FILÓSOFO VICTOR LEANDRO: MEC SEM FILOSOFIA: A DESINTEGRAÇÃO DO SABER

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Conforme bem compreendem aqueles que enveredaram minimamente pelos percursos filosóficos, a filosofia não surgiu como uma prática burocrática ou acadêmica. Sua origem está intimamente ligada à experiência de homens e mulheres no mundo. Quando deixamos de aceitar a imediaticidade dos fatos e das coisas, ou saímos da comodidade néscia de nossas mistificações, é que nos veio a suspeita, e os filósofos encontraram seu lugar.

Como perguntadores, eles passaram a questionar-se sobre o que constituía fundamentalmente o todo a sua volta. Na procura por soluções a essas perguntas, elaboraram conceitos como Cosmos, Physis, Arqué,  Causalidade, Logos. Com eles, a humanidade pôde articular os diversos entendimentos que possuía a respeito de fenômenos que antes se afiguravam a ela dispersos e acidentais. Começou, aí, a grande jornada produtiva do conhecimento, a qual, mesmo após a divisão entre filosofia e ciências particulares, não prescindiu do pensar filosófico como forma integradora e formativa da totalidade das compreensões de mundo.

O Ministério da Educação ora em voga, no uso de sua ignorância propagada e legalizada, quer romper com os princípios básicos que organizam os saberes, retirando-lhes o esteio filosófico. Não se trata aqui somente de um prejuízo crítico, mas da perda completa de um encadeamento articulado que há mais de vinte séculos possibilita o avanço científico e de pensamento. Os cientistas, sem suas bases filosóficas, ficarão como cegos a comandar o leme de um navio. Não se sabe para que lugar irão, nem mesmo se irão a algum lugar. É o prenúncio de um naufrágio.

Se a filosofia for apagada da educação brasileira, de pouco servirá investir em medicina e veterinária, atividades consideradas mais úteis pela gestão presente. Na verdade, estas sequer terão existência, tamanho o cenário de desintegração epistemológica a ser vivido. Mas quem sabe não seja este o real objetivo dos que aí estão, impulsionados por seus instintos nadificantes? De todo modo, essas mudanças não podem ser atravessadas por nosso silêncio. Como indivíduos da práxis e da poiesis, os filósofos farão sua luta.

Victor Leandro da Silva
Prof. Adjunto da Universidade do Estado do Amazonas
Coordenador do Curso de Licenciatura em Ciencias da Religiao – PARFOR/UEA

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