando. A fonte é seria.
Deltan – 17:44:00 – Obrigado!! Faremos contato
Moro – 17:45:00 – E seriam dezenas de imóveis
Deltan – 18:08:08 – Liguei e ele arriou. Disse que não tem nada a falar etc… quando dei uma pressionada, desligou na minha cara… Estou pensando em fazer uma intimação oficial até, com base em notícia apócrifa
Moro – 18:09:38 – Estranho pois ele é quem teria alertado as pessoas que me comunicaram. Melhor formalizar entao.
Moro – 18:15:04 – Supostamente teria comentado com que por sua vez repassou a informação até chegar aqui.
Deltan – 18:16:29 – Posso indicar a fonte intermediária?
Moro – 18:59:39 – Agora ja estou na duvida.
Moro – 19:00:22 – Talvez seja melhor vcs falarem com este SUPRIMIDO primeiro
Deltan – 20:03:00 – Ok
Deltan – 20:03:32 – Ok, obrigado, vou ligar

A Veja afirma que localizou os dois personagens ocultos da história: o técnico em contabilidade Nilton Aparecido Alves, de 57 anos, e o empresário Mário César Neves, dono de um posto de gasolina. Os dois vivem em Campo Grande, capital do Mato Grosso do Sul.

O primeiro, é dono de um escritório onde é conhecido por trabalhar em negócios relacionados a terras, nem sempre lícitos. A revista conta que, em agosto do ano passado, agentes do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) em Mato Grosso do Sul fizeram uma operação de busca e apreensão na casa de Nilton e recolheram escrituras, agendas, extratos bancários e pen drives.

A ação não tinha relação com a força-tarefa da Lava Jato em Curitiba. O Gaeco cumpria mandado de uma ação onde Nilton é investigado por corrupção por negociar pagamento de propina com uma organização criminosa especializada em fraudar impostos que desfalcou o Estado em 44 milhões de reais entre 2015 e 2018.

A reportagem da Veja chegou a falar com Nilton, nesta quarta-feira (26), mas o técnico de contabilidade não quis conversar. “Não sei por que meu nome está nessa história. Alguém deve ter falado alguma coisa errada”.

A revista lembra que durante os governos de Lula, viralizaram na internet boatos sobre supostos negócios imobiliários envolvendo seus filhos.

O segundo personagem oculto envolvido no diálogo entre Moro e Dallagnol, o empresário Mário César Neves, diferente do primeiro, aceitou conversar com a reportagem da Veja na quarta. Ele confirmou que foi procurado, em dezembro de 2015, por um representante do Ministério Público Federal que lhe pediu informações sobre Nilton Aparecido.

“O pessoal do Ministério Público me ligou, não sei mais o nome da pessoa, mas ela queria saber quem era o Nilton, que serviços ele prestava e como poderia encontrá-lo”, contou o empresário.

Perguntando se ouviu também que o técnico de contabilidade teria feito algum negócio com um dos filhos do ex-presidente, Mário disse desconhecer o assunto. “Eu soube que o Nilton foi chamado para prestar depoimento logo depois dessa ligação para mim”, disse confirmando, porém, que repassou para os procuradores o endereço e telefone de Nilton.

Ainda segundo a Veja, o empresário acrescentou que soube do boato envolvendo a família Lula por meio de funcionários do escritório de Nilton.

A comprovação de que Moro instruiu diretamente um dos lados da ação – nesse caso o órgão acusador, Ministério Público Federal – confirma que o então juiz abandonou a posição de imparcialidade, agindo diretamente contra o Código de Processo Penal. O reconhecimento de que a força-tarefa da Lava Jato não apenas ouvia, mas seguia as orientações do juiz pode levar à suspeição de Moro e, com isso, a anulação dos processos.

O cenário, entretanto, depende do Supremo Tribunal Federal que deve retomar o julgamento dos recursos da defesa de Lula em agosto. Para ler a matéria da Veja na íntegra, clique aqui.

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