OS CONCEITOS “RECONSTRUINDO” E “FORMA LEGAL” NA GESTÃO CASSADA

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O sistema capitalista é o produto da transformação da experiência objetiva do capitalista em fetiche. Em outras — ou nas mesmas — palavras, a abstração da mercadoria, extraída da força de produção do trabalhador como alienação transfigurada em lucro. Um “absurdo”, como sentenciou Marx.

Isto faz com que o capitalismo, como sistema, tenha como seu organismo de sustentação um princípio de valores sem suporte real. Uma inconsequente abstração sem relação sujeito e objeto produtivo. Mas tão somente fetichismo: o objeto reificado em uma idéia que o oculta e é tomada como construção social. Daí que, como fetichismo, os problemas que a sociedade capitalista põe ao homem são falsos problemas. O que torna este homem, na busca das soluções, uma simulador. Como os problemas e as soluções são falsas, a sociedade capitalista é doente: o homem é uma abstração.

Então cabe à dialética social “apropriar-se da matéria em pormenor, analisar todas suas formar de desenvolvimento, e encontrar os seu elos internos” (Marx), para, assim, realizar a desconstrução fetichista em que está envolvida a matéria. E então construir o mundo objetivo real à experiência e ao conhecimento. O fim da abstração.

Desconstruir é apanhar as falsas proposições do capitalismo em todos seus encadeamentos, que em seu conjunto se apresenta como construção representativa, e tentar, “pacientemente”, com novos signos-disjuntivos, liberar as forças aprisionadas que no exterior são travestidas de necessidades pelo capitalismo, para torná-las forças produtivas. Pois, fora do método social da dialética, o mundo permanece abstração.

A ABSTRAÇÃO DA GESTÃO CASSADA

Observando em geral as manifestações das enunciações políticas e publicitárias, a maior parte da população entende que é muito difícil encontrar aí vida inteligente. Se o Brasil dependesse dos arroubos intelectuais/criativos destes profissionais, sua história seria muito prior. Peguemos o que nos mostra a gestão, em Manaus, da “nova prefeitura”.

Com quase três meses de empossado, em função de uma medida cautelar, pois fora cassado em Primeira Instância pela ilustríssima juíza Maria Eunice Torres do Nascimento, a gestão auto-denominada de “nova prefeitura” de Amazonino, convivendo com a angústia de a qualquer momento ser afastada definitivamente do cargo municipal, e, ao mesmo tempo, tendo que apresentar respostas ás indagações administrativas da população, usa como recurso, a mais escabrosa técnica de persuasão coletiva: o marketing. Para isto, usa os chavões “reconstruindo” e “forma legal”. O fracassado método de denegrir o outro para tentar ser tido como importante. É aí que a “nova prefeitura” mostra suas veias em estases: paralisia do sangue administrativo.

SOBRE O “RECONSTRUINDO”

Dois entendimentos — Um entendimento. No entendimento senso comuníssimo, que é da ordem demagógica, reconstruir é sempre sobre o que foi desconstruído. Logo, reconstruir com o mesmo modelo. Dar continuidade. Ou seja: nada de novo. Aqui, a “nova prefeitura” está somente simulando o novo com seu marketing. Outro entendimento. Este é da ordem do novo. Para reconstruir é preciso desconstruir a estrutura antiga para fazer emergir uma nova, como dizem os filósofos marxistas da Escola de Frankfurt. Aqui, a gestão Serafim revela o engodo da “nova prefeitura”. Como Manaus foi tomada durante décadas pelas gestões da direita, e sendo Serafim, prefeito da gestão passada, do PSB, ele teve que desconstruir as estruturas fetichistas que predominavam na administração pública de Manaus para revelar, pelo menos em partes, o novo. Síntese da obra ficcional: A “nova prefeitura” está realmente “reconstruindo” Manaus: está recorrendo ao velho modelo que Serafim desconstruiu.

SOBRE A “FORMA LEGAL”

Dizem os psicólogos da Gestalt que a forma é o que salta do fundo como conhecimento. A lógica da figura/fundo para o homem conhecer e criar o seu habitat natural e social. A forma como potência poiética. Nada que exista em marketing. Portanto, a forma do marketing da “nova prefeitura” é um espectro.

Quanto ao legal, dizem o juristas que são as normas que direcionam os homens em sociedade para suas atitudes de direito. Como diria o filósofo Platão: a justiça como justo. A “nova prefeitura” sentencia “forma legal” como uma claríssima alusão que a administração Serafim não foi legal. Digamos que não seja isto. Então saltam duas morais: a que servia a Serafim, e a que, agora, serve à “nova prefeitura”. Como no Estado não existem duas justiças sociais, uma das duas não é justa. Ou então confirma-se o objetivo persuasivo do marketing: o blefe. O que faz do blefe na administração pública um ato ilegal. Vender o que não existe, e ainda comprometendo a honra de outro. No mínimo do mínino jurídico, dá Procom. E coletivo.

É bem provável que todo este desconforto administrativo tenha sua causa principal no entendimento do que seja democracia constitutiva. A democracia em que as potências do povo são quem constrói a cidade. A polis dos desejos coletivos, onde não há espaço para o fetichismo social e nem o blefe publicitário.

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